segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O que Deus uniu, não separe o homem, pois o casamento espelha a Aliança de Deus conosco

John Piper

Ele respondeu: "Vocês não leram que, no princípio, o Criador 'os fez homem e mulher' e disse: 'Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne'? Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, ninguém separe". (Mateus 19.4-6)


Pois o Seu Criador é o Seu marido, o SENHOR dos exércitos é o Seu nome
(Isaías 54.5)

Jesus requer que maridos e esposas sejam fiéis aos seus casamentos. Ele não admite que isso seja fácil. Mas, ele ensina que isso é uma grande coisa porque o casamento é o trabalho do próprio Deus pelo qual Ele cria uma nova realidade de "uma carne" que ultrapassa a compreensão humana e retrata ao mundo em forma humana a união de aliança entre Deus e Seu povo. Casamento é sagrado além do que a maioria das pessoas imagina, porque isto é uma criação única de Deus, um dramático retrato de relação de Deus com Seu povo e uma demonstração da glória de Deus. Contra todas as atitudes que desprezam o casamento em nossos dias, a mensagem de Jesus é que o casamento é um grande trabalho de Deus e uma aliança sagrada quebrável apenas pela morte.

Jesus conhecia as Escrituras judaicas e viu o cumprimento delas em si mesmo e no Seu trabalho (Mt 5.17-18). Isso inclui a advertência do que Deus disse acerca de Seu relacionamento com Seu povo, quando retratou isso como casamento. Por exemplo, Deus disse: "Pois o Seu Criador é o Seu marido, o SENHOR dos exércitos é o Seu nome" (Is 54.5). E "'Naquele dia', Declara o SENHOR, 'você me chamará "meu marido" ... Eu me casarei com você para sempre; eu me casarei com você com justiça e retidão, com amor e compaixão. Eu me casarei com você com fidelidade, e você reconhecerá o SENHOR'" (Os 2.16, 19-20). E "Mais tarde, quando passei de novo por perto, olhei para você e vi que já tinha idade suficiente para amar; então, estendi a minha capa sobre você e cobri a sua nudez. Fiz um juramento e estabeleci uma aliança com você, palavra do Soberano, o SENHOR, e você se tornou minha" (Ez 16.8). "Mas, como a mulher que trai o marido, assim você tem sido infiel comigo, ó comunidade de Israel, declara o SENHOR" (Jr 3.20).

Com estas Escrituras como pano de fundo, é inevitável que Jesus veria a criação de Deus do casamento no começo como um meio de retratar Seu relacionamento com Seu povo. Assim Jesus lê Gênesis 2.24: "Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne". Quando Deus disse isso - e Jesus explicitamente diz que Deus disse isso, não apenas Moisés, o escritor de Gênesis (Mt 19.4-5) - Ele tinha em vista (como Ele tem tudo diante de si) que chamaria Seu povo Sua esposa e a si mesmo, seu marido. Portanto, a união entre um homem e uma mulher é unicamente criação de Deus com o objetivo de espelhar o relacionamento de Si mesmo com Seu povo.

Jesus é claro acerca do casamento como criação de Deus. Ele não nos deixa imaginar isso fora das Escrituras, e não limita a Criação ao primeiro casamento entre Adão e Eva. Ele diz: "Portanto, o que Deus uniu, não separe o homem (Mt 19.6). Deus, não o homem, é o Criador decisivo da união matrimonial. O ponto é que cada casamento é "unido" desta forma por Deus, porque Ele nos diz para não "separar", e o único casamento que nós podemos separar é o que nós unimos. Assim, cada casamento - cada casamento particular, não apenas o conceito de casamento ou a ordenança geral do casamento, ou o primeiro casamento - é trabalho de Deus. Deus agiu na união de cada esposo e esposa. Estes dois são uma carne pelo trabalho de Deus, não apenas por sua escolha.

E como uma união criada por Deus de "uma só carne", este homem e esta mulher estão numa aliança análoga à aliança de Deus com Israel. Seu casamento representa o relacioamento de Deus com Seu povo. Por meio do casamento Deus enche a terra com (geralmente despercebidos) testemunhos do relacionamento entre Ele e Seu povo da Aliança. Esta é uma das principais razões porque o divórcio e o recasamento são tão sérios. Eles mentem acerca do relacionamento de Deus com Seu povo. Deus nunca divorcia de Sua esposa e se casa com outra. Houve separações e muita dor, mas ele sempre a tomou de volta. O profeta Oséias é um testemunho do amor radical de Deus pela sua inconstante esposa. Deus nunca abandona sua esposa. E quando ele a deixa de lado por causa de sua idolatria adúltera, ele vai atrás dela no tempo adequado. Isso é o que o casamento foi designado para retratar: o invencível e gracioso comprometimento de Deus ao Seu povo da aliança - sua esposa.

Traduzido e Adaptado por Tiago Abdalla de John Piper. What Jesus demands from the world. p. 301-303.

sábado, 6 de setembro de 2008

O PODER DO REINO E A GLÓRIA DO REI
Parte 3

9 Enquanto desciam do monte, Jesus lhes ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do homem tivesse ressuscitado dos mortos. 10 Eles guardaram o assunto apenas entre si, discutindo o que significaria “ressuscitar dos mortos”.11 E lhe perguntaram: “Por que os mestres da lei dizem que é necessário que Elias venha primeiro?”12 Jesus respondeu: “De fato, Elias vem primeiro e restaura todas as coisas. Então, por que está escrito que énecessário que o Filho do homem sofra muito e seja rejeitado com desprezo? 13 Mas eu lhes digo: Elias já veio, e fizeram com ele tudo o que quiseram, como está escrito a seu respeito”.

A HUMILHAÇÃO DO REI COMO CAMINHO PARA SUA GLÓRIA – vv. 9-13

Quando a cena gloriosa da revelação de Jesus como o Filho de Deus se acaba, encontramo-lo juntamente com os três discípulos descendo do monte. Nessa descida, Jesus os adverte para que não contassem aos outros o que viram lá. A razão básica disso é semelhante a das outras situações nas quais também alerta para não anunciarem os seus milagres. Pois, sabia que se as pessoas ouvissem deles isso, facilmente o enxergariam como o Messias glorioso que instauraria seu reino naquele momento e libertaria Israel do poder de Roma. Antes da glória era necessário o caminho da cruz. Por isso, apenas depois da ressurreição, de sua rejeição e crucificação em favor dos pecados dos homens, aí sim faria sentido proclamar o Cristo que vem para reinar.

No ministério de Jesus vemos o quadro tanto do Servo como do Rei, pois não existe coroa sem a cruz. Isso assusta os discípulos que ainda não haviam entendido o que ele dissera alguns versículos, antes, sobre seu sofrimento e rejeição (Mc 8.31-32, 34-38). Por isso, mesmo decididos a obedecê-lo, guardando consigo aquilo que viram no monte, começam a indagar o significado de “ressuscitar dos mortos”. Já que ressurreição pressupõe morte e não esperavam um Messias morto. A dúvida venceu seu temor e ousaram perguntar: “Por que os mestres da Lei dizem ser necessário Elias vir primeiro?”. A idéia por trás da pergunta é esclarecida por Jesus em sua resposta. Se Elias viria e restauraria tudo (9.12), convertendo os corações das pessoas e preparando o caminho para Cristo (cf. Ml 3.1 e 4.45-6), logo Jesus não seria rejeitado (Mc 8.31), mas aceito como rei pelo povo.

Jesus não anula o entendimento dos textos de Malaquias pelos professores da Lei, mas alerta que há antes da glória o sofrimento e rejeição. Os doutores da época enxergavam apenas o reino de glória futuro, mas não conseguiam perceber o sacrifício que o precedia. Pois, a própria Escritura previa o sofrimento do Messias morrendo pelos homens, o Servo Sofredor pregado por Isaías (Is 53.3ss; cf. Sl 22.1-12).

Do mesmo modo Elias em seu ministério não experimenta muitos momentos de conversão do povo. Ao contrário, é rejeitado e perseguido pelo rei e rainha da época (1 Rs 19.1ss). A narrativa da morte de João Batista fornece um paralelo muito forte com o ministério de Elias e os próprios discípulos entendem que Jesus estava se referindo a João Batista (Mt 17.13; cf. Mt 11.14). João, também, experimenta a oposição do poder de Herodes, influenciado por sua mulher ilegítima Herodias, e acaba morto por isso (Mc 6.16-29). Assim, Jesus podia dizer que Elias veio, já que João ministrou no poder de Elias (Lc 1.17), e fizeram com ele todo o mal que quiseram, da mesma forma como perseguiram o profeta anterior.

Esse texto, assim como o anterior em que o tomar a cruz está em pauta, ressalta o custo da fidelidade a Deus e do sofrimento como parte da vida de seus servos. O caminho de Cristo não era apenas caminho de glória, mas também, de dor, rejeição, oposição como parte do ministério que recebera do Pai. O cristianismo moderno quer reinar acima do próprio Deus e gozar de uma vida próspera e confortável, sem perceber que é necessário sofrer por Cristo.

Paulo já dizia que “todos os que desejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2 Tm 3.12). As dificuldades fazem parte de nossa jornada cristã. É por meio de tais dificuldades que percebemos nossa necessidade e dependência de Deus (2 Co 12.7-10). Não nos identificamos apenas com a ressurreição poderosa de Cristo, mas também, com seus sofrimentos e morte (Fp 3.10-11).

Portanto, quando:

  • Sofremos oposição e ridicularização em casa por causa de nossa fé;
  • Somos deixados de lado no trabalho por não concordar com ações erradas ou na escola, por não participarmos de conversas maledicentes;
  • Somos prejudicados injustamente por alguma autoridade, já que não abrimos espaço para a corrupção;
Lembramos que isso é parte do discipulado. Jesus não nos prometeu um mar de rosas enquanto o seguimos nesta vida, mas garantiu Sua presença motivadora e confortadora em meio às lutas, perseguições e dificuldades.

Nossa sociedade ocidental nos ensina a amar o mundo, em lugar de viver nEle para a glória de Deus. Muitas pessoas estão atrás de um carro novo, uma casa confortável, uma bolsa de estudos no exterior, férias em lugares lindos ou reconhecimento profissional. Seguir a Cristo não é mais a totalidade de nosso viver, mas, simplesmente, um dentre muitos outros compromissos, sonhos e responsabilidades que assumimos e buscamos.
Concluo com uma doxologia poética de Israel Belo de Azevedo que reflete bem nosso cristianismo que aprendeu a gostar demais deste mundo:

Depois
(Lucas 9.57-62)

Não fosse
a mesa cheia de papéis
a praia plena de ondas
a agenda marcada hora a hora
o prato exalando sabor

Tivesse ele
uma caverna como a raposa
um ninho como o pássaro
uma mochila pelo menos

Hoje mesmo eu iria atrás dele.
O PODER DO REINO E A GLÓRIA DO REI
Parte 2

5 Então Pedro disse a Jesus: “Mestre, é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias”. 6 Ele não sabia o que dizer, pois estavam apavorados.7 A seguir apareceu uma nuvem e os envolveu, e dela saiu uma voz, que disse: “Este é o meu Filho amado. Ouçam-no!
8 Repentinamente, quando olharam ao redor, não viram mais ninguém, a não ser Jesus.

A SUPREMACIA DO REI CONFIRMADA POR DEUS – vv. 5-8

Pedro, mais uma vez, entra em cena. Havia confessado a identidade Salvadora e Divina de Jesus com uma percepção dada pelo próprio Deus, recebendo assim, o louvor do Mestre (Mc 8.29; cf. Mt 16.16-17). Porém, logo depois, não admite a necessidade da morte de Jesus como o Salvador e é repreendido por não compreender e aceitar as coisas de Deus (Mc 8.32-33). Aqui, os três discípulos se encontram assustados. Foram tomados pelo medo com a cena gloriosa que presenciaram.

Mesmo sem saber o que dizer, Pedro propõe a Jesus: “Ah! Esse momento é especial demais! Vamos fazer três cabanas, uma para você, outra para Moisés e uma outra para Elias”. Assim, ele coloca todos os três em pé de igualdade. Jesus é mais um grande servo de Deus como foram Moisés e Elias. Mas, algo acontece. Do mesmo modo como Deus manifestou a Sua presença no livro de Êxodo, sobre o Monte Sinai e no tabernáculo, por meio de uma nuvem, assim ocorre nesta história (Êx 19.16; 24.15-18; 40.34-38). A nuvem vem e envolve a todos, de modo que os discípulos mal conseguem enxergar.

O próprio Deus fala da nuvem: “Este é o meu Filho amado. Ouçam-no”. Aqui há uma lembrança do que ocorrera quando Jesus fora batizado no Jordão, quando Deus declarou Jesus como o Seu o Seu Filho amado. Esta afirmação fazia parte de um Salmo Messiânico (Sl 2.7), que anunciava o reino futuro do rei de Israel estendendo seu governo sobre todas as nações da Terra. Portanto, a declaração de Deus quer ressaltar aos discípulos, o caráter Supremo de Jesus que deve ser ouvido acima de Moisés e Elias. “... Ouçam-no” (v. 7), evoca o texto Deuterômio 18.15, o qual predizia a vinda do profeta que, assim como Moisés, revelaria a vontade e caráter de Deus. Pedro reconhecerá Jesus como o cumprimento desta profecia em Atos 3.22.

Jesus é Rei e Sua palavra deve ser obedecida. Ele deve ser ouvido acima de qualquer outro grande homem de Deus da história. A supremacia de Jesus é ainda mais nítida quando os discípulos olham ao redor e encontram apenas Jesus. Enquanto Elias e Moisés se vão, Jesus permanece. Ele é o ápice e cumprimento da revelação de Deus proclamada pelos santos do passado. Ninguém mais pode ser comparado a Ele.

Há alguém mais que recebe de nós o respeito e atenção no mesmo nível que Cristo em nossas vidas? Existe alguém cuja palavra tem quase autoridade divina para nós, mesmo diante de situações que quebram mandamentos ou vão contra a sabedoria de Deus?

Será que há objetos, afazeres ou pessoas que competem com nossa lealdade exclusiva a Cristo? O que nos interessa mais: agradar a Cristo ou aos amigos? O sucesso no trabalho ou o tempo com Cristo e Seu Corpo? O tempo na Internet ou o momento a sós com nosso Senhor?


O PODER DO REINO E A GLÓRIA DO REI
Marcos 9.1-13

INTRODUÇÃO

Carros que sobrevivem às chamas do fogo, homens que conseguem dar 50 golpes consecutivos no ar, extraterrestres que invadem o planeta terra com seus discos voadores, os X-Men com seus super-poderes, tudo isso é muito natural para uma geração acostumada com a tela da TV e do computador. Aprendemos a conviver entre o mundo da realidade e o da ficção. Sabemos distinguir entre algo que ocorre no mundo natural e kantiano, daquilo que acontece por trás das telas. As duas coisas não se misturam.

Agora, imagine um judeu do primeiro século que nem sequer sabia o que era televisão, quanto mais aquilo que chamamos de ficção científica. De repente, no alto de um monte, se depara com uma cena inusitada. O seu mestre, um palestino da cidade de Nazaré, literalmente se transforma num ser glorioso e majestoso diante dele, de um modo que nunca o tinha visto antes. Qual seria a sua reação? Qual seria a nossa reação se presenciássemos essa realidade?

Tal cena, Marcos nos apresenta no começo do capítulo 9 de seu Evangelho, quando Jesus, o Deus-homem, revela sua glória oculta a três de seus discípulos.

TEXTO

1 E lhes disse: “Garanto-lhes que alguns dos que aqui estão de modo nenhum experimentarão a morte, antes de verem o Reino de Deus vindo com poder”.
2 Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e os levou a um alto monte, onde ficaram a sós. Ali ele foi transfigurado diante deles. 3 Suas roupas se tornaram brancas, de um branco resplandecente, como nenhum lavandeiro no mundo seria capaz de branqueá-las. 4 E apareceram diante deles Elias e Moisés, os quais conversavam com Jesus.
5 Então Pedro disse a Jesus: “Mestre, é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias”. 6 Ele não sabia o que dizer, pois estavam apavorados.
7 A seguir apareceu uma nuvem e os envolveu, e dela saiu uma voz, que disse: “Este é o meu Filho amado.
Ouçam-no!
8 Repentinamente, quando olharam ao redor, não viram mais ninguém, a não ser Jesus.
9 Enquanto desciam do monte, Jesus lhes ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do homem tivesse ressuscitado dos mortos. 10 Eles guardaram o assunto apenas entre si, discutindo o que significaria “ressuscitar dos mortos”.
11 E lhe perguntaram: “Por que os mestres da lei dizem que é necessário que Elias venha primeiro?”
12 Jesus respondeu: “De fato, Elias vem primeiro e restaura todas as coisas. Então, por que está escrito que é
necessário que o Filho do homem sofra muito e seja rejeitado com desprezo? 13 Mas eu lhes digo: Elias já veio, e fizeram com ele tudo o que quiseram, como está escrito a seu respeito”.

O PODER DO REINO E A MAJESTADE DO REI – vv. 1-4

O versículo 1 do capítulo 9, sem dúvida, precisa ser lido juntamente com o final do capítulo 8. Após falar sobre o alto preço de segui-lo e das sérias conseqüências de se envergonhar dele e optar por uma vida fácil neste mundo quando chegasse o dia da Sua glória (8.34-38), Jesus traz uma nota de encorajamento para aqueles que se dispusessem a tomar sua cruz num discipulado fiel (9.1). A vinda do Filho do Homem em Sua glória, marca na Bíblia o estabelecimento do grandioso reino de Deus (cf. Dn 7.13-14, 27; Mc 13.26; 14.62). Por isso, há uma continuidade do discurso no final de Marcos 8 e no começo do capítulo 9. A vinda do Messias, Jesus, o Cristo, seria um momento de juízo sobre aqueles que o rejeitassem (8.38), mas, também, do desfrute da glória e do poder de Deus dos que, assim como ele, escolhessem o caminho árduo e de humilhação em prol do reino de Deus (9.1).

Alguns presentes no meio da multidão teriam um vislumbre do reino de Deus em seu poder, antes de passarem pela morte. A seqüência do versículo 2 em diante, é, certamente, o cumprimento da afirmação de Jesus no verso 1. Isso porque todos os outros dois evangelistas ligam a afirmação semelhante “ ...alguns do que aqui estão, de modo nenhum experimentarão a morte, antes de verem o Reino de Deus vindo com poder”, com o evento da transfiguração no Monte (cf. Mt 16.28 e 17.1ss; Lc 9.27ss). Além disso, o próprio Pedro que foi testemunha da transfiguração nesses relatos, diz em sua carta:

De fato, não seguimos fábulas engenhosamente inventadas, quando lhe falamos a respeito do poder e da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo; ao contrário, nós fomos testemunhas oculares de sua majestade. Ele recebeu honra e glória da parte de Deus Pai, quando da suprema glória lhe foi dirigida a voz que disse: “Este é o meu filho amado, de quem me agrado”. Nós mesmo ouvimos essa voz vinda dos céus, quando estávamos com ele no monte santo (2 Pe 1.16-18).

Muito do que encontramos no evento forma um paralelo interessante com o livro do Êxodo. Jesus é apresentado não apenas como o Segundo Moisés, mas como aquele que o supera e, portanto, é maior do que ele. A glória do Rei e o poder do reino são revelados no Monte, e isso ocorre seis dias depois (9.2), assim como em Êxodo, Moisés aguarda seis dias para se encontrar com Deus e Sua glória no Monte Sinai (Êx 24.15-16). Jesus se transforma em um aspecto glorioso no Monte e os discípulos ficam tomados pelo pavor (9.3, 6), da mesma forma Moisés tem seu rosto resplandecente devido à presença de Deus, no Sinai e todos temem se aproximar dEle (Êx 34.29-30).

Apenas uma parte dos discípulos está com Jesus, o mesmo grupo que esteve com ele em outras ocasiões particulares (cf. 5.37; 14.33). Quando se encontram no monte, algo surpreendente ocorre, Jesus é transformado e manifesta a Sua glória diante deles, glória que até então, estava oculta no Jesus de Nazaré (Jo 17.2, 5; Fp 2.5-8). A descrição de Marcos aponta para a transformação das vestes de Jesus de um modo resplandecente e glorioso. Vestes brancas estão geralmente associadas a seres celestiais nos evangelhos (Mt 28.3; Mc 16.5; Jo 20.12; cf. At 1.11). Assim a descrição é de uma cena de majestade sobrenatural. Mateus e Lucas falam da transformação no rosto de Jesus como o resplendor do sol (Mt 17.2; Lc 9.29).

Se não bastasse toda a glória manifesta pelo próprio Jesus, dois grandes homens da história de Israel aparecem, ninguém menos que Moisés e Elias. Moisés já havia anunciado a vinda de alguém que falaria em nome de Deus como ele (Dt 18.15ss), e toda a situação lembrava a história da libertação e do Sinai. Além dele, Elias estava presente, já que fora retratado como o mensageiro que prepararia a vinda do Messias (Ml 3.1; 4.5-6). A presença desses sevos de Deus autenticava o ministério divino de Jesus e Sua grandeza. Ele é o cumprimento daquilo que a Lei (Moisés) e os profetas (Elias, entre outros) haviam anunciado. A conversa entre eles se centralizava na sua morte em Jerusalém (Lc 9.31).

Jesus, portanto, é retratado como o Rei Majestoso, o Ser Supremo que revela aos discípulos um vislumbre de Sua glória e poder. Assim como viram esta rápida manifestação de Sua Majestade, os discípulos ali presentes podiam ter certeza de Sua vinda futura como Rei. Jesus não era mais um homem comum, mas sim, o Filho do Homem, o Ser celestial que recebe de Deus toda glória e poder para reinar sobre todos (Dn 7.13-14).

Isso, de certa forma, incentivaria os leitores de Marcos que começavam a enfrentar uma forte oposição por parte da sociedade e logo culminaria na perseguição oficial por parte do Império. Acima de Nero, havia um rei que era digno da total lealdade deles, a que custo fosse, pois Sua Majestade ultrapassa de longe todo o poder de Roma.

Qual o significado da Pessoa de Jesus em Sua vida? Você o encara como Rei e Senhor, como aquele que é digno de toda a nossa devoção? O que dirige sua agenda: os interesses do reino de Cristo ou seus interesses e ambições particulares?

Jesus deve ser o Senhor supremo sobre toda a nossa vida, em seus mínimos detalhes. Ele deve guiar a maneira como vivemos em nossa intimidade, quando ninguém mais está conosco; deve até mesmo subjugar nossos pensamentos de ódio ou de lascívia (Mt 5.21-30). Nas nossas relações de trabalho ou com amigos, Ele precisa guiar as nossas atitudes e ações. O reino de Cristo só será expandido às pessoas que estão ao nosso redor, quando a nossa vida experimentar e demonstrar a Soberania dEle diante de outros (Mt 5.13-16).

Nossa responsabilidade de fazer discípulos, também, reflete o desejo de que o reino de Cristo conquiste outros súditos leais. É exatamente porque Ele reina (Mt 28.18) que somos comissionados a chamar outros a crerem em Cristo e assumirem a vida do discipulado em obediência a Ele (Mt 28.19-20). Uma igreja que não discipula, isto é, não se preocupa com Sua missão de proclamar o evangelho e edificar vidas, mostra que Cristo deixou de ser o Senhor dela.

Marcadores