domingo, 29 de março de 2009



O dilema entre o PROPÓSITO DIVINO...

...e a LIBERDADE HUMANA.

(Um ensaio crítico)








Em uma dessas leituras bíblicas diárias, algo me chamou muito a atenção dentro do livro de Reis. Há um dilema existente na realização do propósito de um Deus Santo por meio do pecado humano. A história de Baasa que se encontra entre os capítulos 15 e 16 de 1 Reis, nos remete a duas intrigantes questões: Como o homem pode ser responsável por sua maldade, sendo esta determinada por Deus? E como Este continua puro mesmo que o cumprimento de seu plano inclua a iniqüidade humana?


O relato em questão, nos mostra Baasa se tornando rei mediante uma conspiração contra o monarca Nadabe, filho de Jeroboão. Com o propósito de consolidar seu reino, Baasa destrói o restante da família de Jeroboão, fato que se dá em conformidade com a palavra do Senhor, anteriormente anunciada a Jeroboão por meio do profeta Aías. Após um reinado que em nada se esforça para garantir a manutenção da aliança entre Yahweh e Israel, uma palavra dura da parte de Deus é entregue a Baasa por intermédio de Jeú. Dentre as várias acusações contra o rei, como a cooperação com o povo em incitar a ira divina por meio da idolatria, Deus denuncia Baasa por destruir a família de Jeroboão.


Afinal, como pode Deus condenar Baasa de algo que em primeira instância havia sido predito por Ele próprio?


O que certamente não se pode negar é o fato da narrativa, apesar do questionamento, se enquadrar perfeitamente no propósito do livro de Reis. Seguramente o texto ajuda a ressaltar a fidelidade de Deus mesmo em meio à infidelidade humana para com a Aliança. Se por um lado, Deus, sendo fiel a sua própria palavra, destrói Jeroboão e sua família, por outro, Baasa comete pecado ao matar o ungido do Senhor, uma vez que a autoridade em Israel era instituída pelo próprio Yahweh.


O uso da maldade humana para cumprir o propósito divino não é algo exclusivo desta passagem. Uma teologia bíblica do Antigo Testamento nos mostra essa realidade desde o começo da revelação em Gênesis até passagens cujo progresso da revelação é bem mais próximo do livro dos Reis, como no caso de Isaías.


A história que relata o momento no qual José se dá a conhecer a seus irmãos, em Gênesis 45, é muito clara quanto à idéia de que acima do pecado de seus irmãos, estava a ação de Deus. O verso 4 diz que foram os irmãos de José que o venderam para o Egito. Isto, de acordo com o capítulo 37, foi promovido pelo ódio que havia em seus corações contra seu irmão mais novo. Todavia, o versículo 5 que confirma a declaração no verso anterior, também, diz que foi o próprio Deus quem o havia enviado para o Egito, a fim de salvar a vida de seus irmãos. Mais adiante, isto é reiterado (45.7) e, ainda, "... não foram vocês que me mandaram para cá, mas sim o próprio Deus." (45.8, NVI).


No livro do profeta Isaías, podemos ver Deus usando a maldade de uma nação soberba para disciplinar o seu povo. No capítulo 10, versos 5 e 6, encontramos a afirmação de que a Assíria era a vara de Deus que Ele mesmo enviava com intuito de punir a impiedade de Israel. Logo em seguida, no versículo 7, Deus indica que a Assíria não possui consciência deste plano de Yahweh, pois seu intuito é destruir as nações, fruto de sua altivez (10.8-11). Em decorrência disto, Deus punirá a Assíria após concluir seu julgamento contra o povo escolhido, cujo instrumento é a própria nação que Ele punirá (10.12).


Muitos outros exemplos vétero-testamentários poderiam ser dados para indicar o fato de que Deus usa a maldade humana para cumprir seus intentos perfeitos e santos. O mesmo autor de Gênesis declarou: "Ele é a Rocha, as suas obras são perfeitas e todos os seus caminhos são justos. É Deus fiel, que não comete erros; justo e reto ele é" (Dt 32.4, NVI). Assim também, Isaías escreveria cerca de setecentos anos depois: "Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos, a terra inteira está cheia da sua glória" (Is 6.3, NVI).


Essa verdade destacada em 1 Reis 15:33 - 16:7 tem especial relevância para a igreja moderna, pois nos ensina que Deus usa o mal na vida de Seu povo com propósito sábio e soberano. No texto em questão seu propósito era disciplinar a família de Jeroboão. Da mesma forma, Deus pode estabelecer instrumentos de disciplina para nos corrigir, ainda que a motivação deste instrumento seja errada. Cabe a nós clamar por sabedoria a Deus, a fim de que enxerguemos o que Ele quer mudar em nós, ao invés de só perceber a maldade que se encontra no intento daqueles que Deus usa para nos repreender.


Filipe Abdalla e Tiago Abdalla

domingo, 8 de março de 2009

SOLTEIROS, SEXO E UMA VIDA COMPLETA

John Piper
[1]

Em 1987, escrevi um editorial para a Minneapolis Star-Tribune durante a explosiva controvérsia sobre propagandas de preservativos na televisão. A preocupação das redes de comunicação focava na ajuda do controle do avanço da AIDS. Meu ponto fundamental era: “No ato de apoiar a proteção da doença, os anúncios apóiam a causa, isto é, a promiscuidade sexual”. Eu disse que a afirmação de que preservativos fazem o sexo “seguro” mostra a incrível ingenuidade acerca da natureza humana.

Meu argumento foi este: “A profundidade e significância da personalidade é maior do que o aspecto meramente físico. Apenas uma visão superficial da personalidade diz que nós estaremos ‘seguros’ se evitarmos uma doença, enquanto buscamos ações que a civilização ocidental tem, predominantemente, chamado de imoral e a Bíblia indica como desonra ao nosso Criador ... Não apenas o ensino bíblico, mas também o testemunho da consciência humana, em culturas variadas, ao redor do mundo, diz durante séculos que a relação extra-conjugal e a atividade homossexual são destrutivos para a personalidade, para os relacionamentos e para a honra de Deus, que fez nossa sexualidade para aprofundar e alegrar a união de homem e mulher no casamento”.

Você pode imaginar que isto não ficou sem protesto. Eu tenho uma carta de um jovem homem que falou como representante de um certo grupo de pessoas solteiras, quando disse: “Minha namorada e eu temos tido ótimas relações juntos. Achamos que suas idéias são repressivos restos da era Vitoriana que fizeram as pessoas neuróticas e miseráveis. Pensamos que nossa sexualidade é parte de nossa personalidade, e não desfrutar disso implica em sermos pessoas incompletas. Não temos a intenção de casarmos para satisfazer as expectativas de qualquer puritano. Também, entendemos que uma vida de escravidão à virgindade significaria ser apenas meio humano”.

Quando escrevi de volta para este homem, o centro de minha resposta foi: O ser humano mais completo que já existiu ou existirá, é Jesus Cristo, e Ele nunca teve relações sexuais.

Isto pode ser poderosamente libertador para pessoas solteiras que pensam, em alguns momentos: “Algo que nunca terei são relações sexuais e não experimentando isso, não serei tudo que eu esperava ser”. A tal pensamento, Jesus, o virgem, diz: “O discípulo não está acima do seu mestre; todo aquele, porém, que for bem instruído será como o seu mestre” (Lc 6.40). Nós sempre encontraremos montanhas de verdadeira semelhança humana com Cristo para escalar, mas a relação sexual não é uma delas. Pois, ainda que nunca conheceu isso, Ele é infinitamente completo.

O paradoxo que podemos perceber é captado no título do livro de Luci Swindoll sobre a vida de solteiro: “Alargo meu mundo, Diminuo minha cama”. Solteira por escolha, aos quarenta e nove anos (quando escreveu o livro), ela mostra que o caminho apertado do filho do homem, o qual não tinha onde repousar a cabeça (nem mesmo sobre o ombro de uma mulher), conduz a um mundo amplo de surpresa, liberdade, alegria e amor.

Cheryl Forbes ilustra como ela e outras solteiras e solteiros se inspiraram pela “amplitude” da vida de solteiro de Jesus:

Jesus é o exemplo a seguir. Ele era solteiro. Nasceu para servir; Teve profundas amizades com todo tipo de pessoas – homens, mulheres, solteiros e casados. Esta foi sua obra, uma parte pessoal de sua final missão de morrer na cruz por nossos pecados ... seus relacionamentos com Maria, Marta, Pedro, e os outros discípulos ajudaram a prepará-lo para sua morte. Ninguém ama abstratamente. Ele permitiu-se a si mesmo ser interrompido por crianças carentes, pais perturbados, homens famintos e mulheres doentes ... Jesus buscou fazer a si mesmo vulnerável.

[1] Traduzido e adaptado por Tiago Abdalla T. Neto do livro PIPER, John, GRUDEM, Wayne. Recovering biblical manhood and womanhood: a response to evangelical feminism. Wheaton, IL: Good News, 1991. p. 14-15.

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