terça-feira, 23 de março de 2010

NO CONTEXTO DO FIM

Meditações em Marcos 13




O JUÍZO SOBRE A RELIGIÃO VAZIA – vv. 1-2

"Quando ele estava saindo do templo, um de seus discípulos lhe disse: 'Olha, Mestre! Que pedras enormes! Que construções magníficas!'.
'Você está vendo todas estas grandes construções?', perguntou Jesus. 'Aqui não ficará pedra sobre pedra; serão todas derrubadas'."

Vivemos num mundo, onde há uma preocupação excessiva com o fim em nossos dias:
·         Lenda maia do término do mundo;
·         Cálculos para saber o dia da vinda de Cristo;
·         Acontecimentos que cercam Israel e Palestina;
·        Uma busca por identificar quem seria o anticristo de nossa época.

Jesus nos chama a um equilíbrio entre o presente e o futuro. Condena o escapismo escatológico ou o desespero cético. Ele quer que vivamos com intensidade o presente, ainda que com os olhos mantidos em nossa futura salvação.

Quando nos encontramos nesta parte do Evangelho de Marcos, podemos ser muito facilmente tentados a lê-la com um jornal ao lado, buscando identificar os acontecimentos presentes com a profecia do Senhor Jesus. Perde-se de perspectiva o arranjo literário do autor, em que este ensino de Jesus aparece logo após seus vários conflitos com os líderes da nação judaica e sua crítica à profanação do templo, orquestrada ou consentida por eles (cf. Mc 11.12-26).

Após várias referências à localização de Jesus no templo (cf. 11.5, 27; 12.35, 41), agora, somos informados de que ele sai dali (v. 1). Um dos discípulos, ao observar a beleza e magnificência da construção do centro religioso judaico, exclama e expressa um amor demasiado pelo local, anteriormente condenado pelo próprio Jesus: “Que pedras enormes! Que construções maravilhosas!”. Provavelmente, uma referência à arquitetura e aos pórticos do templo de Herodes, ladeados por belas colunas.

O Senhor Jesus age de modo politicamente incorreto, ao responder de forma ríspida e direta à empolgação do discípulo: “Estão vendo estas grandes construções? Pois é, não ficará pedra nenhuma deste lugar, tudo será destruído. O juízo de meu Pai se manifestará contra a corrupção da adoração deste povo” (v. 2; cf. Jr 7.1-15). A fala de Jesus evoca os profetas do Antigo Testamento, quando prenunciaram a destruição do templo, devido à impiedade e injustiça daqueles que lideravam a nação e o templo (Mq 7.9-12):

Ouçam isto, vocês que são chefes da descendência de Jacó,
governantes da nação de Israel,
que detestam a justiça e pervertem tudo o que é justo;
que constroem Sião com derramamento de sangue, e Jerusalém com impiedade.
Seus líderes julgam sob suborno, seus sacerdotes ensinam visando lucro,
e seus profetas adivinham em troca de prata.
E ainda se apóiam no SENHOR,
dizendo: “O SENHOR está no meio de nós.
Nenhuma desgraça nos acontecerá”.
Por isso, por causa de vocês, Sião será arada como um campo, Jerusalém se tornará um monte de entulho, e a colina do templo, um matagal.

Jesus está trazendo este discípulo de volta para a realidade: “O que você tem a ver com isso? Existe uma nova comunidade e um novo templo que eu estou criando, do qual você faz parte (cf. Jo 4.21). O sistema religioso judaico está debaixo de condenação e logo experimentará seu fim”. A esmagadora maioria dos estudiosos bíblicos entende que o cumprimento desta profecia se deu no ano 70 d.C. Aquele sistema corrupto religioso experimentou o juízo devastador de Deus por meio de pagãos, como o general Tito, contra um povo que rejeitou a salvação oferecida pelo Messias e deixou de lado a pureza e integridade da adoração que Deus espera (cf. Mc 11.12-26; 12.1-11).

Este anúncio de juízo de Jesus mostra que Deus, de fato, visita em condenação o seu povo, quando o mesmo se esquece do temor a Deus e abandona o propósito para o qual existe. Israel deixou de honrar a Deus na sua adoração, ela virou simplesmente um culto pomposo e litúrgico, sem vida espiritual, e o templo que deveria ser o local em que todos os povos se aproximariam de Deus, tornou-se um símbolo do orgulho judaico.

Precisamos nos perguntar o quanto o temor a Deus permeia nossa adoração, como deixamos de adorar ao Senhor e transformamos nossa adoração em meios para a exaltação do nosso ego. Em nossa adoração comunitária podemos usar o culto para a nossa exaltação quando aqueles que auxiliam na ministração do louvor, estão atrás do destaque da bela voz, do status de aparecer na frente, da capacidade de tocar bem um instrumento.

O juízo de Deus, também, paira sobre nós quando nossa adoração comunitária é um aspecto externo, destituído de um andar em temor a Deus. Podemos cantar músicas em nossas reuniões, participar dos estudos, mas vivermos de segunda a sábado, uma vida auto-suficiente, confiante em nossos próprios recursos ou cedendo a pecados no meio em que vivemos, mesmo sabendo que aquilo que Deus espera de nós é algo completamente diferente. Tememos aos amigos, chefes, familiares e deixamos de temer a Deus.

É interessante notar que Jesus se retira do templo de Jerusalém como um gesto de juízo. Basta! A repreensão já foi feita, o juízo anunciado, mas continuam querendo matá-lo (Mc 11.18; 12.12). Jesus está fora, não mais dentro. Curiosamente, quando o Novo Testamento termina, encontramos Jesus, também fora, mas fora da igreja: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo” (Ap 3.20). Jesus está fora, mas apresenta uma nova oportunidade de arrependimento para o seu novo povo. Todavia, se endurecermos nossos corações, e permanecermos no que satisfaz apenas a nós, distantes de Deus e que não faz qualquer diferença aos de fora, podemos incorrer no juízo anunciado por Cristo a outra igreja do Apocalipse: “Arrependa-se e pratique as obras que praticava no princípio. Se não se arrepender, virei e tirarei o seu candelabro [igreja – cf. 1.20] do lugar dele” (Ap 2.5).

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