sexta-feira, 20 de junho de 2008

O DEUS IMUTÁVEL - Parte 1

INTRODUÇÃO

O século XX assistiu ao nascimento de uma teologia conhecida como “Teologia do Processo”. Ela afirmava que Deus, ao se relacionar com sua criação, encontra-se em processo de mutação, aperfeiçoando seu caráter à medida que se envolve com suas criaturas. Para tal teologia, um deus verdadeiramente relacional que interage com pessoas dentro do tempo e do espaço, necessariamente irá se desenvolver enquanto ser, assim como as pessoas amadurecem e mudam no contato umas com as outras. Esse era o deus mutável da “Teologia do Processo”.

Em anos mais recentes, na década de 80, Clark Pinnock, escreveu um artigo intitulado “God limits his knowledge”[Deus limita seu conhecimento], dando início àquilo que se difundiu sorrateiramente dentro da teologia evangélica, conhecido como “Open Theism”, em português “Teísmo Aberto”.1 O Teísmo Aberto não atacou diretamente a imutabilidade de Deus, e sim, a sua onisciência. Todavia, como conseqüência de tal redefinição do conhecimento de Deus, isso, conseqüentemente, afetou verdades das Escrituras que se relacionam intimamente com a imutabilidade do caráter dEle. Já que Deus não pode conhecer o futuro, apenas a realidade passada e presente, logo, a cada ação humana, Ele adapta seus planos. Isto é, o plano de Deus para a humanidade está em constante mutação, dependendo do modo como suas criaturas agem e reagem.

O teísmo aberto tem penetrado na igreja evangélica brasileira com um outro nome, “Teologia Relacional”. O rótulo mudou, mas a essência da praga é a mesma. Com isso, é urgente nos voltarmos para as Escrituras e compreendermos o que elas afirmam acerca do caráter imutável de Deus e, também, de seus planos, propósitos e ações que são coerentes com Seu ser.

DEUS É IMUTÁVEL EM SEU SER E EXISTÊNCIA

Como bem declarou Arthur W. Pink:

[A imutabilidade] é uma das excelências que distinguem o Criador das criaturas. Deus é o mesmo perpetuamente, não está sujeito à mudança alguma no seu ser, atributos ou determinações.
Por tal atributo, Deus é comparado a uma rocha (Dt 32.4) que permanece imóvel quando o oceano que a rodeia flutua continuamente. Ainda que todas as criaturas estejam sujeitas à mudança, Deus é imutável. Ele não conhece mudança alguma, porque não tem início nem fim, Deus é desde sempre.
Em primeiro lugar, Deus é imutável em sua essência. Sua natureza e ser são infinitos, portanto, não está sujeito a mudança alguma. Nunca houve um tempo em que ele não existisse; nunca haverá um dia em que Ele deixe de existir. Deus nunca evoluiu, cresceu ou melhorou. O que é hoje, tem sido sempre e sempre será. “Eu, o SENHOR, não mudo” (Ml 3.6).2

A Bíblia não se cansa de nos lembrar que Deus é sempre o mesmo. Deus não pode melhorar, nem piorar. É exatamente por ser perfeito que necessariamente é imutável. Ele não amadurece em seu Ser nem se desenvolve. Depois de mostrar aos irmãos de comunidades judaicas dispersas pelo império romano, que Deus não tenta a ninguém com o mal nem pode ser tentado, Tiago faz uma afirmação acerca do caráter bondoso imutável de Deus: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes” (Tg 1.17). O autor da carta apóia sua confiança de que Deus de modo algum pode estar envolvido com o mal, exatamente pelo caráter bom e imutável dEle. Se Deus é bom e imutável, logo não pode praticar o mal nem ser atraído por este, pois se o fizesse, deixaria de ser bom ou precisaria ser imutavelmente mau. Deus não passou a ser bondoso, nem deixará de o ser, Ele é Bom porque é Imutável.

A mesma verdade acerca da imutabilidade de Deus levou o profeta Malaquias a explicar aos seus contemporâneos o único motivo pelo qual ainda não haviam sido destruídos. O povo vinha quebrando a lei de Deus constantemente: casamento com mulheres que não faziam parte do povo da aliança, animais imperfeitos eram oferecidos para sacrificar, sacerdotes negligentes, infidelidade matrimonial, tudo isso provocava a ira justa de Deus contra a nação de Judá. Então, por que Deus não aniquilou aquele povo sempre rebelde (Ml 3.7)? Porque “Eu, o SENHOR, não mudo. Por isso vocês, descendentes de Jacó, não foram destruídos”.

Deus havia feito uma aliança com Abraão, Isaque e Jacó, os patriarcas do povo de Israel, que é constantemente reafirmada no livro de Gênesis (Ex.: Gn 12; 15; 17; 22; 26; 28). Ele abençoaria aquela nação, cuidaria dela e a multiplicaria. O que implicava no fato de que jamais o povo de Israel fosse destruído. Por isso, Deus afirma que eles são “descendentes de Jacó”. Como Deus não muda em Sua fidelidade, sempre cumpre o que promete, a nação de Judá não havia sido destruída. Deus não muda em seu caráter, é sempre Fiel.

Além de não mudar em seu Ser ou em seus atributos, Deus, também, não muda em sua existência. Ou seja, Deus nunca passou a ser, Ele sempre é. “Eles perecerão, mas tu permanecerás; envelhecerão como vestimentas. Como roupas tu os trocarás e serão jogados fora. Mas tu permaneces o mesmo, e os teus dias jamais terão fim” (Sl 102.26, 27). Deus não surgiu nem foi criado, Ele sempre existiu, existe e existirá. Ele não experimenta a velhice, sua vida não diminui nem aumenta, “de eternidade a eternidade tu és Deus” (Sl 90.2). Isso nos dá a garantia de que o mesmo Deus que não muda em nada do que é, também não deixará de existir, por isso, cumprirá todas as Suas promessas e podemos dormir tranqüilos, sem nos preocupar se amanhã Ele estará vivo para manter a ordem do Universo e a nossa existência (At 17.28, 29; Hb 1.3).


1 Ver OWEN, Chad Brand. Defeitos genéticos ou acidentais? A ortodoxia, o teísmo aberto e suas ligações com as tradições filosóficas ocidentais. In: PIPER, John, et al. Teísmo aberto: uma teologia além dos limites bíblicos. São Paulo: Vida, 2006. p. 75-77.

2 PINK, A.W. Los atributos de Dios. (Disponível em www.graciasoberana.com). (Tradução minha).

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