quinta-feira, 31 de julho de 2008

Síntese do Livro
HASEL, Gerhard F. Teologia do Novo Testamento. In: HASEL, Gerhard F. Teologia do Antigo e Novo Testamento: questões fundamentais no debate atual. São Paulo: Academia Cristã, 2007.

INTRODUÇÃO

Hasel inicia seu estudo sobre a teologia do NT (Novo Testamento), declarando a crise desta nos dias contemporâneos, não pela falta de interesse, mas pela falta de concordância em questões fundamentais. Cita teólogos que comprovam sua afirmação e exemplifica a crise com o debate atual sobre a função da mensagem de Jesus na teologia do NT.

CAPÍTULO 1: PRIMÓRDIOS E DESENVOLVIMENTO DA TEOLOGIA DO NT

Neste capítulo, o autor propõe um estudo sobre o desenvolvimento histórico da teologia do NT, pois, isso auxilia na compreensão do debate contemporâneo sobre a natureza, função, método e propósito dela. Apresenta a reforma como precursora da TB (Teologia Bíblica), mas esta só tem seu início, como disciplina, um século depois, ainda subserviente à dogmática.

Com o iluminismo, a TB é influenciada pelo racionalismo e se desenvolve o método “histórico-crítico”. Assim, a TB recebe um enfoque histórico-descritivo que culmina na ruptura com a sistemática, analisando o texto apenas em seu contexto antigo sem relacioná-lo com os dias modernos. Outros enfoques surgem. O método da “história das religiões” submete o texto ao princípio da religião universal. A escola “histórico-positiva” mescla a metodologia histórica com a abordagem dogmática. E o enfoque da “história da salvação” entende as Escrituras como proclamação da ação salvífica de Deus dentro da história, especialmente em Jesus Cristo.

Após a Primeira Guerra, há a descrença no naturalismo evolucionista e na possibilidade da “objetividade” científica. Surge a teologia dialética. Nesse contexto, emerge Bultmann, influenciado pela história das religiões e pela filosofia existencialista de Heidegger. A teologia do NT no meio católico se desenvolve no século XX. O enfoque da Heilsgeschichte reaparece no cenário recente da teologia do NT.

CAPÍTULO 2: METODOLOGIA NA TEOLOGIA DO NT

O capítulo dois delineia as metodologias atuais mais importantes na teologia do NT. A primeira é a abordagem temática, que pode tanto implicar no uso de temas dogmáticos para a abordagem do NT ou no estudo longitudinal de conceitos e temas inerentes ao NT.

A metodologia existencialista é fruto da influência heideggeriana na abordagem do NT. Trabalha-se tanto com os métodos críticos na reconstrução dos escritos do NT, como com a interpretação do significado dos textos para hoje. A teologia do NT é estudada antropologicamente.

O enfoque histórico busca a compreensão dos autores do NT no próprio contexto deles dentro da igreja primitiva. Trabalha-se na unidade existente entre os autores do NT e, também, entre a proclamação de Jesus e da Igreja.

A abordagem da história da salvação, ainda que existam diferenças entre seus principais expoentes, apresenta um entendimento da revelação bíblica como a descrição ou interpretação do agir salvífico divino na história. Os autores bíblicos apresentam Deus ativo na história, revelando-se e redimindo o homem.

Por fim, Hasel aborda aspectos fundamentais da teologia do NT. Na abordagem temática mostra a limitação na seletividade de temas no estudo do NT, pois o NT possui uma natureza variada de pensamento; aponta para a questão polêmica e indissolúvel se a fé cristã do NT remonta ao próprio Jesus ou se é criação da igreja primitiva; lança a questão se a empreitada da teologia do NT deve ser descritiva ou teológica; e, finalmente, fala sobre o debate da separação ou união entre “o que queria dizer” o texto e “o que quer dizer”.

CAPÍTULO 3: O CENTRO E A UNIDADE DA TEOLOGIA DO NT

Neste capítulo, Hasel levanta a questão da possibilidade de um centro do NT, no qual se perceba uma unidade teológcia entre os autores e escritos. Ao mesmo tempo, há a crítica do conteúdo que entende o centro do NT como o critério de “cânon dentro do cânon”. Alguns como Bultmann e Braun vêem na antropologia o centro pelo qual se deve estudar o NT. Acabam por enfatizar certos autores e escritos do NT e não dar importância para outros, de acordo com o critério da antropologia existencialista.

Cullmann vê na “história da salvação”, isto é, o agir redentor e revelador de Deus na história, como o centro unificador do NT. Outros centros são defendidos por diferentes autores, inclusive o Pacto, mas nenhum deles consegue tratar de forma abrangente a totalidade do NT.

Hasel apresenta uma discussão sobre a cristologia como o centro do NT e outras propostas de centros no meio católico e luterano. Conclui que a cristologia pode ser vista como o centro dinâmico e unificador do NT, mas não pode ser tida como uma estrutura para se escrever uma teologia do NT. No final do capítulo, reserva sua atenção para a discussão do “cânon dentro do cânon” e mostra que a diversidade de centros como normas na “crítica do conteúdo” do NT evidenciam fraquezas insuperáveis e arbitrariedade confessional.

CAPÍTULO 4: A RELAÇÃO DO NT E O AT

Nesta parte do livro, foca-se na questão de continuidade e descontinuidade entre o AT (Antigo Testamento) e o NT, e a direção que a leitura das Escrituras de ter, se do AT para o NT ou do NT para o AT, ou ambas. Marcião é um exemplo da descontinuidade e desunião entre o AT e NT, já que considerava haver diferenças fundamentais entre os dois. Tal pensamento teve sua continuidade em estudiosos que valorizaram o NT e desprezaram o AT, tratando este como dispensável ou não cristão. Do outro lado, alguns supervalorizaram o AT por enfatizarem um tema específico central como o “reino de Deus” ou visualizaram questões tratadas no AT que não se encontram no NT.

Hasel propõe padrões de unidade entre os Testamentos. O primeiro é a “conexão histórica”, já que ambos relatam a história contínua do povo de Deus e deste agindo de forma redentora. Há a “dependência escritural” em que o NT cita o AT como fundamento. Também, o “vocabulário” em que palavras chaves gregas do NT têm sua origem em palavras hebraicas desenvolvidas no AT.
Dentre outras idéias, a de promessa-cumprimento evidencia um relacionamento inerente entre os testamentos. Igualmente, a orientação para o futuro, em que o NT preenche lacunas do AT e, ainda, lança o olhar mais para frente, na plenitude do fim dos tempos.

CAPÍTULO 5: PROPOSTAS BÁSICAS PARA UMA TEOLOGIA DO NT

Por fim, Hasel lança propostas básicas para uma teologia do NT. Defende a teologia do NT como parte da TB e, por isso, deve ser vista como disciplina histórico-teológica, trabalhando ao lado da exegese e se submetendo à experiência da fé proclamada pelos autores bíblicos. Propõe o estudo de livros e blocos de escritos, separadamente, e, então, a percepção das ligações bem como as diferenças entre eles. Dentro disso, deve-se buscar mostrar a unidade da teologia do NT, destacando temas e conceitos longitudinais nos livros e as relações intrínsecas dos escritos do NT, analisando o todo, não um grupo de escritos escolhidos arbitrariamente.

Finalmente, por ser teologia do NT, ela está inserida no contexto maior do cânon bíblico e deve ser estudado em seu relacionamento básico de unidade com o AT.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Síntese do livro
HASEL, Gerhard F. Teologia do Antigo Testamento: questões fundamentais no debate atual. 2 ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1992.

INTRODUÇÃO

O autor do livro introduz sua discussão sobre a teologia do AT (Antigo Testamento) afirmando a continuidade de problemas e questões ainda sem solução na teologia do AT. Para fundamentar sua perspectiva cita trabalhos sobre TB (Teologia Bíblica) contemporâneos à sua obra que continuam a debater questões centrais da disciplina.

CAPÍTULO 1: ORIGENS E DESENVOLVIMENTO DA TEOLOGIA DO AT

Aqui, Hasel observa as tendências e direções dentro da história da teologia do AT. Ele inicia sua abordagem a partir da reforma, indicando-a como solo preparatório para a TB e o seu desenvolvimento, um século depois, mas ainda, subserviente à dogmática.

Dentro do iluminismo, o estudo da Bíblia é influenciado por concepções racionalistas e, conseqüentemente, anti-sobrenauralistas. É nesse ambiente que ocorre a cisão definitiva entre a teologia dogmática e a TB, quando esta assume um papel puramente histórico-crítico.

No século XIX, a TB passa a ser influenciada pelo método da história das religiões e por Hegel. Enfatiza-se a separação da teologia do AT e NT (Novo Testamento). Ocorre a reação conservadora com a escola da história da salvação e sua ênfase na inspiração e unidade dos testamentos. Pouco depois, a TB é eclipsada pelo método da história da religião, onde o AT é visto como uma coletânea de textos de diversas épocas que revelam a reflexão religiosa hebraica.

Nas décadas que se seguiram à primeira guerra mundial, houve um reavivamento da TB, movido por fatores como a perda da fé no naturalismo evolutivo e a reação à possibilidade da “objetividade” científica. Com isso, os problemas fundamentais da teologia do AT, como método, natureza e tema central, voltam a ser foco de debate.

CAPÍTULO 2: O PROBLEMA DA METODOLOGIA

Gerhard Hasel destaca cinco métodos do estudo da teologia do AT e suas respectivas dificuldades. O primeiro deles é o descritivo, o qual propõe que a tarefa do teólogo bíblico é simplesmente descritiva e histórica. Já, o método confessional baseia-se na distinção entre história da religião e a teologia do AT. A primeira é vista como uma disciplina imparcial e descritiva, e a outra como estudada pelo prisma da fé cristã.

Com W. Eichrodt surge o método dissecativo, que se aferra à história, todavia, busca entender a unidade estrutural da crença do AT por meio de um conceito. Une-se o princípio histórico com o sistemático. Por outro lado, o método diacrônico, estuda o AT como um mundo dos testemunhos de Israel acerca das palavras e feitos de Deus na história.

O último método apresentado é o da “Nova Teologia Bíblica”, proposto por Childs. Vê a TB como uma disciplina de cunho cristão, entendendo a tradição bíblico-canônica como autoritativa. Há a ênfase na relação recíproca entre o AT e o NT.

CAPÍTULO 3: A QUESTÃO DA HISTÓRIA, HISTÓRIA DA TRADIÇÃO E HISTÓRIA DA SALVAÇÃO

Aqui é tratada a questão suscitada por Gerhard von Rad quando diferencia a história dos testemunhos de Israel do método moderno histórico crítico, enfatizando o primeiro na tarefa da teologia do AT e dando margem para duas apreciações históricas na abordagem do AT. Franz Hesse, então, critica von Rad por sua duplicidade de visão histórica e propõe o método histórico-crítico como o que deve ser adotado ao se estudar a História de Salvação no AT, sem perceber, todavia, as premissas filosóficas que influenciam tal metodologia. Eichrodt defende uma reunificação das duas versões de história em prol da fidedignidade do testemunho bíblico.

W. Pannenberg critica o método histórico-crítico por ser influenciado pelo positivismo e neokantismo. Entende a história como uma realidade em seu todo e, assim, a história a salvação se torna idêntica à história universal. H. Kraus compreende que a teologia do AT só se perfaz quando entende o contexto textual do cânon como verdade histórica e busca explicá-la. Hasel termina, propondo a restauração da unidade original dos fatos do AT, sem uma dicotomia histórica, e a compreensão de seu devido significado.

CAPÍTULO 4: O CENTRO E A TEOLOGIA DO AT

G. Hasel parte do enfoque dado por Eichrodt de um centro unificador interno do AT. Este entendia a aliança como o núcleo sistematizador do AT. Vários outros temas propostos são expostos e seus defensores, mas com tanta diversidade de centros, o autor mostra que sistematizar o AT, cuja natureza é multiforme, com base em um centro, é insatisfatório e limita o estudo deste.

Neste sentido, cita von Rad e sua oposição ao centro do AT devido aos diversos atos separados de Deus na história narrada. Aqui von Rad acaba traindo sua proposta, ao entender que a teologia deuteronomista de história do julgamento e salvação de Deus se constitui o centro por meio do qual deve-se interpretar o AT. Porém, von Rad não apresenta uma justificativa legítima para seu centro e outros poderiam ser escolhidos, partindo do mesmo critério. Ainda, outros centros como o primeiro mandamento ou um núcleo duplo são apresentados, mas, também, possuindo deficiências de justificativa ou de limitação.

Hasel, por fim, propõe que um centro do AT é importante, mas como conceito dinâmico, não sistematizador. Entende ser este centro o próprio Deus que permeia todo o AT.

CAPÍTULO 5: A RELAÇÃO ENTRE OS TESTAMENTOS

Nesta parte, o livro aborda as questões de continuidade e descontinuidade entre o AT e NT. Apresenta, primeiramente, teólogos que não vêem relevância teológica na relação entre os testamentos por entenderem que a história de Israel no AT é de fracasso. Por outro lado, há aqueles que valorizam em demasia o AT, encarando o NT apenas como glossário daquele.

Hasel cita as propostas de conexão entre os testamentos mediante a tipologia ou o esquema de promessa e cumprimento, mas lembra que apesar da validade de ambas, não podem ser vistam como a única conexão. Além disso, o autor entende que o contexto amplo canônico e a relação de mão dupla entre os testamentos devem direcionar a tarefa do biblista, sem ignorar o contexto histórico do texto e sua relação dentro do livro em que se encontra.

Por fim, Hasel propõe uma abordagem multíplice da relação AT-NT, em conexões padrões como a história contínua do povo de Deus, citações, termos teológicos e temas principais correspondentes, a categorias de promessa e cumprimento, história da salvação, entre outros.

CAPÍTULO 6: SUGESTÕES ESSENCIAIS PARA SE ELABORAR UMA TEOLOGIA DO AT

Depois de abordar as questões fundamentais, Hasel faz propostas básicas para se realizar a teologia do AT. Primeiro, propõe que a TB é uma disciplina histórico-teológica, cabendo ao teólogo bíblico descrever o que o texto significou e explicar seu sentido para hoje. Por conseguinte, a metodologia deve ser histórico-teológico rejeitando a limitação dos pressupostos histórico-críticos. Ainda, compreende que a teologia do AT deve se preocupar com a teologia dos livros ou blocos de escritos do AT, sem uma fórmula limitadora. Mas, por outro lado, deve reunir e expor os principais temas longitudinais que afloram do AT.

Por último, propõe a demonstração da unidade da teologia do AT, relacionando suas teologias e temas. Também, a abordagem das conexões múltiplas do AT com o NT.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

A GRAÇA DE DEUS
Parte 2

AS CORES DA GRAÇA DE DEUS

A graça assume vários matizes na nossa salvação. Salvação e graça estão intimamente relacionadas, como causa e efeito: “Pela graça sois salvos” (Ef 2.8) e “A graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens” (Tt 2.11). Não temos mérito em nossa salvação:

Mas, há uma voz de graça principesca,
Que ressoa da Santa Palavra de Deus,
Ah! Pobre pecadores cativos,
Venham e confiem no Senhor!

Minh’alma obedece ao soberano chamado,
E corre até este alívio;
Quero crer em Tua promessa, Senhor,
Ó, ajuda em minha incredulidade.

À bendita fonte de Teu sangue,
Deus encarnado, corro,
Para lavar minh’alma de manchas escarlate,
E pecados da cor mais profunda.

Como verme vil, débil e impotente,
Em Tuas mãos me entrego;
Tu és o Senhor, minha justiça,
Meu Salvador, o meu tudo!

1 – A Graça como Fonte de Perdão dos Pecados

A doutrina da justificação nos ensina o perdão de nossos pecados e aceitação de nossa pessoa diante de Deus. Saímos da posição de um criminoso condenado que aguarda uma terrível sentença, para a de um herdeiro que espera uma herança grandiosa! “sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3.24). A nossa justificação não nos custa nada, mas teve um alto custo para Deus: “Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós...” (Rm 8.31, 32).

Em Efésios, Paulo dirá: “Nele temos a redenção por meio de seu sangue, o perdão dos pecados, de acordo com as riquezas da graça de Deus” (Ef 1.7). Essa maravilhosa graça, demonstrada na justificação, deve nos deixar maravilhados e agradecidos por tão grande demonstração de amor!

2 – A Graça como o Motivo do Plano da Salvação

Paulo descreve o plano de salvação de Deus em várias partes de suas cartas. De modo específico ele o faz no livro de Efésios 1.3 – 2.10, e atribui todo o plano salvador de Deus à graça dEle. Ali descreve a eleição e adoção como filhos (vv. 3-4), o perdão de pecados (v. 7), a iluminação para compreender Sua salvação (vv. 8-9), a presença do Espírito Santo em nós e a glorificação futura (vv. 13-14). Tudo isso, diz Paulo, é devido à graça de Deus e para o louvor da graça dEle (vv. 5-7, 12, 14). A regeneração tão belamente descrita em 2.1-10, quando Deus nos concede vida com Ele, um relacionamento real que não possuíamos antes, é fruto da graça de Deus (vv. 4-5, 8). A graça é o motor propulsor da salvação grandiosa que Deus opera em nossas vidas!

A RESPOSTA APROPRIADA

Dizem que a doutrina no Novo Testamento é graça e a ética é gratidão. Sem dúvida, as misericórdias de Deus, demonstradas por nós na eleição, justificação, santificação e glorificação, deve nos levar a oferecermos nossas vidas a Deus como sacrifício vivo, santo e agradável a Ele (Rm 12.1). Não há como querer permanecer no pecado para que a graça seja mais abundante, porque essa graça nos levou a morrer para o pecado e para a lei que nos escravizava, concedendo vida com Deus em uma vida justa (Rm 6.1ss). Tito 2.11-12 nos lembra que “a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que renegadas a impiedade e paixões mundanas, vivamos no presente século, sensata, justa e piedosamente”.

Isso, certamente, deve produzir em nós uma atitude de graça para com os outros irmãos, diante de suas falhas e erros: “Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus os perdoou em Cristo. Portanto, sejam imitadores de Deus como filhos amados, e vivam em amor, como também Cristo nos amou e se entregou por nós como oferta e sacrifício de aroma agradável a Deus” (Ef 4.32 – 5.2). E não apenas para com nossos irmãos em Cristo, mas, inclusive, com aqueles que ainda não conheceram a graça de Deus em suas vidas, lembrando do quanto Deus foi bondoso para conosco:

... estejam sempre prontos a fazer tudo que é bom, não caluniem ninguém, sejam pacíficos, amáveis e mostrem sempre verdadeira mansidão para com todos os homens.
Houve tempo em que nós também éramos insensatos e desobedientes, vivíamos enganados e escravizados por toda espécie de paixões e prazeres. Vivíamos na maldade, sendo detestáveis e odiando uns aos outros. Mas quando da parte de Deus, nosso Salvador, se manifestaram a bondade e o amor pelos homens, não por causa de atos de justiça por nós praticados, mas devido à sua misericórdia, Ele nos salvou pelo lavar regenerador e renovador do Espírito santo ... a fim de que, justificados por sua graça, nos tornemos seus herdeiros, tendo a esperança da vida eterna.

É por meio de nós, Igreja do Senhor Jesus, que o mundo conhecerá a graça de Deus!

CONCLUSÃO

Para mim, um dos homens que melhor captou o significado da graça na história da Igreja Cristã foi John Newton, autor do hino “Amazing Grace” (“Maravilhosa Graça”). Ex-comerciante de escravos negreiros, experimentou uma mudança total em seu viver num encontro com Cristo, quando enfrentava um naufrágio. No final de sua vida, quando perdia sua memória, disse o seguinte: “Minha memória já quase se foi, mas eu recordo duas coisas: Eu sou um grande pecador, Cristo é o meu grande salvador”. Em seu túmulo, encontramos o seguinte: “John Newton, uma vez um infiel e um libertino, um mercador de escravos na África, foi, pela misericórdia de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, perdoado e inspirado a pregar a mesma fé que ele tinha se esforçado muito por destruir”. Essa é a maravilhosa graça de Deus na vida de pecadores indignos como Newton e, também, como eu e você.

Nota: A maior parte do esboço e boa parte deste artigo sobre "A Graça de Deus" (Parte 1 e 2) foram adaptados de PACKER, J.I. El conocimiento del Dios Santo. Miami, FL, EUA: Vida. 2006. p. 166-178.

A GRAÇA DE DEUS
Parte 1

INTRODUÇÃO

A graça é exaltada pelos estudiosos cristãos como uma atividade pessoal de Deus em amor ao homem. As palavras cháris e agápe são consideradas como uso especificamente cristão, desconhecidas na ética e filosofia greco-romana, expressando uma espontânea bondade autodeterminada de Deus na direção de pecadores indignos.

Ao longo da história da igreja, a graça sempre teve seus defensores: Paulo contra os judaizantes, Agostinho contra Pelágio, os reformadores contra a teologia medieval católica, e assim por diante. Paulo podia dizer: “Pela graça de Deus sou o que sou” (1 Co 15.10), e “não rejeito/anulo a graça de Deus; pois se a justiça vem pela Lei, Cristo morreu inutilmente!” (Gl 2.21).

A prática cristã, todavia, demonstra uma apatia e indiferença para com a graça de Deus. Se você comenta sobre o último jogo de futebol, ou sobre os estudos e projetos no trabalho, sobre os programas da igreja, as pessoas demonstram um entusiasmo em falar disso. Mas, experimente propor uma reflexão sobre a graça numa conversa comum e, logo, perceberá que pouco as pessoas têm a pensar sobre isso e nenhum entusiasmo parece haver. Qual o motivo dessa total falta de consideração para com a sublime graça de Deus?

A FALTA DA GRAÇA EM NOSSO MUNDO

Algumas questões básicas esquecidas poderiam ser apresentadas para explicar a falta de significado da graça de Deus na vida dos crentes modernos:

1 – A Falta de Merecimento do Homem e A Justiça Retributiva de Deus

Os homens, hoje em dia, tendem a ter um conceito alto a respeito de si mesmos. Pensam que são bons, e têm dificuldade em levar a sério o fato de que há algo errado consigo. Geralmente, o mundo material tende a tomar mais importância que o moral e, assim, as pessoas se contentam em cultivar pequenas virtudes, achando que isso é suficiente para cobrir seus grandes defeitos e vícios. Esses últimos são tidos como comuns a todos os homens.

Por outro lado, o homem cria um deus a sua própria imagem que é complacente com os pecados humanos. Consciente de seus próprios erros, o homem passa admitir as barbáries da vida como algo normal, já que ele mesmo se habituou a dar corda solta a seus pecados. Critica-se aqueles que querem estabelecer um moral séria para sua própria vida, entendendo que não há princípios e conseqüências fixas diante das escolhas dos homens. Não enxergam a Deus como aquele que é “tão puro de olhos que não podes ver o mal” (Hc 1.13) e como o Juiz “que não deixa o pecado sem punição” (Nm 14.18). Portanto, não se vêem merecedores do justo castigo divino.

2 – A Impotência Espiritual do Homem e a Liberdade Soberana de Deus

O livro “Como ganhar amigos e influenciar pessoas” de Dale Carnegie é quase uma Bíblia moderna que ensina como colocar uma pessoa numa posição em que ela não consiga dizer não. Algo muito parecido os homens buscam fazer com Deus. Os pagãos de antigamente pensavam que alcançariam algum favor de Deus, ao oferecer presentes e sacrifícios; os pagãos modernos buscam fazer isso por meio da moralidade ou das atividades eclesiásticas. Crêem que Deus se torna escravo de nossas boas ações. Esquecem-se do que disse Toplady:

Não são as obras de minhas mãos
Que podem cumprir as demandas de Tua lei.
Ainda que meu céu não conhecesse descanso,
Ainda que as minhas lágrimas corressem interminavelmente,
Nada disso poderia expiar meu pecado,
Tu tens que me salvar, somente Tu.

Romanos 3.20 dá o veredicto de que nenhum ser humano será justificado diante Deus pelas obras da lei.

Deus é completamente livre, em nada depende de suas criaturas (Sl 50.8-13; At 17.25). Apenas Deus desfruta de tal liberdade. Nenhum ser humano, jamais experimentou a total liberdade de Deus. Assim, a salvação “não depende do desejo ou esforço humano, mas da misericórdia de Deus” (Rm 9.16). Por isso, Ele diz: “Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão” (Rm 9.15). Se somos salvos é simplesmente pela decisão graciosa de Deus.

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