O ENTENDIMENTO ERRADO DO PAPEL DE JESUS
Marcos 8.31-33
Quando os discípulos percebem a verdadeira identidade de Jesus, o Deus Salvador, Ele, então, passa a falar com liberdade e clareza sobre o propósito maior de seu ministério. “É necessário” (grego: dei), uma expressão grega para descrever o destino como algo inescapável da qual nem os homens nem os deuses poderiam fugir. Porém, no Novo Testamento, passa a ganhar um significado novo. Ali o verbo é usado para indicar o cumprimento de Deus às suas promessas feitas no Antigo Testamento (cf. Mt 26.54; Lc 24.25-27). Em cumprimento ao papel de Servo Sofredor descrito em Isaías 53, Jesus deveria ser rejeitado e morto pelas próprias autoridades judaicas. Os líderes do sinédrio o condenariam à morte (Mc 14.63-64; 15.1-15). Mas, ao terceiro dia Ele ressuscitaria evidenciando seu poder sobre a morte e sua autoridade para justificar aqueles que crêem nEle (Cf. Rm 4.24-25).
Ao ouvir Jesus falando de rejeição e morte, Pedro chama Jesus de canto e o repreende, como alguém superior que compreende melhor o que Jesus deveria fazer. Essa história de sofrimento e morte era muito estranha para Pedro e para os judeus de sua época. Todos esperavam um Messias como um libertador político, não como alguém fraco que pudesse ser dominado pelas autoridades e morto. Esse Cristo não cabia no retrato de Pedro assim como Isaías 53 não era levado a sério o suficiente pelos judeus contemporâneos.
Essa evasiva de seu ministério de sofrimento e morte para a qual Pedro tentou dissuadi-lo, Jesus não aceita e reconhece na proposta algo muito familiar daquilo que enfrentara no deserto diante de Satanás (Mt 4.1-11). A proposta era a mesma: tome posse de Seu reino sem assumir seu papel de Servo (Mc 10.45; Lc 22.26-27; cf. Mt 4.8-9). Não é possível um Cristo Rei e Senhor sobre tudo e todos, sem antes um Cristo que se entrega à cruz e abre mão da própria vida em favor de muitos (Fp 2.5-10; cf. Lc 22.26-30). O Filho do homem glorioso de Daniel 7.13-14, expressão que Jesus sempre usava em relação a si mesmo, como vemos no texto, precisava, também, passar pela traição e rejeição (Mc 9.12; 14.21). Nada deveria impedir Jesus de cumprir sua missão, por isso, Ele manda Pedro sair da frente de seu caminho com tal proposta (essa é a idéia do texto grego: “Vá para trás de mim, Satanás”).
Um Jesus que alcança a glória antes da cruz é um Cristo imaginado pelo homem, não o Salvador que cumpre os propósitos redentores de Deus. Foi da vontade do Pai que Jesus bebesse o cálice da cruz, a fim de que tivéssemos vida por meio da morte dEle.
Ao reconhecermos Jesus como nosso Deus e Senhor, precisamos entender que a cruz faz parte de nosso discipulado. O que tem se pregado por aí é um evangelho que não envolve a cruz, e sim, o evangelho do conforto.
Nos versículos seguintes Jesus deixará bem claro que seguí-lo implica em abrir mão de nossos sonhos, projetos, poder e glória, a fim de buscarmos a glória dEle e a proclamação do evangelho (cf. Mc 8.34-38). É claro que um dia viveremos e reinaremos com Cristo, mas antes disso, precisamos perseverar e morrer juntamente com Ele (2 Tm 2.11-12). É por isso que Paulo poderia dizer: “Quero conhecer Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua morte para, de alguma forma, alcançar a ressurreição dentre os mortos” (Fp 3.10-11). A nossa identificação com Jesus ocorre não somente em Sua glória, mas também, em seus sofrimentos. Isso só é possível quando entendermos o sentido de “... considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por quem perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar Cristo” (Fp 3.8).
“O evangelho é um chamado para o auto-sacrifício e não para a auto-realização” (John MacArthur).
Nenhum comentário:
Postar um comentário