domingo, 28 de março de 2010

DISPENSACIONALISTAS TAMBÉM PENSAM: exegese e escatologia em Marcos 13.14-23

PARTE 1


"Quando vocês virem ‘o sacrilégio terrível’ no lugar onde não deve estar — quem lê, entenda — então, os que estiverem na Judéia fujam para os montes." (Marcos 13.14)

A PROFANAÇÃO DO TEMPLO

Em textos passados,  observei que os acontecimentos descritos pelo Senhor Jesus em Marcos 13.1-13 se relacionavam não com eventos necessariamente ligados ao término dos tempos, mas à destruição do templo, em 70 A.D., e ao todo do período da igreja, precedente à grande tribulação e à vinda de Cristo. A partir do verso 14, o Senhor Jesus parece descrever eventos ligados aos finais dos tempos. Primeiramente, porque o texto fala sobre uma tribulação tamanha, tal qual não houve antes e nunca haveria igual (v. 19). Além disso, o verso 24 nos dá uma chave para interpretar os acontecimentos, pois, naqueles dias, após aquela tribulação, a vinda do Senhor Jesus ocorreria (en ekeinais tais hemerais metá ten thlipsin ekeinen - vv. 24-26). Assim, interpretar os acontecimentos como apenas ligados aos acontecimentos da guerra dos judeus e a eventual queda de Jerusalém, entre 66-70 A.D., é desconsiderar os dados do próprio texto.

Um dos acontecimentos ligados à grande tribulação final é o aparecimento do abominável da desolação, uma expressão originada no profeta Daniel (Dn 9.27; 11.31; 12.11cf. Mt 24.15) e que se relaciona ao término dos sacrifícios no templo e a profanação deste. Há uma relação desta expressão de Daniel com o que ocorreu na época dos Macabeus, em 167 a.C. (1 Mc 1.54-59; 6.7), quando um representante de Antíoco Epifânio ergueu um altar pagão sobre o altar de bronze do templo e sacrificou uma porca ali, em homenagem ao deus Zeus (cf. Dn 11). Mas, sabemos que esta profecia não se limita apenas a este acontecimento, já que Jesus fez referência a ela como algo a ocorrer no futuro.

Há uma disputa acirrada entre os comentaristas quanto ao momento do cumprimento desta profecia de Jesus. Vários dizem ter tal anúncio se cumprido durante a revolta judaica, entre 66-70. Alguns dizem que o “abominável da desolação” é a invasão do exército romano em Jerusalém e a destruição por eles do templo, no ano 70 A.D (ver HURTADO, NICB, p. 215-217). Outros dizem que isso ocorreu quando os zelotes instituíram Fani, um homem primitivo, como sumo-sacerdote e o fizeram entrar no santo dos santos (ver POHL, p. 372-373).

O grande problema com estas interpretações é que elas não levam em conta, o suficiente, as indicações, dos versos 19 e 24, de que estes acontecimentos se relacionavam com o fim dos tempos e que a expressão “mas” (), em 13.14, aponta para um contraste entre os acontecimentos de 4-13 e os de 14-23.

Daniel, também, relaciona o aparecimento do “abominável da desolação” com o final dos tempos, quando o povo de Deus será purificado por Ele e, então, liberto (Dn 12.1-3, 9-12). Além disso, o apóstolo Paulo menciona uma cena muito semelhante, quando o Anticristo se assentará no “santuário de Deus” e reivindicará para si a própria divindade, mas será destruído pela vinda do Senhor Jesus (2 Ts 2.3-4, 7-10). Este último texto se assemelha muito com a cena de Marcos 13, que fala do “abominável da desolação” se colocando “no lugar em que não deve” (v. 14) e, logo após a tribulação de tais dias, o Senhor Jesus vindo para salvar seu povo (vv. 24-26).

O sinal claro, então, dos fins dos tempos não é, necessariamente, guerras ou terremotos, ou fomes ou falsos profetas. Mas, sim, a revelação do Anticristo e sua profanação do templo de Deus, em Jerusalém. Qualquer alarde desvinculado disso é jogar tempo fora e perder de perspectiva a nossa missão (vv. 9-11).

3 comentários:

Raniere Menezes disse...

Não há nenhuma razão para reconstrução do templo, o livro de Hebreus destrói completamente essa possibilidade. O sistema sacrificial restabelecido é algo que não mais acontecerá.
A doutrina de um Templo reconstruído é tão patentemente errônea, tanto teológica como exegeticamente, que é chamada por alguns de o “calcanhar de Aquiles do sistema dispensacionalista de interpretação”.
Mesmo os dispensacionalistas reconhecem que a “função futura do templo do milênio (Ez 40-48) há muito tem sido problemática para os dispensacionalistas”.Por favor leia:

http://www.monergismo.com/wp-content/uploads/reconstrucao-templo-hsh_gentryrtf.pdf


É bom mostrar o outro lado da moeda.
Abraço.

Tiago Abdalla disse...

Raniere,

desculpe, mas você não lidou exegeticamente com a minha argumentação. Por que você não responde às questões textuais do grego que levantei?

Quanto ao templo, Gleason Archer (que não é um dispensacionalista - vide "Merece confiança o AT", p. 317-318), argumenta em prol da literalidade do texto de Ez 40-48 (p. 314-317), e diz: "Mesmo assim, o Senhor Jesus ordenou o sacramento da santa comunhão como uma disposição a ser praticada mesmo depois da Sua crucificação, e especificou que tinha que ser observada até Sua segunda vinda (1 Co 11.26: 'até que ele venha'). Por definição pré-milenial, o milênio se seguirá ao Seu advento glorioso. Se pois, há uma forma sacramental a se praticar durante a Dispensação da Igreja, o que impede que haja uma nova forma de sacramento para ser celebrada durante o próprio Milênio?" (p. 317).

Outra coisa, suas afirmações taxativas e expressões como "patentemente errônea" são belos exemplos de retórica sofista. Interessantemente, o site que você citou, jamais mostra o outro lado da moeda, em nenhum artigo. Curioso, não?

Abs.

Raniere Menezes disse...

Tiago, me desculpe mas fazer exegese em comentários de blog não é uma boa opção. O ideal é um fórum. O fórum Monergismo é o outro lado da moeda para quem quiser, amilenistas, dispensacionalistas, mas há poucas confrontações. Espaço não falta.
Acho que a melhor argumentação é "pra que a reconstrução do templo?" -- Acho que vcs precisam lidar com essa pergunta. Não quis ofender.
O artigo que citei é bem embasado, não é sofista. O autor dá várias razões.
O Fórum está a disposição de defesas dispensacionalistas. Nós até já chegamos a comentar que as tres linhas escatológicas não devem dividir os reformados, mas devem ser explanadas para uma melhor compreensão dos pontos fracos e fortes de cada uma.
Abs.

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