Desde que comecei a ler o livro Vida em Comunhão (Editora Sinodal) de Dietrich Bonhoeffer, tenho sido grandemente impactado pela reflexão profunda deste teólogo alemão que experimentou de forma muita intensa a graça da comunhão, especialmente quando cuidou do Seminário de Pregadores da Igreja Confessante em Finkenwalde. Destaquei alguns trechos do livro que nos desafiam a valorizar o presente da vida com nossos irmãos de fé.
"Nossa comunhão consiste unicamente no que Cristo fez por nós dois. E isso não é assim apenas no início, como se, no decorrer do tempo, algo fosse acrescentado a essa comunhão, mas assim será para todo o futuro e toda a eternidade. Só tenho e terei comunhão com outra pessoa através de Jesus Cristo. Quanto mais autêntica e profunda for nossa comunhão, tanto mais tudo o resto ficará em segundo plano, com tanto mais clareza e pureza Jesus Cristo, única e exclusivamente ele, e sua obra se tornarão vivos entre nós. Temos uns aos outros apenas através de Cristo, mas através de Cristo de fato temos uns aos outros, inteiramente para toda eternidade".
"Deus odeia fantasias, pois elas tornam a pessoa orgulhosa e pretenciosa. Quem idealiza uma imagem de comunhão exige de Deus, das outras pessoas e de si mesmo que ela se torne realidade. Entra na comunhão cristã colocando exigências, estabelece uma lei própria e a partir dela julga os irmãos e até mesmo Deus ... Age como se precisasse criar primeiro a comunhão cristã, como se seu ideal fosse unir as pessoas. Tudo o que não acontece de acordo com sua vontade é considerado como fracasso. Lá onde ela vê seu ideal ser destruído, ela vê a comunhão se quebrando. Assim, primeiro ela se torna acusadora de irmãos, então de Deus e, por fim, acusadora desesperada de si mesma. Não entramos na comunhão com outros crentes colocando exigências, mas com gratidão e como agraciados, porque Deus já colocou o único fundamento de nossa comunhão, porque há muito tempo, mesmo antes de entrarmos na comunhão com outros cristãos, Deus já nos uniu com eles num só corpo em Jesus Cristo. Agradecemos a Deus pelo que fez por nós. Agradecemos a Deus por ele nos dar irmãos que que vivam sob o seu chamado, seu perdão e sua promessa. Não nos queixamos por aquilo que Deus não nos dá, mas agradecemos pelo que ele nos dá diariamente. Por acaso não basta o que nos é dado: irmãos que, em pecado e tribulação, ficam ao nosso lado sob sua bênção e graça? ... Mesmo quando pecado e desentendimento pesam sobre a comunhão, o irmão pecador não permanece sendo o irmão junto do qual estou colocado sob a palavra de Cristo? Seu pecado não se torna um motivo para renovadamente dar graças por podermos ambos viver sob o amor perdoador de Deus em Jesus Cristo?"
"Na comunhão cristã acontece o mesmo com o agradecimento nas outras áreas da vida cristã. Apenas quem agradece pelas pequenas coisas, recebe também as grandes. Nós impedimos Deus de nos presentear com as grandes dádivas espirituais que ele reserva para nós, porque não lhe agradecemos pelas dádivas cotidianas. Achamos que não devemos nos dar por satisfeitos com a pequena medida de reconhecimento espiritual, experiência, e amor que nos foi proporcionada, e que devemos sempre aspirar aos dons supremos ... Oramos pelas grandes coisas e esquecemos de agradecer pelas pequenas dádivas do dia-a-dia (que na verdade não são tão pequenas assim!). Mas como Deus pode confiar coisas grandes a quem não aceita com gratidão as pequenas coisas de sua mão?"
"Por isso, quem pode até este momento viver em comunhão com outros irmãos, que louve a graça de Deus de joelhos e reconheça: é graça, nada mais do que graça, o fato de que hoje ainda podemos viver em comunhão com irmãos cristãos"