O Homem como Adorador
Uma vez que o ser humano fora criado por Deus e destinado para Sua adoração, surge uma questão que precisa de uma resposta adequada: "O que faz do homem um adorador?". Carlos Osvaldo Pinto ajuda a entender Deus biblicamente como "aquele ou aquilo de quem ou que o homem depende para sua subsistência, segurança e significado" . Diante disso, pode-se chegar à seguinte afirmação: Adoração envolve a dependência existente entre o adorador e o objeto de sua adoração, em que este é a fonte de suprimento daquilo que o adorador necessita, e por isso o adorador responde, colocando-se dentro da esfera de vida proposta por aquele que é adorado, entendendo que somente dentro de tal esfera encontrará a única e verdadeira subsistência, segurança e significado.
Tal resposta dada por aquele que é dependente se constitui como adoração. Isto revela a fragilidade, dependência do homem e o seu anseio por aquele em quem encontra o suprimento de suas necessidades.
1. A fragilidade e a insignificância humana
Emil Brunner, diz acertadamente que em primeiro lugar a palavra bíblica para criação significa que:
"Há um abismo intransponível entre o criador e a criatura, em que um estará sempre oposto ao outro em uma relação que jamais poderá ser alterada. Não existe senso maior de distância do que o que há entre as palavras criador-criatura. E essa é a primeira coisa que pode ser dita sobre o ser humano, e é fundamental: ele é criatura".
Dentro da perspectiva teológica do livro de Salmos, a referida afirmação está correta. Isto é visto quando o salmista identifica a fonte de sua existência em Deus, que tem total controle sobre sua vida terrena, dando-a ou tirando-a e determinando o tempo de sua existência (Sl 90.3; 104.29,30; 139.13-16). O homem é tão insignificante que é incapaz de deter a ação de Deus ou fazer algo acima do Seu controle (Sl 10.18). Por sua insignificância diante da grandeza de Deus, a humanidade não é digna da lembrança ou bênçãos de Deus (Sl 8.1-4). Ela também não é digna de receber a confiança relativa ao tamanho de Deus (Sl 56.11); o ser humano é incapaz de esconder os seus pecados de Deus e a efemeridade de sua breve existência se deve à ira de Deus manifesta contra o pecado de Adão, cuja culpa é imputada sobre todos os homens, que são objetos das conseqüências da ofensa adâmica (Sl 90.7,8).
A pequenez antropológica se demonstra por ser o homem um mero mortal como os outros animais; por isso, qualquer pensamento que não tenha isso em consideração dá a impressão de que a vida terrena é eterna e deve ser entendido como tolice (Sl 49.12,20). O homem também é comparado à relva do campo que floresce, mas logo deixa de existir (Sl 37.2; 90.5; 103.14-16). Assim como toda a criação, a humanidade recebe a vida de Deus e por Ele também é retirada (Sl 104.29,30). Sendo assim, como resultado de sua própria pequena existência, o homem está em uma posição de adorador exclusivo de Deus e somente nEle encontrará significado e felicidade, temas do ponto a seguir.
2. A dependência e a busca humana por Deus
A dependência do homem diante de Deus se expressa tanto no que diz respeito à sua subsistência quanto para a sua segurança e razão para viver. Todas essas esferas da dependência humana são o que o fazem buscar a Deus e com isso, adorá-lO.
Deus não concede alimento apenas aos animais (Sl 147.9), mas também aos homens. Esta realidade é claramente percebida quando se mostra que Deus é o provedor do sustento humano, agindo por trás dos fenômenos naturais que proporcionam ao ser humano, seu alimento (Sl 104.13-15). Toda a carne depende de Deus para ter alimento. Nisso os salmistas mostram uma relação direta entre Deus e o homem, no que diz respeito àquilo de que este último precisa para sua sobrevivência (Sl 136.25; 145.15,16). YAHWEH é quem controla a comida necessária para a androsubsistência, concedendo ou não o alimento (Sl 105.16,40). Os que temem ao Senhor podem confiar na Sua provisão sem preocupações (Sl 33.18,19; 34.10; 37.19,25; 111.5; 127.3). De forma imensurável, o homem depende da graça de Deus para a sua subsistência.
Algumas das afirmações mais espetaculares declaradas no livro de Salmos são, sem dúvida, aquelas colocadas no Salmo 62. O autor diz: "Só ele é a minha rocha e a minha salvação ... Somente em Deus, ó minha alma, espera silenciosa ... Só ele é a minha rocha e a minha salvação ... De Deus depende a minha salvação ..." (Sl 62.2, 5-7). Este Salmo mostra claramente que o único meio de se obter segurança genuína é através da confiança no Senhor. Aquele que espera em Deus para a sua proteção não precisa de nenhum outro refúgio (Sl 11.1). O cuidado de Deus para com aqueles que buscam refúgio nEle se dá devido à honra ao Seu próprio nome (Sl 31.1-3). O Senhor não manifesta a Sua proteção apenas a indivíduos, mas também ao Seu povo, guiando-os de maneira segura e livrando-os de seus inimigos (Sl 78.53). A idolatria era cometida quando se colocava a confiança em algo que não fosse o Senhor (Sl 31.6). É feliz aquele que se refugia em YAHWEH, pois Sua bondade garante livramentos (Sl 34.6-8).
No que tange ao significado do homem, sua razão para viver, os salmistas são unânimes em concordar que a única fonte suficiente para a satisfação e descanso da alma humana se encontra em Deus. Se fosse possível sintetizar tudo o que os salmistas falam sobre a completa satisfação da alma humana em Deus, poderia se usar a célebre frase de Agostinho: "Tu nos fizeste para Ti mesmo, e nosso coração não tem descanso enquanto não descansar em Ti".
Assim como a corça encontra repouso e vida em seu ambiente, assim o homem apenas em Deus encontra repouso e vida (Sl 42.1,2). Um árido deserto necessita e deseja água, o ser humano da mesma maneira acha a verdadeira satisfação para as suas necessidades e anseios em Deus (Sl 63.1). É bom para o homem desfrutar da presença de Deus (Sl 73.28), nem a existência humana usufruindo de tudo o que a vida pode oferecer supera a satisfação de ser objeto da bondade dEle (Sl 63.3). A direção de Deus na vida humana proporciona prazer incomparável com o prazer promovido por qualquer outro ser ou objeto (Sl 73.23-25). Real felicidade é encontrada na presença de Deus (Sl 89.15), que independe das circunstâncias externas (Sl 84.5). Diante disso, a conclusão de um dos salmistas só pode ser: "Tu és o meu SENHOR; outro bem não possuo, senão a ti somente" (Sl 16.2). A vida realizada é aquela que busca ao Senhor e encontra prazer em Sua presença.
Finalmente, é inevitável concluir a dependência que o homem tem de Deus. Em sua dependência dEle para o sustento, proteção e significado, o homem responde ao Senhor depositando toda a sua confiança nEle e buscando-O. "eu, porém, confio no Senhor ... Ó Deus, tu és o meu Deus forte; eu te busco ansiosamente" (Sl 31.4; 63.1). Cumprindo, assim, sua missão de adorador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário