sexta-feira, 20 de junho de 2008

O DEUS IMUTÁVEL - Parte 2


DEUS É IMUTÁVEL EM SEUS PLANOS E PROPÓSITOS

O desdobramento do Deus que é imutável em seu Ser é a imutabilidade de seus planos e obras. “O que Deus faz no tempo, planejou desde a eternidade. E o que planejou na eternidade, leva a cabo no tempo”.1 Deus não muda em seu modo de pensar nem no que projetou para cumprir na história. “Mas os planos do SENHOR permanecem para sempre, os propósitos do seu coração, por todas as gerações” (Sl 33.11). Jó reconheceu isso de modo sublime: “Sei que podes fazer todas as coisas; nenhum dos teus planos pode ser frustrado”(Jó 42.2). Nisso Deus difere completamente de nós, seres humanos:

Há duas causas que fazem o homem mudar de opinião e inverter seus planos: a falta de previsão para antecipar-se aos acontecimentos e a falta de poder para cumpri-los.
Mas, tendo admitido que Deus é onisciente e onipotente, nunca precisa corrigir seus decretos ... é por isso que lemos acerca da “natureza imutável do seu propósito” (Hb 6.17).
(A.W.Pink)

É com base na imutabilidade do propósito de Deus que o autor de Hebreus motiva seus leitores a confiarem nEle e em Sua promessa. É essa imutabilidade de propósito e caráter que produz esperança em nós e nos mantém firmes e perseverantes na fé porque Deus é Fiel para cumprir o que prometeu (Hb 6.11-20). O plano e as promessas imutáveis de Deus impediram Balaão de amaldiçoar o povo escolhido de Deus: “Deus não é homem para que minta, nem filho do homem para que se arrependa. Acaso Ele fala, e deixa de agir? Acaso promete, e deixa de cumprir? Recebi uma ordem para abençoar; Ele abençoou, e não posso mudar isso” (Nm 23.19-20).

A IMUTABILIDADE DE DEUS E SUAS IMPLICAÇÕES PRÁTICAS

A primeira implicação prática da imutabilidade de Deus para nós como cristãos é o conforto e o consolo de que as promessas dEle em Sua Palavra são reais não só para a época dos crentes do século I, como também, para nós, hoje, já que elas não mudam. Deus continua perdoando pecados daqueles que confessam suas falhas a Ele (1 Jo 1.9). Também, mantém-se sempre pronto a nos dar a Sua paz quando colocamos diante de Sua presença nossas preocupações e problemas (Fp 4.6-7). A certeza de que estará conosco hoje, como esteve com os primeiros discípulos, deve nos motivar a proclamar o evangelho (“eu estarei com vocês, até o fim dos tempos” - Mt 28.19-20). A convicção de que Ele é Fiel e sempre nos dará as condições necessárias para enfrentarmos nossas provações, nunca além do que podemos suportar, nos anima a passar por elas de um modo que o agrade (1 Co 10.13).

Alguns crentes hoje em dia ignoram a justiça de Deus e transformam a graça dEle em libertinagem (Jd 4). Acham que Deus age de forma diferente atualmente, de como agiu na época do Antigo Testamento. Acabam criando dois deuses diferentes, uma espécie de neo-marcianismo2 evangélico. Mas, se Deus é sempre o mesmo, Ele não abriu mão de Sua justiça, nem deixou de disciplinar aqueles de Seu povo que o desobedecem. Assim como Moisés declarou: “A mim pertence a vingança; eu retribuirei ... O Senhor julgará o Seu povo”(Dt 23.35, 36), o autor de Hebreus confirmou a mesma verdade para nós cristãos (Hb 10.30). Diante disso, precisamos cultivar uma vida de temor e tremor perante Deus, já que é imutavelmente “fogo consumidor” (Hb 12.29; cf. Dt 4.24).

Por fim, nas tragédias da vida, a imutabilidade de Deus é um consolo imenso de que Ele não deixou de ser sábio e bondoso conosco, nem perdeu o controle da situação. Essa é uma verdade que o teísmo aberto tem atacado com suas falácias. Diante de situações de profundo sofrimento, este sistema dirá que Deus não sabia que isso ocorreria e que não fazia parte do Seu plano. Isso rouba a esperança e tira a confiança de qualquer cristão na Soberania de Deus, em que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, dos que são chamados segundo o Seu propósito” (Rm 8.29). Deus é Soberano sobre tudo e nada altera Seu plano, nenhuma negligência ou maldade humana, nenhum desastre natural, nada do que ocorre foge do plano Sábio, Bom e Soberano de Deus, pois “bem sei que tudo podes, nenhum dos teus planos pode ser frustrado”! Isso deve sempre consolar o nosso coração, sabendo que Deus continua Justo e Amoroso em meio às adversidades da vida. Como diria John Piper:

Da menor coisa à maior, boa e má, feliz e triste, pagão e cristão, dor e prazer – Deus governa tudo por Seus sábios, justos e bons propósitos (Is 46.10).3

1 PACKER, J.I. El conocimiento del Dios Santo. Miami, FL: Vida, 2006.

2 Márcion foi um herege do século II que afirmava que o Deus do Antigo Testamento era mau e cruel, ao passo que o Deus do Novo era amoroso e bom.

3 PIPER, John. Grounds for dismay: the error and the injury of Open Theism In: Piper, John, et al. Beyond the bounds. Wheaton, Illinois: Crossway Books, 2003. (tradução minha).

O DEUS IMUTÁVEL - Parte 1

INTRODUÇÃO

O século XX assistiu ao nascimento de uma teologia conhecida como “Teologia do Processo”. Ela afirmava que Deus, ao se relacionar com sua criação, encontra-se em processo de mutação, aperfeiçoando seu caráter à medida que se envolve com suas criaturas. Para tal teologia, um deus verdadeiramente relacional que interage com pessoas dentro do tempo e do espaço, necessariamente irá se desenvolver enquanto ser, assim como as pessoas amadurecem e mudam no contato umas com as outras. Esse era o deus mutável da “Teologia do Processo”.

Em anos mais recentes, na década de 80, Clark Pinnock, escreveu um artigo intitulado “God limits his knowledge”[Deus limita seu conhecimento], dando início àquilo que se difundiu sorrateiramente dentro da teologia evangélica, conhecido como “Open Theism”, em português “Teísmo Aberto”.1 O Teísmo Aberto não atacou diretamente a imutabilidade de Deus, e sim, a sua onisciência. Todavia, como conseqüência de tal redefinição do conhecimento de Deus, isso, conseqüentemente, afetou verdades das Escrituras que se relacionam intimamente com a imutabilidade do caráter dEle. Já que Deus não pode conhecer o futuro, apenas a realidade passada e presente, logo, a cada ação humana, Ele adapta seus planos. Isto é, o plano de Deus para a humanidade está em constante mutação, dependendo do modo como suas criaturas agem e reagem.

O teísmo aberto tem penetrado na igreja evangélica brasileira com um outro nome, “Teologia Relacional”. O rótulo mudou, mas a essência da praga é a mesma. Com isso, é urgente nos voltarmos para as Escrituras e compreendermos o que elas afirmam acerca do caráter imutável de Deus e, também, de seus planos, propósitos e ações que são coerentes com Seu ser.

DEUS É IMUTÁVEL EM SEU SER E EXISTÊNCIA

Como bem declarou Arthur W. Pink:

[A imutabilidade] é uma das excelências que distinguem o Criador das criaturas. Deus é o mesmo perpetuamente, não está sujeito à mudança alguma no seu ser, atributos ou determinações.
Por tal atributo, Deus é comparado a uma rocha (Dt 32.4) que permanece imóvel quando o oceano que a rodeia flutua continuamente. Ainda que todas as criaturas estejam sujeitas à mudança, Deus é imutável. Ele não conhece mudança alguma, porque não tem início nem fim, Deus é desde sempre.
Em primeiro lugar, Deus é imutável em sua essência. Sua natureza e ser são infinitos, portanto, não está sujeito a mudança alguma. Nunca houve um tempo em que ele não existisse; nunca haverá um dia em que Ele deixe de existir. Deus nunca evoluiu, cresceu ou melhorou. O que é hoje, tem sido sempre e sempre será. “Eu, o SENHOR, não mudo” (Ml 3.6).2

A Bíblia não se cansa de nos lembrar que Deus é sempre o mesmo. Deus não pode melhorar, nem piorar. É exatamente por ser perfeito que necessariamente é imutável. Ele não amadurece em seu Ser nem se desenvolve. Depois de mostrar aos irmãos de comunidades judaicas dispersas pelo império romano, que Deus não tenta a ninguém com o mal nem pode ser tentado, Tiago faz uma afirmação acerca do caráter bondoso imutável de Deus: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes” (Tg 1.17). O autor da carta apóia sua confiança de que Deus de modo algum pode estar envolvido com o mal, exatamente pelo caráter bom e imutável dEle. Se Deus é bom e imutável, logo não pode praticar o mal nem ser atraído por este, pois se o fizesse, deixaria de ser bom ou precisaria ser imutavelmente mau. Deus não passou a ser bondoso, nem deixará de o ser, Ele é Bom porque é Imutável.

A mesma verdade acerca da imutabilidade de Deus levou o profeta Malaquias a explicar aos seus contemporâneos o único motivo pelo qual ainda não haviam sido destruídos. O povo vinha quebrando a lei de Deus constantemente: casamento com mulheres que não faziam parte do povo da aliança, animais imperfeitos eram oferecidos para sacrificar, sacerdotes negligentes, infidelidade matrimonial, tudo isso provocava a ira justa de Deus contra a nação de Judá. Então, por que Deus não aniquilou aquele povo sempre rebelde (Ml 3.7)? Porque “Eu, o SENHOR, não mudo. Por isso vocês, descendentes de Jacó, não foram destruídos”.

Deus havia feito uma aliança com Abraão, Isaque e Jacó, os patriarcas do povo de Israel, que é constantemente reafirmada no livro de Gênesis (Ex.: Gn 12; 15; 17; 22; 26; 28). Ele abençoaria aquela nação, cuidaria dela e a multiplicaria. O que implicava no fato de que jamais o povo de Israel fosse destruído. Por isso, Deus afirma que eles são “descendentes de Jacó”. Como Deus não muda em Sua fidelidade, sempre cumpre o que promete, a nação de Judá não havia sido destruída. Deus não muda em seu caráter, é sempre Fiel.

Além de não mudar em seu Ser ou em seus atributos, Deus, também, não muda em sua existência. Ou seja, Deus nunca passou a ser, Ele sempre é. “Eles perecerão, mas tu permanecerás; envelhecerão como vestimentas. Como roupas tu os trocarás e serão jogados fora. Mas tu permaneces o mesmo, e os teus dias jamais terão fim” (Sl 102.26, 27). Deus não surgiu nem foi criado, Ele sempre existiu, existe e existirá. Ele não experimenta a velhice, sua vida não diminui nem aumenta, “de eternidade a eternidade tu és Deus” (Sl 90.2). Isso nos dá a garantia de que o mesmo Deus que não muda em nada do que é, também não deixará de existir, por isso, cumprirá todas as Suas promessas e podemos dormir tranqüilos, sem nos preocupar se amanhã Ele estará vivo para manter a ordem do Universo e a nossa existência (At 17.28, 29; Hb 1.3).


1 Ver OWEN, Chad Brand. Defeitos genéticos ou acidentais? A ortodoxia, o teísmo aberto e suas ligações com as tradições filosóficas ocidentais. In: PIPER, John, et al. Teísmo aberto: uma teologia além dos limites bíblicos. São Paulo: Vida, 2006. p. 75-77.

2 PINK, A.W. Los atributos de Dios. (Disponível em www.graciasoberana.com). (Tradução minha).

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Posso recasar se meu esposo se divorcia de mim e se casa com outra?

John Piper

Não. Eu sei que minha posição aqui pela obediência cristã é incrivelmente alta e difícil. Mas, eu não encararia alegremente o fato de que algum dos meus quatro filhos ou minha filha, em algum momento de suas vidas, tivesse que se divorciar. Diante disso, eu, como pai, precisaria enfrentar as implicações desta resposta.

A minha posição é que os esposos divorciados deveriam permanecer solteiros durante todo o tempo em que seu primeiro cônjuge viver.

A razão pela qual eu mantenho essa posição é porque isso sustenta o testemunho, mediante um ministério de solteiro alegre e engajado – não enfadonho – de quão altamente a aliança do casamento, a representação da aliança entre Cristo e a igreja, deve ser estimada. Isso é uma alta e clara declaração que Jesus Cristo realmente ama Sua igreja e Sua igreja realmente o ama. E esta é uma representação de aliança inquebrável.

O motivo pelo qual estou disposto a tomar tal postura é porque eu desejo dizer em alto e bom tom a uma cultura do divórcio fácil e do recasamento que vocês não estão dizendo a verdade acerca da aliança de Cristo com sua noiva. Ele jamais se divorcia dela e ela nunca se divorcia dele. Esta é uma aliança eterna; portanto, nós faríamos bem em testemunhar à nossa cultura com esta bela resolução.

Tradução livre minha de:

terça-feira, 10 de junho de 2008

DEUS ZELOSO
Parte 2
J.I.Packer


O Antigo Testamento considera o pacto de Deus como seu casamento com Israel, que traz consigo a demanda de um amor e uma lealdade incondicionais. A adoração de ídolos e toda relação comprometedora com idólatras não israelitas, constituía uma desobediência e infidelidade, a qual Deus via como um adultério espiritual que lhe provocava ciúme e vingança. Todas as referências mosaicas ao zelo de Deus têm a ver com a adoração de ídolos de um modo ou de outro, todas possuem sua origem na sanção do segundo mandamento que citamos anteriormente. O mesmo se pode dizer de Josué 24.19; 1 Reis 14.22; Salmo 78.58, e no Novo Testamento, 1 Coríntios 10.22. Em Ezequiel 8.3, a um ídolo que se adorava em Jerusalém o chama "ídolo que provoca o ciúme de Deus". Em Ezequiel 16, Deus caracteriza Israel como sua esposa adúltera, envolvida em alianças ímpias com ídolos e idólatras de Canaã, Egito, Assíria e pronuncia a senteça que segue: "Eu a condenarei ao castigo determinado para mulheres que cometem adultério e que derramam sangue; trarei sobre você a vingança de sangue da minha ira e da indignação que o meu ciúme provoca" (v. 38; cf. v. 42; 23.25).

Por estas passagens podemos ver claramente o que Deus queria dizer quando falou a Moisés que seu nome era "Zeloso". Significa que exige daqueles a quem ama e redime, total e absoluta lealdade, e reivindicará sua exigência mediante uma ação rigorosa contra eles, se traem seu amor com infidelidade. Calvino acertou em cheio quando explicou a sanção do segundo mandamento:

O Senhor com freqüência se dirige a nós no caráter de esposo ... Assim como ele cumpre todas as funções de um esposo fiel e verdadeiro, requer de nós amor e castidade; isto é, que não prostituamos a nossa alma com Satanás ... Assim, quanto mais puro e casto seja um marido, mais se sentirá ofendido quando vê que sua esposa procura um rival; assim, também, o Senhor que nos desposou, declara que arde com ciúme mais ardente cada vez que, ignorando a pureza de seu santo casamento, nos contaminamos com concupiscências abomináveis, e especialmente quando a adoração de sua Deidade, a qual deveria ser mantida intacta com o maior cuidado, transfere-se a outro, ou se adultera com alguma superstição. Pois, desse modo, não apenas violamos nosso pacto de casamento como também contaminamos o leito matrimonial, permitindo nele adúlteros.

Ainda que, se vemos a questão na sua verdadeira dimensão, precisaremos esclarecer algo mais. O zelo de Deus pelo Seu povo, pressupõe o amor que responde ao pacto. Tal amor não é um afeto transitório, acidental e sem objetivo, antes, é a expressão de um propósito soberano. O objetivo do amor de Deus no pacto é de ter um povo na terra enquanto dure a história e, posteriormente, ter a todos os fiéis de todas as épocas consigo na glória. O amor pactual é centro do plano de Deus para o seu mundo.

E é à luz do plano total de Deus para o seu mundo que se deve entender, em ultima análise, o seu zelo. Porque o objetivo último de Deus, como declara a Bíblia, é triplo: vindicar seu governo e justiça mostrando sua soberania, ao julgar o pecado; resgatar e redimir seu povo escolhido; e ser amado e louvado por eles devido aos seus gloriosos atos de amor e autovindicação. Deus busca aquilo que nós deveríamos buscar - sua glória, em e por meio dos homens - seu zelo tem como fim assegurar completamente tal objetivo. Seu zelo é, precisamente, em todas as suas manifestações, "o zelo do SENHOR dos Exércitos" (Is 9.7; 37.32; cf. Ez 5.13) para alcançar o cumprimento de seu propósito misericordioso e justo.

Deste modo, o zelo de Deus o leva, de um lado, a julgar e destruir o infiéis entre seu povo, aqueles que caem em idolatria e pecado (Dt 6.14; Js 24.19; Sf 1.18). Ainda mais, a punir os inimigos da justiça e da misericórdia em todas as partes (Na 1.2; Ez 36.5ss; Sf 3.8). Também, seu zelo o leva, por outro lado, a restaurar seu povo, logo que o juízo nacional os tenha castigado e humilhado (o juízo do cativeiro, Zc 1.14; 8.2); o juízo da praga de gafanhotos, Jl 2.18). E o que motiva estas ações? Simplesmente, o fato de que se mostra "zeloso pelo ... [seu] santo nome" (Ez 39.25). Seu "nome" é sua natureza e seu caráter como Javé, o Senhor Soberano da história, o nome que deve ser conhecido, honrado e louvado. "Eu sou o SENHOR; este é o meu nome! Não darei a outro a minha glória nem a imagens o meu louvor" (Is 42.8). "Por amor de mim mesmo, por amor de mim mesmo, eu faço isso. Como posso permitir que eu mesmo seja difamado? Não darei minha glória a nenhum outro" (Is 48.11).

Tradução: Tiago Abdalla

Trecho extraído de PACKER, J.I. El conocimimento del Dios Santo.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

O DEUS ZELOSO
J.I. Packer

Quando Deus tirou Israel do Egito e o levou ao Sinai, para lhe dar a lei e o pacto, seu zelo foi um dos primeiros fatos que ensinou a respeito de si mesmo. A sanção do segundo mandamento, que foi dado a Moisés de forma audível e escrita "com o dedo de Deus" em tábuas de pedra (Êx 31.18), se fez com estas palavras: "Eu, o SENHOR, o teu Deus, sou Deus Zeloso" (Êx 20.5). Pouco depois Deus deu a Moisés o mesmo conceito, de forma ainda mais surpreendente: "o Senhor, cujo nome é Zeloso, é de fato Deus Zeloso" (Êx 34.14). Por se encontrar no lugar em que está, este texto se torna grandemente significativo. Fazer conhecido o nome de Deus - isto é, como sempre na Escritura, sua natureza e caráter - constitui um tema básico de Êxodo. No capítulo 3, Deus havia declarado que seu nome era "Eu sou o que Sou", ou simplesmente "Eu Sou", e no capítulo 6, "o SENHOR". Tais nomes faziam referência a sua existência própria, sua autodeterminação e soberania. Logo, no capítulo 34.5ss, Deus proclamara seu nome dizendo que o SENHOR é "Compassivo e Misericordioso, paciente, cheio de amor e fidelidade, que mantém o Seu amor ... perdoa a maldade ... castiga pelo pecado". Aqui, encontra-se um nome que destacava sua glória moral.

Finalmente, sete versículos mais adiante, como parte dessa mesma conversa com Moisés, Deus resumiu e desenvolveu a revelação de seu nome, declarando que era Zeloso (34.14). Está claro que esta palavra inesperada representava uma qualidade em Deus que, longe de ser incompatível com a exposição anterior de seu nome, era em certo sentido o seu resumo. E como esta qualidade era em um sentido verdadeiro seu "nome", é evidente que era muito importante que seu povo o compreendesse.

Na realidade, a Bíblia fala bastante sobre o zelo de Deus. Há outras referências a isto no Pentateuco (Nm 25.11; Dt 2.24; 6.15; 29.20; 32.16, 21), nos livros históricos (Js 24.19; 1 Rs 14.22), nos profetas (Ez 8.3-5; 16.38, 42; 23.25; 36.5ss; 38.19; 39.25; Jl 2.18; Na 1.2; Sf 1.18; 3.8; Zc 1.14; 8.2), e nos Salmos (Sl 78.58; 79.5). Tal fato se apresenta constantemente como motivo para a ação, seja em ira ou em misericórdia. "Serei Zeloso pelo meu santo nome" (Ez 39.25); "Eu tenho sido muito Zeloso com Jerusalém e Sião" (Zc 1.14); "O SENHOR é Deus zeloso e vingador" (Na 1.2). No Novo Testamento, Paulo pergunta ao coríntios insolentes: "Porventura provocaremos o ciúme do Senhor?" (1 Co 10.22).

Tradução livre de PACKER, J.I. El conocimimento del Dios Santo. p. 217-218

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