quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

DEUS E O MALANDRO
Gênesis 25 – 35

Quem nuca ouviu a música "Homenagem ao Malandro" do Chico Buarque? Embora fosse uma crítica irreverente ao governo militar de sua época, certamente continha muita verdade a respeito de quem é malandro.

Gostaria de falar a respeito da vida de um malandro. Um malandro que tem sido meu companheiro de peregrinação na fé, ultimamente. Tenho olhado para ele e visto suas malandragens. E ao mesmo tempo, fico perplexo como Deus entrou na vida desse homem apesar de sua irreverência. Essa é uma daquelas histórias que deixa qualquer teólogo de cabelo em pé. Como Deus foi capaz de se relacionar com alguém metido em pecado? Por que Deus age com graça na vida do malandro, ao invés de agir com ira?

Para buscarmos entender tudo isso, é necessário que estudemos com cuidado as obras de Graça que Deus operou na vida do malandro Jacó. A grande verdade é que Deus é capaz de transformar malandros em pessoas reverentes. Transformar aproveitadores em pessoas que se reconciliam com seu próximo. E pode, é claro, fazer de idólatras, adoradores do único e verdadeiro Deus.

A história da vida deste homem começa em Gênesis 25 e vai até o final do livro. E é para lá que eu me dirijo juntamente com você.

Tudo começou quando um homem chamado Isaque conheceu Rebeca, e se casaram. A história contida em Gênesis nos informa de que Rebeca não poderia ter filhos, mas em resposta às orações de Isaque, Deus possibilitou a gravidez dela. Estando Rebeca grávida, seu marido percebeu que os dois bebês lutavam dentro da barriga da mãe. Preocupado com aquilo, ele perguntou a Deus. A resposta divina foi que havia duas nações dentro da barriga da mãe e o mais velho serviria o mais novo. Depois de nove meses da gravidez, nascem os lindos meninos. O primeiro a sair, chamou-se Esaú, o segundo, Jacó. Nesse momento começa a história do malandro Jacó, como bem sugere seu nome. "Agarrador de calcanhar", "trapaceiro" e "suplantador". Algo interessante nesse começo era a promessa de Deus de que Jacó, o mais novo, seria servido por Esaú. Algo muito incomum àquela época do Oriente Médio Antigo, onde o mais velho sempre possuía direitos superiores. Talvez aquilo fosse estranho a Isaque e Rebeca, mas nem sequer imaginavam o que esta palavra de Deus significaria na história de sua família. Deus estava prevendo Seu plano soberano sobre aquelas vidas, e isso incluiria as malandragens de Jacó com a ajuda de sua mãe, tão astuta quanto o filho.

Moisés narra a primeira malandragem de Jacó numa certa ocasião em que seu irmão voltava do campo cansado enquanto o outro preparava um cozido de lentilhas. Sentido o cheiro daquela comida e a contemplando, Esaú pede para que seu irmão lhe desse um pouco daquele cozido.
Em reposta ao pedido do irmão, o malandro faz uma negociação. Se Esaú lhe desse o direito de primogenitura, ele lhe daria o cozido de lentilha que havia pedido. Foi então, que o aproveitador, conseguiu tirar o direito de primogenitura de seu irmão cansado e burro. Percebeu a situação que lhe era favorável para tirar do outro algo que não possuía.

Tempos depois, quando Isaque estava bem perto de sua morte, resolveu chamar Esaú para abençoá-lo. O filho seria aquele que continuaria como o receptor das bênçãos que Deus havia prometido a Abraão. Tudo acontecia normalmente, mas havia uma promessa de Deus no passado quando os dois meninos ainda estavam na barriga de Rebeca que colocava a bênção de Esaú em risco.

Rebeca ouviu o pedido que Isaque havia feito a Esaú para lhe dar a bênção, e chamou seu filho querido Jacó. Juntos enganaram Isaque e Jacó recebeu a bênção que era de seu irmão Esaú. Agora o pai do povo de Deus já não seria mais Esaú, e sim Jacó, que malandramente roubou a bênção que pertencia a seu irmão. Deus cumpria seu propósito, do qual não fugia a malandragem de Jacó.

Esaú quando descobriu que seu irmão havia roubado a bênção que lhe pertencia, resolveu esperar seu pai morrer para, então, matá-lo. Rebeca, sabendo da intenção de seu filho mais velho, deu um jeito para enviar Jacó para longe dali, a fim de que não fosse morto.

Jacó sai da casa de seu pai rumo à de seu tio Labão. No meio do caminho, Deus vai ao seu encontro. Nesse encontro Deus promete a Jacó um povo grandioso, proteção e cuidado, e a graça de ser o intermediário das bênçãos de Deus às outras nações.
Olho para esse encontro e fico perplexo. Como Deus poderia se envolver com alguém tão metido no pecado como Jacó? Afinal, Isaías não diz que nossos pecados nos separam de Deus? Como Deus pode trazer mensagens de conforto e segurança para alguém que vive na malandragem?

Talvez as repostas pra essas minha indagações se encontrem nos capítulos que se seguem. Deus, graciosamente, se dispôs a se envolver na vida de Jacó. Acima do pecado de Jacó, estava a fidelidade de Deus que havia garantido a bênção dEle sobre Jacó, desde quando estava na barriga da mãe. Mas, além disso, Deus se envolve com Jacó, não permitindo que ele permanecesse daquele jeito. A graça de Deus foi tão grande para penetrar na vida podre de Jacó, e tão poderosa a ponto de lhe ensinar e mudar seu caráter.

O modo como a graça lidou com o pecado do malandro, está descrito nos capítulos 29-31. Como Deus fez isso? Usou outro malandro para corrigir Jacó, seu tio Labão.

Jacó sofreu nas mãos de seu tio. Quando se apaixonou por uma de suas primas, teve que trabalhar 7 anos para poder se casar com ela. Depois que se deitou na noite de núpcias com a prima, descobriu que não era a que ele gostava, e sim a mais velha. Seu tio, o enganou e lhe deu a prima que achava feia. Jacó teve que trabalhar mais sete anos para ter a moça que amava como sua esposa.

Depois, além de ser enganado pelo seu tio com respeito à sua esposa, foi enganado, também, enquanto trabalhava com ele. Quando lhe convinha, Labão mudava o contrato de trabalho. Foi assim que a graça de Deus ensinou a Jacó (Gn 31.38-42).
Deus com sua graça estava ensinando a Jacó o amargo que alguém causa quando é malandro na vida dos outros.

A graça de Deus agiu na vida de Jacó começou a dar sinais. Jacó, agora, confiava que Deus era a causa de seu enriquecimento, e não ele mesmo (Gn 31.7, 9, 42). Quando Deus ordenou a Jacó que voltasse para a terra onde seus pais viviam, ele o fez, mesmo que isso implicasse em encontrar com seu irmão Esaú. Foi aí, que Jacó aprendeu a arte da responsabilidade e humildade quando se reconciliou com seu irmão no capítulo 32 e 33.

Mais adiante, no capítulo 35, vemos Jacó com toda a sua família deixando todo os ídolos que possuíam, a fim de poder adorar a Deus com simplicidade de coração. Jacó entendeu que não se podia conviver com Deus e outros ídolos ao mesmo tempo. A adoração precisava ser dirigida somente a Ele.

Jacó continuou com malandragem, ainda mentia e não tratava seus filhos com igualdade. Mas com certeza já não era o mesmo Jacó antes de seu encontro com Deus em Betel. A graça de Deus penetrou na sujeira da sua malandragem, e, aos poucos, foi se transformando de malandro para alguém reverente, em aproveitador para alguém que assumia sua responsabilidade para com o próximo e de um idólatra para um adorador exclusivo de Deus.

Olho para nossas vidas e não vejo diferença nenhuma entre nós e Jacó. Todos vivíamos como bem nos parecia, segundo a nossa malandragem. Mas depois de nosso encontro com Deus e com Sua graça, passamos a experimentar uma mudança de vida.

Deus muitas vezes usa de Sua graça para se mostrar presente em nossas vidas e no ensina. Molda o nosso caráter por meio das adversidades e nos transforma de malandros irreverentes, para adoradores reverentes. Quero convidá-lo a observar a graça de Deus moldando sua vida em sua história e chamá-lo a permitir que esta graça gere mudanças como fez na vida do malandro Jacó. Sugiro algumas atitudes.

Reconheça a Bondade de Deus em sua vida.
Assuma suas responsabilidades para com o seu próximo.
Deixe os ídolos de seu coração e Volte-se para Deus.

Mesmo cometendo algumas malandragens, podemos experimentar os sinais de graça de Deus em nossas vidas e passar por verdadeira transformação. Deixe a graça do Senhor ir de encontro com sua malandragem e mudar gradualmente sua vida. Mesmo que isso inclua sofrer a malandragem dos outros.

No amor do Senhor Jesus,
Tiago Abdalla

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