sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O ESCÂNDALO DA CRUZ - Parte 2


29Os que iam passando, blasfemavam dele, meneando a cabeça e dizendo: Ah! Tu que destróis o santuário e, em três dias, o reedificas! 30Salva-te a ti mesmo, descendo da cruz!

31De igual modo, os principais sacerdotes com os escribas, escarnecendo, entre si diziam: Salvou os outros, a si mesmo não pode salvar-se; 32desça agora da cruz o Cristo, o rei de Israel, para que vejamos e creiamos. Também os que com ele foram crucificados o insultavam.” (Marcos 15.29-32)


   A segunda parte da história mostra o desprezo completo que Jesus experimentou da parte de seu povo, fosse por aqueles que passavam em frente à cruz,  pelas autoridades ou pelos próprios bandidos ao seu lado. Primeiramente, os que passavam diante de Jesus o desprezavam, balançando suas cabeças, em cumprimento do Salmo 22.7 (cf. Lm 2.15), e o difamando (v. 29). As reivindicações de destruição e construção do templo por parte de Jesus devem ter circulado entre o povo, a ponto destas pessoas lançarem sobre ele tal desafio (cf. 14.58). “Se é tão poderoso assim para destruir e construir o templo, por que não é capaz de sair desta situação?!”. Isso, certamente, aumentava o sofrimento de Jesus, pois, a sua crucificação não era resultado de fraqueza, mas a disposição de abrir mão do uso de seu poder para oferecer salvação. O que eles não sabiam é que, ao ser crucificado, o templo que era o corpo de Jesus estava sendo destruído, para reconstruir um novo, depois de três dias (cf. Jo 2.18-22).

O uso do verbo blasfemeo evoca o texto de 14.64, em que Jesus é acusado de blasfêmia (blasfemia). O sumo-sacerdote condena Jesus por blasfêmia, mas quem de fato blasfema o Deus crucificado são os judeus que passam pelo caminho.

Pior do que o escárnio dos transeuntes, era a zombaria dos próprios líderes religiosos da nação. Eles não são diferentes dos soldados pagãos, por isso, assim como eles “zombam” de Jesus (o mesmo verbo grego nos vv. 20 e 31). Sem perceber confessam a sua própria dureza de coração diante dos milagres de Jesus: “salvou aos outros”. Um breve lampejo de reconhecimento é ofuscado pela incredulidade incorrigível de seus corações. Duvidam de seu poder para salvar, o ridicularizam por ser um “messias” subjugado pelos romanos e o desafiam a descer da cruz para que cressem nele. Mais uma vez, eles pedem um sinal, mas nenhum sinal lhes será dado por causa da incredulidade e dureza de seus corações (v. 31-32; cf. 8.11-13).

Não apenas os líderes judeus, mas os próprios criminosos que estavam ao lado de Jesus o insultavam. Eles sabiam da inocência de Jesus (cf. Lc 23.40-41) e não queriam se identificar com este apóstolo da paz. Por isso, o insultaram.

A mensagem da cruz é escândalo para os judeus e loucura para os gregos, mas para nós, os que cremos é o poder e a sabedoria de Deus (1 Co 1.21-22). Pessoas de todos os tipos rejeitaram Jesus e sua mensagem do reino. Não devemos nos admirar se também rejeitam a nós, portadores desta mesma mensagem. Anunciar o evangelho e ser testemunha de Cristo é aceitar a zombaria e a rejeição. Na cruz, um novo templo começa a ser refeito, não de pedras, mas de gente. Na cruz, um novo povo é formado, não de sangue, mas pelo Espírito de Deus. Na cruz a salvação acontece não na cura de pessoas, mas na morte do Filho. A cruz é um paradoxo. A aparente derrota, humilhação e dor, na verdade, resultam em vitória, glória e alegria. Jesus não fora subjugado pelos romanos, como pensaram os sacerdotes e escribas, mas semeara as sementes do novo reino de Deus.

Tomar a cruz, portanto, é um chamado à vergonha e humilhação, é um chamado a não ser entendido pelos outros, é um chamado à vergonha aparente, mas que implica numa glória invisível e eterna. Quantos de nós carregam as sua cruz no dia-a-dia? Quantos de nós se identificam com Cristo em sua rejeição? Quantos de nós sofrem desprezo de grandes e pequenos, ricos e pobres, por anunciarem e viverem a mensagem da cruz?

“Eu aqui, com Jesus, a vergonha da cruz,
Quero sempre levar e sofrer;
...
Sim eu amo a mensagem da cruz;
Té morrer eu a vou proclamar.
Levarei eu também minha cruz,
Té por uma coroa trocar”

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O ESCÂNDALO DA CRUZ

Um antigo hino cristão recitado por Paulo na carta aos Filipenses foi belamente parafraseado numa música, da seguinte forma:

“Tende em vós meus irmãos, o mesmo sentir que habitou em Jesus
Porque apesar de ser Deus jamais exigiu seus direitos reais.
Aqui assumiu porque quis a nobre missão de ser servo fiel
Sofreu os horrores de ser condenado e morrer imolado na cruz”

Outro hino, mais antigo, diz:

 “Desde a glória dos céus, o Cordeiro de Deus
Ao Calvário humilhante baixou
E essa cruz tem pra mim atrativos sem fim,
Pois Jesus nela me resgatou”

A cruz e a morte de Cristo sempre estiveram no centro do evangelho proclamado pelos primeiros discípulos e devem, também, ser o centro do evangelho proclamado por nós. A cruz implica em humilhação, dor e vergonha e é para a história da cruz que quero me dirigir com você:

24Então, o crucificaram e repartiram entre si as vestes dele, lançando-lhes sorte, para ver o que levaria cada um. 25Era a hora terceira quando o crucificaram. 26  E, por cima, estava, em epígrafe, a sua acusação: O REI DOS JUDEUS.

27Com ele crucificaram dois ladrões, um à sua direita, e outro à sua esquerda. 28E cumpriu-se a Escritura que diz: Com malfeitores foi contado.

29Os que iam passando, blasfemavam dele, meneando a cabeça e dizendo: Ah! Tu que destróis o santuário e, em três dias, o reedificas! 30Salva-te a ti mesmo, descendo da cruz!

31De igual modo, os principais sacerdotes com os escribas, escarnecendo, entre si diziam: Salvou os outros, a si mesmo não pode salvar-se; 32desça agora da cruz o Cristo, o rei de Israel, para que vejamos e creiamos. Também os que com ele foram crucificados o insultavam.” (Marcos 15.24-32)

Marcos assim como os outros evangelistas é sucinto ao mencionar a crucificação com apenas três palavras: “Então, o crucificaram” (15.24). A morte de cruz era terrivelmente vergonhosa e dolorosa, somente aplicada a cidadãos não romanos.  O desejo dos principais líderes israelitas em crucificarem Jesus se deve à compreensão de que a cruz era um sinônimo para o “madeiro” que decretava a maldição divina sobre aquele que nele fosse pendurado (Dt 21.23; cf. At 5.30; 10.29; Gl 3.13). Diante de seus compatriotas, ao ser crucificado, Jesus não seria maldito apenas por eles, mas pelo próprio Deus.

Para os romanos, ela tinha um peso imensamente vergonhoso e ultrajante. Cícero, famoso orador, se reportou à cruz da seguinte forma: “Já é um delito algemar um cidadão romano, um crime chicoteá-lo, praticamente alta traição matá-lo. O que, então, direi da crucificação? Não há palavra que possa nomear um ato tão terrível”. Em outro discurso, afirma: “A própria palavra ‘cruz’ deve ficar longe não só do corpo dos cidadãos romanos, mas também dos seus pensamentos, olhos e ouvidos”. A crucificação era um castigo doloroso que matava a pessoa lentamente e a expunha nua diante dos que a viam.

Trueman Davis, em um jornal de medicina do Arizona, descreve a agonia e danos físicos que um crucificado passava na cruz.  Jesus teve suas costas ensangüentadas lançadas contra a madeira, depois, seus braços estendidos e fixados por um prego que perfurava cada um dos seus pulsos. Após a madeira vertical ser erguida, o pé esquerdo era pressionado contra o direito e um prego perfurava o peito dos dois pés, deixando o corpo moderadamente curvado. Quando Jesus colocava o peso sobre os seus pulsos pregados uma dor terrível corria pelos nervos medianos, indo desde os dedos das mãos, passando pelos braços até explodir no cérebro. Ao buscar jogar o peso do corpo sobre os pés, a dor começava novamente, partindo dos nervos entre os ossos metatársicos dos pés.

Os braços fatigados sofriam uma onda de cãibras que corriam para o meio do corpo e atingia os músculos da respiração. Com dificuldades de se movimentar para cima, o pulmão de Jesus e a corrente sanguínea experimentavam um acúmulo de dióxido de carbono e somente com muito sofrimento Jesus conseguia aspirar um pouco de oxigênio. Enquanto Ele tentava se movimentar para cima, os tecidos de seu corpo se rasgavam ainda mais, esfregados contra a madeira da cruz. Os insetos pousavam sobre as feridas abertas. A irrigação de sangue da cabeça e do coração ficava cada vez menor, até que o coração falhava, os pulmões já não mais conseguiam absorver o oxigênio necessário e a cabeça se inclinava para frente sobre o peito.

Em contraste com o sofrimento tormentoso de Jesus, os soldados absorvidos por sua ganância lançavam sortes para ver com que parte das roupas de Jesus cada um ficaria (15.24). A insensibilidade é total. Mas, a Palavra de Deus se cumpre conforme o Salmo 22.18: “Dividiram as minhas roupas entre si e lançaram sortes pelas minhas vestes”. Marcos registra o momento da crucificação como sendo a terceira hora do calendário romano, o que equivaleria às 9:00h (15.25). A história segue o compasso do reino de Deus e se intensifica, passando de “dia(s)” (cf. 11.12; 14.1; 14.12) para “hora”.

A inscrição que era feita de madeira, pintada com gesso e escrita com letras pretas ou vermelhas ratifica a sentença contra Jesus, ele, em alta traição a César, reivindicou para si o título de “rei dos judeus” (15.26). Ainda que o seu reino não fosse “deste mundo” (Jo 18.36) e não fosse fundado com o sangue de seus súditos, mas com o seu próprio sangue. Um senhor tão diferente incomoda os senhores deste mundo, pois, conquista servos que o amam mais que a própria vida (Ap 12.11).

A zombaria dos soldados romanos ainda continuou na crucificação, pois, colocaram Jesus entre os dois insurreicionistas, como se fosse o principal e o líder deles. Não são tronos que Jesus têm à sua direita e esquerda, como pensavam Tiago e João (cf. 10.37), mas duas cruzes com criminosos nelas (15.27). Talvez, estes criminosos tenham participado da mesma insurreição que Barrabás. A Palavra de Deus continua tendo a primazia na  história, pois, mesmo em meio à zombaria e vergonha, Isaías 53.12 se cumpriu: “e ele foi contado entre os transgressores” (15.28).

A instauração do reino de Deus tem origem num judeu de Nazaré, conhecido por suas boas obras entre o povo e pregado numa cruz. A cruz é o fundamento do evangelho. A humilhação de Cristo é a nossa glória. Nos sofrimentos físicos e vergonha pública de Jesus nós temos uma compreensão mais clara do amor de Deus. Tal amor só é possível ver com as lentes dadas pelo Espírito Santo: “E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações por meio do Espírito Santo que Ele nos concedeu ... Deus demonstra o seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores” (Rm 5.5, 8). Este amor nos assegura de que “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com ele, e de graça, todas as coisas” (Rm 8.32). O amor de Deus por nós na cruz do calvário é a demonstração de que Ele cumprirá todas as promessas que nos fez.

Tal sofrimento de Cristo em nosso lugar deve provocar em nós uma reação de devoção e entrega total. Por isso, na mesma carta de Romanos, Paulo nos exorta: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis os vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que o vosso culto espiritual. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, perfeita e agradável vontade de Deus” (Rm 12.1-2). Quando dois adolescentes dos irmãos morávios decidiram se vender como escravos para evangelizar os escravos na África e se despediram de sua família em prantos, eles afirmaram: “Não deve o Cordeiro receber a completa recompensa pelos seus sofrimentos?”.

Como tem sido nossa resposta a esta graça abundante de Deus? Será que percebemos o alto valor do sangue de Cristo em nosso favor? Será que brincamos e amamos demais este mundo e não somos capazes de amar mais a Cristo do que as nossas próprias vidas? Estamos dispostos a considerar tudo como perda por amor a Cristo? Queremos nos associar com Cristo não só em sua glória, mas, também, em seus sofrimentos e morte? Com que gana você segue a Jesus e toma a sua cruz? Em que medida você nega a si mesmo? O quanto você se doa pelas coisas deste mundo – trabalho, estudos, festas, passeios – e quanto você se entrega ao serviço devotado a Cristo?

O texto, também, nos mostra que nem todos percebem a profundidade do amor de Deus. Os soldados, de forma despreocupada e indiferente, lançavam sortes sobre as roupas dele, sem perceber a grandeza deste acontecimento na história redentora de Deus. O homem natural não entende as coisas de Deus, apenas o Espírito Santo é capaz de revelar a profundidade do amor de Deus a quem Ele quer: “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito” (1 Co 2.9-10). Não estranhe se algumas pessoas permanecem indiferentes à mensagem do evangelho de Cristo, pois, só podem ser sensibilizadas e tocadas por ela, pessoas às quais o nosso Deus chamar. 

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Universidade Mackenzie: Em Defesa da Liberdade de Expressão Religiosa

A Universidade Presbiteriana Mackenzie vem recebendo ataques e críticas por um texto alegadamente “homofóbico” veiculado em seu site desde 2007. Nós, de várias denominações cristãs, vimos prestar solidariedade à instituição. Nós nos levantamos contra o uso indiscriminado do termo “homofobia”, que pretende aplicar-se tanto a assassinos, agressores e discriminadores de homossexuais quanto a líderes religiosos cristãos que, à luz da Escritura Sagrada, consideram a homossexualidade um pecado. Ora, nossa liberdade de consciência e de expressão não nos pode ser negada, nem confundida com violência. Consideramos que mencionar pecados para chamar os homens a um arrependimento voluntário é parte integrante do anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. Nenhum discurso de ódio pode se calcar na pregação do amor e da graça de Deus.

Como cristãos, temos o mandato bíblico de oferecer o Evangelho da salvação a todas as pessoas. Jesus Cristo morreu para salvar e reconciliar o ser humano com Deus. Cremos, de acordo com as Escrituras, que “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). Somos pecadores, todos nós. Não existe uma divisão entre “pecadores” e “não-pecadores”. A Bíblia apresenta longas listas de pecado e informa que sem o perdão de Deus o homem está perdido e condenado. Sabemos que são pecado: “prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, contendas, rivalidades, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias” (Gálatas 5.19). Em sua interpretação tradicional e histórica, as Escrituras judaico-cristãs tratam da conduta homossexual como um pecado, como demonstram os textos de Levítico 18.22, 1Coríntios 6.9-10, Romanos 1.18-32, entre outros. Se queremos o arrependimento e a conversão do perdido, precisamos nomear também esse pecado. Não desejamos mudança de comportamento por força de lei, mas sim, a conversão do coração. E a conversão do coração não passa por pressão externa, mas pela ação graciosa e persuasiva do Espírito Santo de Deus, que, como ensinou o Senhor Jesus Cristo, convence “do pecado, da justiça e do juízo” (João 16.8).

Queremos assim nos certificar de que a eventual aprovação de leis chamadas anti-homofobia não nos impedirá de estender esse convite livremente a todos, um convite que também pode ser recusado. Não somos a favor de nenhum tipo de lei que proíba a conduta homossexual; da mesma forma, somos contrários a qualquer lei que atente contra um princípio caro à sociedade brasileira: a liberdade de consciência. A Constituição Federal (artigo 5º) assegura que “todos são iguais perante a lei”, “estipula ser inviolável a liberdade de consciência e de crença” e “estipula que ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política”. Também nos opomos a qualquer força exterior – intimidação, ameaças, agressões verbais e físicas – que vise à mudança de mentalidades. Não aceitamos que a criminalização da opinião seja um instrumento válido para transformações sociais, pois, além de inconstitucional, fomenta uma indesejável onda de autoritarismo, ferindo as bases da democracia. Assim como não buscamos reprimir a conduta homossexual por esses meios coercivos, não queremos que os mesmos meios sejam utilizados para que deixemos de pregar o que cremos. Queremos manter nossa liberdade de anunciar o arrependimento e o perdão de Deus publicamente. Queremos sustentar nosso direito de abrir instituições de ensino confessionais, que reflitam a cosmovisão cristã. Queremos garantir que a comunidade religiosa possa exprimir-se sobre todos os assuntos importantes para a sociedade.

Manifestamos, portanto, nosso total apoio ao pronunciamento da Igreja Presbiteriana do Brasil publicado no ano de 2007 [http://www.ipb.org.br/noticias/noticia_inteligente.php3?id=808] e reproduzido parcialmente, também em 2007, no site da Universidade Presbiteriana Mackenzie, por seu chanceler, Reverendo Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes. Se ativistas homossexuais pretendem criminalizar a postura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, devem se preparar para confrontar igualmente a Igreja Presbiteriana do Brasil, as igrejas evangélicas de todo o país, a Igreja Católica Apostólica Romana, a Congregação Judaica do Brasil e, em última instância, censurar as próprias Escrituras judaico-cristãs. Indivíduos, grupos religiosos e instituições têm o direito garantido por lei de expressar sua confessionalidade e sua consciência sujeitas à Palavra de Deus. Postamo-nos firmemente para que essa liberdade não nos seja tirada.

Este manifesto é uma criação coletiva com vistas a representar o pensamento cristão brasileiro.
Para ampla divulgação.

NOVO BLOG: BELEZA E PIEDADE


Aproveito o espaço do Fundamentalismo e Reforma para divulgar um novo Link da blogosfera que tem como alvo promover a edificação de mulheres cristãs com um foco bíblico e teocêntrico. É o Blog Beleza e Piedade, uma busca por trazer às mulheres cristãs brasileiras artigos devocionais que as desafiem a crescerem no caráter do Senhor Jesus. Vale a pena conferir.



Acesse o Blog AQUI


segunda-feira, 1 de novembro de 2010

UM LAMENTO POLÍTICO


Com uma tristeza temporária e lágrimas nos olhos, lamento a vitória de Dilma Roussef. Não creio que uma pessoa que usou de meios impróprios no passado, como assalto a bancos,[1] assalto a um cofre particular[2], participação de grupos terroristas como a Colina e a Var Palmares,[3] além do seqüestro de gente pública,[4] seja uma escolha sábia para a responsabilidade de governar o Brasil. A sua história demonstra mais um líder maquiavélico cujos fins justificam meios de agressividade e revolta, do que alguém de valores sólidos e absolutos como o respeito ao próximo e a liberdade de expressão sem agressão.


Alguém que usou de um discurso manipulador no 2º. Turno, dizendo-se “pró-vida”, mas tratando a questão do aborto como saúde pública, não como filosófica ou ética, demonstra a dubiedade de seus propósitos e projetos. Hoje, em seu pronunciamento como presidenta eleita, tinha ao seu lado Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda, homem de caráter absolutamente questionável e que se envolveu com vários escândalos de corrupção.[5]

Após um governo com tantos escândalos de corrupção, de quebras de sigilo, de assistencialismo no lugar de promoção do desenvolvimento social, o povo decidiu pela sua continuidade.

Graças a Deus, como cristão, posso elevar meus olhos para o alto, e saber que meu socorro vem do Criador de céus e terra (Sl 121.1-2), que um dia fará Seu reino de justiça e paz uma realidade (Is 2.1ss; Ap 20.1ss.).

Deus é o Soberano e presente governante das nações (Sl 146.6-10) administra todos os acontecimentos deste mundo, inclusive os de nosso país, com Seu propósito Sábio, a fim promover a Sua glória final (115.1, 3; Fp 2.10). Isso me consola e me permite viver debaixo de uma autoridade que foi por Ele instituída, antes do voto do próprio povo, como no caso de Dilma Roussef (Rm 13.1-2).


Mas, há espaço para um protesto diante da injustiça praticada pelo governo nos últimos 8 anos, com seus vários escândalos, da mesma forma que fizera o profeta Amós em sua época: “As suas mãos estão sobre o mal e o fazem diligentemente; o príncipe exige condenação, o juiz aceita suborno, o grande fala dos maus desejos de sua alma, e, assim, todos eles juntamente urdem a trama. O melhor deles é como um espinheiro; o mais reto é pior do que uma sebe de espinhos. É chegado o dia anunciado por tuas sentinelas, o dia do teu castigo; aí está a confusão deles.” (Am 7.3-4).

Na esperança do governante cujo nome é Fiel e Verdadeiro (Ap 19.11),

Tiago Abdalla


[1] Esta indicação consta na reportagem da ISTOÉ sobre Dilma Roussef, em 14 de Dezembro de 2005. Disponível em http://www.istoe.com.br/reportagens/15907_DILMA+ROUSSEFF.
[2] Ver a Reportagem da Revista Veja de 15 de Janeiro de 2003. Disponível em http://veja.abril.com.br/150103/p_036.html.
[3] WIKPEDIA. Dilma Roussef. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Dilma_Rousseff.
[4] Ver http://www.istoe.com.br/reportagens/15907_DILMA+ROUSSEFF.
[5] http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u89108.shtml.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

DOCUMENTÁRIO: POLÍTICA E O ABORTO


Como pastor, em minha igreja local, de modo algum defendo uma postura partidária pessoal. Mas como cidadão, tenho liberdade para isso e, portanto, posto no blog um documentário que nos alerta sobre a política do Partido dos Trabalhadores (PT) e sua postura radicalmente direcionada contra um princípio claro das Escrituras sobre o direito à vida.

O estado porta a espada não para tirar a vida de inocentes, mas para punir aqueles que ameaçam a paz e a justiça na sociedade (Rm 13.3-4). A Bíblia é taxativa em dizer que quem dá ou tira a vida é Deus (1 Sm 2.6-7), sendo vetado a qualquer ser humano este direito (Gn 9.5-6).

Assista o vídeo abaixo, e pense, seriamente, em quem votar no 2o. Turno.


sábado, 25 de setembro de 2010

UMA JORNADA PELA LIBERDADE

Conjugando Cristianismo e Política

Nesta época de eleições, as conversas rotineiras em nossas igrejas, trabalhos e faculdades mudam. Quem nunca comentou ou ouviu alguém falar sobre os candidatos do momento, como Tiririca, Dinei ou Maluf? Questões como defesa ou não do aborto, a lei contra a homofobia, economia e ação social tomam espaço significativo em nossas conversas.

No último mês, tenho refletido com os jovens de minha igreja sobre a perspectiva bíblica quanto a questões sociais e políticas. Conversamos sobre os valores cristãos e a importância de sermos crentes que fazem diferença na sociedade em que vivemos. Vimos como a visão do Deus que governa de modo absoluto e estabelece governantes, bem como a compreensão da pecaminosidade natural da raça humana, afetam o nosso entendimento do melhor tipo de governo e na opção de nossos candidatos. Interagimos com escritos de Calvino, Kuyper, Mohler, Piper e Lewis, na busca por companheiros de peregrinação em nossa jornada pelas Escrituras.

Hoje, assistimos o filme "Uma jornada pela Liberdade" que conta a história de William Wilberforce. Ele foi um parlamentar inglês, ovelha do famoso e humilde pastor John Newton (autor do hino Amazing Grace), e que, consciente de sua vocação cristã, lutou por toda a sua vida contra o tráfico negreiro e, por fim, contra a própria prática da escravidão. Foram anos de luta. Quando pensou em desistir da vida política para se dedicar às "coisas de Deus", um grupo de Quackers o desafiou a fazer as duas coisas, isto é, servir a Deus dentro da sua posição política na Câmara dos comuns, o parlamento inglês.

Enquanto assistia o filme de Wilberforce, pensava na maioria dos políticos evangélicos atuais: alguns nem sabem o que farão quando eleitos, outros querem apenas favorecer os evangélicos ou o poder para si e suas igrejas. Como carecemos de políticos semelhantes a Wilberforce que são conscientes de seu chamado por Deus para exercerem com zelo a vida pública, pensando no bem comum, e como precisamos de eleitores cristãos que  exercem a sua cidadania de forma consciente, refletindo como bem utilizar o seu voto.

Quero incentivar o leitor e amigos de ministério que assistam com suas ovelhas  e amigos, o filme sobre Wilberforce, "Uma Jornada pela liberdade", e leiam o excelente livro de John Piper "Maravilhosa Graça na vida de William Wilberforce", publicado pela editora Tempo de Colheita. A vida de Wilberforce é como beber águas límpidas de uma fonte abundante, enquanto nos encontramos intoxicados com o veneno do lema de que "política é um lugar sujo" ou a concepção de que "os evangélicos têm que alcançar influência na política".

Querido Pai, muito obrigado pelo exemplo e luta de William Wiberforce em prol dos valores do Teu reino e do bem comum. Levanta homens cristãos, conscientes da sua vocação e íntegros na busca pelo bem de nossa sociedade, cumprindo o seu papel de sal da terra e luz do mundo. Em nome de Jesus. Amém!

domingo, 19 de setembro de 2010

VOTANDO COMO SE NÃO VOTÁSSEMOS

John Piper
INTRODUÇÃO

Votar é como se casar, chorar, rir e comprar. Nós devemos fazer isso, mas apenas como se não o fizéssemos. Isso porque “a forma presente deste mundo está passando”, e, aos olhos de Deus, “o tempo é curto”. Eis a forma como Paulo expõe isto:

O que quero dizer é que o tempo é curto. De agora em diante, aqueles que têm esposa, vivam como se não tivessem; aqueles que choram, como se não chorassem; os que estão felizes, como se não estivessem; os que compram algo, como se nada possuíssem; os que usam as coisas do mundo, como se não as usassem; porque a forma presente deste mundo está passando. (1 Coríntios 7.29-31).
Vamos tomar cada uma destas ações por vez e compará-las com a ação de votar.

  1. “Aqueles que têm esposa, vivam como se não tivessem”
Isto não significa sair de casa, não ter relações sexuais, e não chamar sua esposa de “docinho”. Anteriormente, neste capítulo, Paulo disse: “O marido deve cumprir os seus deveres conjugais para com a sua mulher, e da mesma forma a mulher para com seu marido” (1 Co 7.3). Ele, também, diz que os maridos devem amar as suas esposas da mesma forma que Cristo amou a Igreja, liderando, provendo e protegendo (Ef 5.25-30). O que isto significa é que o casamento é transitório. Ele acaba com a morte e não há casamento na ressurreição. Esposas e maridos são a segunda das prioridades, não a primeira. Cristo é a primeira. O casamento deve fazer de Cristo ainda mais importante para nós.
Isto significa: se ela é perfeitamente desejável, cuidado para não desejá-la mais do que Cristo.  E se ela profundamente desapontadora, cuidado para não se sentir ferido demais. Isto é temporário – dura apenas o breve período de uma vida. Então, virá a vida que nunca desaponta, a qual é a verdadeira vida.
Assim acontece com o “votar”. Nós devemos fazer isso, mas apenas como se não o fizéssemos. Os seus resultados não nos dão a maior alegria quando ocorrem do nosso jeito, e não nos desmoralizam, quando não ocorrem. A vida política deve fazer mais de Cristo, seja o mundo desabando ou permanecendo unido.

  1. “Aqueles que choram como se não chorassem”
Cristãos choram com real, profundo e doloroso choro, especialmente diante de perdas – perda daqueles que amamos, perda de saúde, a perda de um sonho. Estas perdas nos machucam e nós choramos quando elas nos machucam. Mas nós choramos, como se não chorássemos. Nós choramos, sabendo que não perdemos algo tão valioso que não possamos nos regozijar em meio ao nosso choro. Nossas perdas não nos incapacitam. Elas não nos cegam para a possibilidade de um futuro frutífero servindo a Cristo. O Senhor dá e o Senhor toma. Mas, Ele permanece bendito e nós continuamos esperançosos em nosso choro.
Assim é com o “votar”. Há perdas. Nós choramos. Mas não como aqueles que não possuem esperança. Nós votamos e perdemos ou votamos e vencemos. Em ambos os casos nós vencemos e perdemos como se não estivéssemos vencendo ou perdendo. Nossas expectativas e frustrações são modestas. O melhor que este mundo pode oferecer é curto e pequeno. O pior que ele pode oferecer já fora predito no livro do Apocalipse. E nenhum voto deterá isso. A curto prazo, os cristãos perdem (Ap 13.7). A longo prazo, nós vencemos (Ap 21.4).

  1. “Os que estão felizes como se não estivessem”
Os cristãos se alegram na saúde (Tg 5.13) e doença (Tg 1.2). Há milhares de coisas boas e perfeitas que vêm de Deus e que despertam o sentimento de alegria. O clima belo, bons amigos que desejam passar tempo conosco, comida deliciosa e alguém com quem compartilhá-la, um plano bem sucedido, uma pessoa ajudada pelos nossos esforços.
Mas nenhuma destas coisas boas e belas pode satisfazer a nossa alma. Até a melhor delas não pode substituir aquilo para o qual nós fomos feitos, a completa experiência do Cristo ressurreto (Jo 17.24). Inclusive a comunhão com ele aqui não é o dom melhor e último. Há muito mais dele para experimentar depois da morte (Fp 1.21-23) – e ainda mais depois da ressurreição. As melhores experiências aqui são um antegozo. Os melhores vislumbres de glória ocorrem por meio de um espelho embaçado. A alegria que desponta destas apresentações prévias não são nem devem se elevar ao nível da esperança da glória. Estes prazeres um dia serão como se não fossem. Então, nós nos alegramos lembrando que esta alegria é um antegosto e será substituída por uma alegria enormemente melhor.
Assim é com o “votar”. Há alegrias. O próprio ato de votar é uma alegre declaração de que não estamos debaixo de um tirano. E pode haver vitórias felizes. Mas o melhor governo que nós podemos alcançar é simplesmente uma prefiguração. A paz e a justiça são aproximadas, agora. Elas serão perfeitas quando Cristo vier. Por isso, a nossa alegria é modesta. Nossos triunfos têm vida curta e estão marcados com a imperfeição. Assim, nós votamos como se não votássemos. 

  1. “Os que compram algo, como se nada possuíssem”
Que os cristãos continuem comprando, enquanto esta era dura. Cristianismo não é se afastar dos negócios. Nós estamos envolvidos, mas como se não estivéssemos envolvidos. Os negócios não possuem o peso nos nossos corações como têm para muitos. Tudo o que nós alcançamos e temos neste mundo é alcançar e ter coisas que não são, em última análise, importantes. Nosso carro, nossas casa, nossos livros, nosso computador, nossos objetos de herança – nós os possuímos com um apego solto. Se eles são tomados, nós dizemos que num certo sentido nós não os tínhamos. Não estamos aqui para possuir, mas para ajuntar tesouros nos céus.
Este mundo material é importante, mas não é final. Este é o estágio para vivermos de tal modo a mostrar que este não é o nosso Deus, mas que Cristo é o nosso Deus. Este é o momento para usarmos do mundo a fim de mostrarmos que Cristo é mais precioso que o mundo.
Assim, também é com o “votar”. Nós não nos esquivamos. Estamos envolvidos, mas como se não estivéssemos envolvidos. A política não possui o peso maior para nós. Esta é mais uma plataforma para agirmos a partir da verdade que Cristo, e não a política, é Supremo.

  1. “Os que usam as coisas do mundo, como se não as usassem”
Cristãos devem lidar com este mundo. Ele está aqui para ser usado. Use-o. Não há como evitá-lo. Não usá-lo é usá-lo de outra forma. Não cuidar de seu jardim é cultivar ervas daninha nele. Não usar casaco no inverno de São Paulo significa congelar-se – isso é lidar com o frio de outra forma. Não parar quando o sinal está vermelho é gastar o seu dinheiro com multas e contas de hospital, e, assim, usar o mundo de outra forma. Nós devemos usar o mundo.
Mas quando nós usamos o mundo, não lhe damos a nossa maior atenção. Não designamos a este mundo o status maior. Há coisas invisíveis que são infinitamente mais preciosas que o mundo. Nós utilizamos do mundo sem dar a ele a nossa alma por completo. Podemos trabalhar com todas as nossas forças enquanto lidamos com o mundo, mas as paixões completas dos nossos corações estarão fincadas em algo muito maior – os propósitos direcionados para Deus. Usamos o mundo, mas não como se fosse um fim em si mesmo.
Assim é com o “votar”. Nós lidamos com o sistema. Observamos as notícias. Lidamos com os candidatos e tratamos das questões. Nós lidamos com estas questões como se não estivéssemos lidando com elas. Elas não possuem a nossa mais completa atenção. Elas não são as maiores coisas de nossas vidas. Cristo é. E Cristo governará o seu povo com perfeita supremacia, não importa quem é eleito, quem permanece no poder ou quem caia. Deste modo, nós votamos, como se não votássemos.
Sem dúvida, vote. Mas lembre-se: “O mundo e os seus desejos passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (Jo 2.17).
Votando com vocês, como se não votasse,
Pastor John

 Traduzido e Adaptado por Tiago Abdalla T. Neto
Texto Original "Let Christians vote as though they were not voting"
Disponível em  http://www.desiringgod.org

sexta-feira, 30 de julho de 2010

4a. Conferência de Aconselhamento Bíblico - NUTRA

No próximo dia 14 de Agosto, o Núcleo de Treinamento, Recursos e Aconselhamento Bíblico (NUTRA) estará promovendo a sua 4a. Conferência de Aconselhamento! O local da Conferência será Igreja Batista de Vila Mariana.

Esta é uma ótima oportunidade para o crescimento e aprendizado de pastores e líderes de igrejas, que se envolvem constantemente com pessoas e ministram a elas em suas mais diversas situações de vida. Eu estive, pessoalmente, na 3a. Conferência de Aconselhamento promovido pelo NUTRA e fui, grandemente, enriquecido com as palestras do Dr. Sam Williams. Este ano será o Dr. Lou Priolo. Não perca!


domingo, 16 de maio de 2010

WAYNE GRUDEM


Quem transita pelo meio teológico, certamente, já ouviu falar em Wayne Grudem.

Ph.D. pela Universidade de Cambridge e professor da reconhecida Trinity Divinity School, Grudem tem escrito várias obras nas áreas de Teologia Sitemática e de Teologia Prática. Eu, pessoalmente, fui influenciado pela sua literatura, quando li, em meu 4o. ano de seminário, a sua opus magna Teologia Sistemática (Ed. Vida Nova), e venho sendo muito abençoado, no ministério, pelos seus dois livros editados sobre Masculinidade e Feminilidade Biblicas, um deles em co-edição com John Piper - Biblical Foundations for Manhood and Womanhood e Recovering Biblical Manhood and Womanhood: a response to evangelical feminism. Esta duas obras têm, inclusive, servido de base para as nossas Escolas Bíblicas na igreja em que pastoreio (IBNE).

Segue um vídeo informativo e divertido sobre este importante teólogo.




Se fosse resumir em algumas palavras as qualidades de Grudem, diria que ele é profundo em sua abordagem bíblica, claro em seu desenvolvimento teológico, relevante nas aplicações e sensível às diferenças existentes no meio evangélico conservador. Há aspectos teológicos que discordo de Grudem, mas, certamente, aqueles que lerem as obras deste teólogo serão provocados à reflexão e edificados na fé. Vale a pena "ler Wayne Grudem".

Abaixo alguns links que você pode acessar para conhecer e adquirir livros de Grudem:

Teologia Sistemática

Entenda a Fé Cristã

Famílias Fortes, Igrejas Fortes

Manual de Doutrinas Cristãs

Cessaram os Dons Espirituais?

domingo, 25 de abril de 2010

A EXPRESSÃO "EU SOU" NO EVANGELHO DE JOÃO

Seu Contexto Bíblico e Implicações Cristológicas

Tiago Abdalla T. Neto

Há uma percepção entre os estudiosos do Novo Testamento, de que a cristologia apresentada pelo evangelho de João aprofunda e expressa, de forma mais clara que os outros evangelistas, a divindade de Jesus (cf. 1.1, 18; 20.28). Ali, por exemplo, encontramos a declaração direta de Tomé, após se deparar com o Jesus ressurreto:  κύριός μου καὶ  θεός μου. (“Senhor meu! E Deus meu!”) (Jo 20.28).

Além disso, salta-se aos olhos de qualquer leitor cuidadoso o uso constante da expressão ἐγώ εἰμι (“Eu sou”), a qual aparece vinte e quatro vezes em João, sempre nos lábios de Jesus e varia em seu significado, dependendo do contexto que está inserida (cf. Jo 4.26; 6.20, 35, 41, 48, 51; 8.12, 18, 24, 28, 58; 9.9; 10.7, 9, 11, 14, 25; 13.19; 14.6; 15.1; 15.5; 18.5, 6, 8). Distinguem-se dois usos da fórmula “Eu sou” por Jesus. Um deles é acompanhado por predicados, tais como “Eu sou o pão da vida” (6.20), “Eu sou a luz do mundo” (8.12), “Eu sou a porta das ovelhas” (10.7), “Eu sou o bom pastor” (10.11), “Eu sou a ressurreição e a vida” (11.25), “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (14.6), “Eu sou a videira verdadeira” (15.1).

Outro uso da expressão ἐγώ εἰμι é o absoluto (sem um predicado) e aparece de modo muito sugestivo, cujo cenário de origem deve remontar a Êxodo 3.14[1] e às suas várias ocorrências no Antigo Testamento:

O fundo contextual para as declarações “Eu sou”, especialmente as usadas de modo absoluto, não deve ser encontrado no mundo helenístico, mas no Velho Testamento (Êx 3.14), e em Isaías, Deus deve ser reconhecido como “Eu sou” (Is 41.4; 43.10; 46.4, etc.). Stauffer argumenta que esta expressão é a “mais autêntica, a mais autocrática, a mais audaciosa e a mais profunda afirmação, procedente de Jesus, a respeito de quem ele era”. Através desta expressão peculiar, Jesus elevou-se muito acima de todas as expectações messiânicas contemporâneas aos seus dias e vindicou que a epifania histórica de Deus estava ocorrendo em sua vida ... parece que está acima de qualquer questionamento que, através do uso da expressão egw eimi em sua forma absoluta, Jesus está, em um sentido bem real, identificando-se com o Deus do Velho Testamento.


segunda-feira, 19 de abril de 2010

DISPENSACIONALISTAS TAMBÉM PENSAM: exegese e escatologia em Marcos 13.14-23

Parte 2


13. ... (15) quem estiver em cima, no eirado, não desça nem entre para tirar da sua casa alguma coisa; (16) e o que estiver no campo não volte atrás para buscar a sua capa.
(17) Ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias!  (18) Orai para que isso não suceda no inverno. (19) Porque aqueles dias serão de tamanha tribulação como nunca houve desde o princípio do mundo, que Deus criou, até agora e nunca jamais haverá. (20) Não tivesse o Senhor abreviado aqueles dias, e ninguém se salvaria; mas, por causa dos eleitos que ele escolheu, abreviou tais dias.


A segunda parte do texto bíblico, em análise, desta série (1o. Artigo, clique aqui) nos informa que a grande tribulação virá de forma tão iminente e brusca que “pegará” muitos de surpresa, a ponto de que os que estiverem em cima de suas casas, talvez dormindo ou realizando alguma atividade (os telhados eram planos e muito do dia-a-dia ocorria ali), precisarão fugir, deixando tudo para trás, sem levar nada consigo (v. 15). Da mesma forma, os que estiverem trabalhando no campo precisarão fugir, sem sequer levar consigo sua capa, para se aquecerem durante a noite fria nas montanhas (v. 16). Grávidas e mulheres que amamentarem encontrarão maior dificuldade pela urgência da fuga e a necessidade de correrem com seus bebês (v. 17). O inverno na Palestina é uma estação de muita chuva, em que os rios transbordam e os caminhos, enlameados, tornam-se quase intransitáveis (v. 18). Este será um momento de tribulação intensa, sem igual em época alguma (v. 19; cf. hai hemerai ekeinai thlipsis com v. 24), mas  já prevista por Jeremias e Daniel, como um momento que antecederia a salvação de Israel e o fim dos tempos (Jr 30.7ss; Dn 12.1ss).
Digno de nota é que ambas as profecias do AT são um prenúncio de tribulação intensa, especialmente, sobre a nação de Israel. A profecia do Senhor Jesus parece se apoiar nesta perspectiva, pois, faz referência especificamente aos moradores da Judéia (v. 15), cujo clima no inverno dificultaria, em muito, a fuga (v. 18), e fala de uma tribulação enorme que antecederá um momento de poderosa salvação para os seus eleitos (vv. 19, 24-27).
Outro paralelo textual, que não pode ser deixado de lado, é a descrição encontrada no livro de Apocalipse, capítulo 12, em que uma mulher que representa a nação de Israel (Ap 12.1 com Gn 37.9-11; Ap 12.5 com Rm 9.1-5) foge de uma perseguição promovida pelo próprio Satanás (vv. 6, 13-14), quando pouco tempo lhe restava, antes de ser vencido (Ap 12.12; cf. 19.19 – 20.3).
Nada disso foge da providência divina, que cuida e se preocupa com seus eleitos (v. 20), uma expressão tanto para Israel (1 Cr 16.13; Sl 105.43; Is 65.9, 15) quanto para gentios salvos e participantes da Nova Aliança (1 Pe 1.1; 2 Tm 2.10; Cl 3.12). Foi Deus quem determinou a brevidade deste período, a fim de salvar Seu povo de tal tribulação. A soberania divina, todavia, não anula a responsabilidade destes eleitos de orarem e clamarem pela misericórdia de Deus num período de tamanha provação (v. 18).
Adolf Pohl questiona o fato de que, se Marcos 13.14-23 trata sobre a grande tribulação, por que o texto não apresenta esta tribulação alcançando o mundo inteiro? (POHL, p. 372). Mas ele ignora um detalhe do verso 20, que diz que, caso tais dias não fossem abreviados, “toda a carne não se salvaria” (ouk esothe pasa sarx), sendo que “toda carne” (pasa sarx) é uma expressão bíblica para indicar a humanidade em sua totalidade (cf. Lc 3.6; Gl 2.16; 1 Pe 1.24). 

domingo, 28 de março de 2010

DISPENSACIONALISTAS TAMBÉM PENSAM: exegese e escatologia em Marcos 13.14-23

PARTE 1


"Quando vocês virem ‘o sacrilégio terrível’ no lugar onde não deve estar — quem lê, entenda — então, os que estiverem na Judéia fujam para os montes." (Marcos 13.14)

A PROFANAÇÃO DO TEMPLO

Em textos passados,  observei que os acontecimentos descritos pelo Senhor Jesus em Marcos 13.1-13 se relacionavam não com eventos necessariamente ligados ao término dos tempos, mas à destruição do templo, em 70 A.D., e ao todo do período da igreja, precedente à grande tribulação e à vinda de Cristo. A partir do verso 14, o Senhor Jesus parece descrever eventos ligados aos finais dos tempos. Primeiramente, porque o texto fala sobre uma tribulação tamanha, tal qual não houve antes e nunca haveria igual (v. 19). Além disso, o verso 24 nos dá uma chave para interpretar os acontecimentos, pois, naqueles dias, após aquela tribulação, a vinda do Senhor Jesus ocorreria (en ekeinais tais hemerais metá ten thlipsin ekeinen - vv. 24-26). Assim, interpretar os acontecimentos como apenas ligados aos acontecimentos da guerra dos judeus e a eventual queda de Jerusalém, entre 66-70 A.D., é desconsiderar os dados do próprio texto.

Um dos acontecimentos ligados à grande tribulação final é o aparecimento do abominável da desolação, uma expressão originada no profeta Daniel (Dn 9.27; 11.31; 12.11cf. Mt 24.15) e que se relaciona ao término dos sacrifícios no templo e a profanação deste. Há uma relação desta expressão de Daniel com o que ocorreu na época dos Macabeus, em 167 a.C. (1 Mc 1.54-59; 6.7), quando um representante de Antíoco Epifânio ergueu um altar pagão sobre o altar de bronze do templo e sacrificou uma porca ali, em homenagem ao deus Zeus (cf. Dn 11). Mas, sabemos que esta profecia não se limita apenas a este acontecimento, já que Jesus fez referência a ela como algo a ocorrer no futuro.

Há uma disputa acirrada entre os comentaristas quanto ao momento do cumprimento desta profecia de Jesus. Vários dizem ter tal anúncio se cumprido durante a revolta judaica, entre 66-70. Alguns dizem que o “abominável da desolação” é a invasão do exército romano em Jerusalém e a destruição por eles do templo, no ano 70 A.D (ver HURTADO, NICB, p. 215-217). Outros dizem que isso ocorreu quando os zelotes instituíram Fani, um homem primitivo, como sumo-sacerdote e o fizeram entrar no santo dos santos (ver POHL, p. 372-373).

O grande problema com estas interpretações é que elas não levam em conta, o suficiente, as indicações, dos versos 19 e 24, de que estes acontecimentos se relacionavam com o fim dos tempos e que a expressão “mas” (), em 13.14, aponta para um contraste entre os acontecimentos de 4-13 e os de 14-23.

Daniel, também, relaciona o aparecimento do “abominável da desolação” com o final dos tempos, quando o povo de Deus será purificado por Ele e, então, liberto (Dn 12.1-3, 9-12). Além disso, o apóstolo Paulo menciona uma cena muito semelhante, quando o Anticristo se assentará no “santuário de Deus” e reivindicará para si a própria divindade, mas será destruído pela vinda do Senhor Jesus (2 Ts 2.3-4, 7-10). Este último texto se assemelha muito com a cena de Marcos 13, que fala do “abominável da desolação” se colocando “no lugar em que não deve” (v. 14) e, logo após a tribulação de tais dias, o Senhor Jesus vindo para salvar seu povo (vv. 24-26).

O sinal claro, então, dos fins dos tempos não é, necessariamente, guerras ou terremotos, ou fomes ou falsos profetas. Mas, sim, a revelação do Anticristo e sua profanação do templo de Deus, em Jerusalém. Qualquer alarde desvinculado disso é jogar tempo fora e perder de perspectiva a nossa missão (vv. 9-11).

sexta-feira, 26 de março de 2010

NO CONTEXTO DO FIM - Parte 3

A MISSÃO EM MEIO À OPOSIÇÃO DOS HOMENS E DA FAMÍLIA
Marcos 13.9-13





9Estai vós de sobreaviso, porque vos entregarão aos tribunais e às sinagogas; sereis açoitados, e vos farão comparecer à presença de governadores e reis, por minha causa, para lhes servir de testemunho. 10Mas, é necessário, primeiro, que o evangelho seja pregado a todas as nações.
11Quando, pois, vos levarem e vos entregarem, não vos preocupeis com o que haveis de dizer, mas o que vos for concedido naquela hora, isso falai; porque não sois vós os que falais, mas o Espírito Santo.

12Um irmão entregará à morte outro irmão, e o pai, ao filho; filhos haverá que se levantarão contra os progenitores e os matarão. 13Sereis odiados por todos por causa do meu nome; aquele, porém, que perseverar até o fim, será salvo.

Nestes versículos, Jesus fala sobre a perseguição que seus discípulos enfrentariam. Isso ocorreria tanto por parte dos judeus em suas sinagogas, como diante de governadores e reinos gentios de sua época (v. 9). Em lugar de se acanharem, os seguidores do Mestre deveriam aproveitar esta oportunidade “como testemunho a eles” (v. 9; cf. 21.13). Por isso, Marcos insere este dito de Jesus no texto: “é necessário que primeiro o evangelho seja pregado a todas as nações” (v. 10). Há um progresso no evangelho de Marcos em que as boas novas do Reino são expandidas, em sua prioridade, da nação de Israel (1.15; 7.27) para todos os gentios.

A oposição intensa que poderia gerar medo nos discípulos é substituída pela coragem e sabedoria em anunciar o evangelho. Eles não fariam isso por sua própria coragem, mas, pela capacitação dado pelo Espírito Santo que os guiaria quanto ao que dizer (v. 11; cf. At 1.8). A oposição não paralisa os discípulos, pois estes vêem as situações adversas como oportunidade para proclamarem o evangelho. Nossa missão não é cercada de sucessos, mas de lutas constantes.
Atanásio, o pastor da igreja de Alexandria, lutou durante muito tempo pelo correto e bíblico entendimento da divindade de Jesus, como um atributo necessário para a nossa salvação. Durante a sua vida, ele foi exilado várias vezes e quase o mundo ao seu redor negou a plena divindade de Cristo. Mas ele batalhou pela verdade, e sua crença de que Jesus é Deus foi mantida pelo cristianismo como um todo. Por permanecer firme e defender pureza das boas novas, mesmo diante das mais intensas oposições, ele era chamado de “Atanásio contra o mundo”. Nós, também, estamos contra o mundo e, ao mesmo tempo, a favor do mundo. Negamos aceitar o sistema de rebeldia que impera sobre as pessoas, ao nosso redor. Por outro lado, proclamamos a elas as notícias belas da salvação somente em Jesus.
Tal oposição não será somente no aspecto macro. Não apenas reis e governantes nos perseguirão, mas, muito mais profundo, pessoas de nossa família se oporão de forma intensa ao evangelho que abraçamos. Irmão contra irmão, pai contra filho e filhos contra pais. Esta oposição, também, não deve nos calar, mas podemos ser testemunhas vivas do Mestre a quem servimos e adoramos.
A esperança raia no verso 13. Aquele que perseverar até o fim, dizer não às facilidades e propostas deste mundo, por amor a Jesus, será salvo do caos moral presente no universo em que vivemos. Nossa expectativa é de salvação e do Reino Glorioso de nosso salvador (cf. vv. 26-27).
Como seguidores de Jesus, precisamos estar cientes de que “todos quantos quiserem viver piedosamente hão de ser perseguidos” (2 Tm 3.12). Jesus não nos prometeu uma vida com “lentes cor de rosa”. Quando olhamos para o livro de Atos, percebemos a igreja sofrendo oposição de todos os lados. As autoridades ficam alarmadas e perseguem a primeira igreja de Atos, proibindo os apóstolos de falarem de Jesus. Mas, foram nesses momentos que os apóstolos aproveitaram para testemunhar que não há salvação em nenhum outro além de Jesus (At 4.11-12) e importa obedecer a Deus do que aos homens (At 5.29-32).
Como você reage diante de perseguições? Você cede às pressões dos colegas no trabalho?   Você segue a rota mais fácil para não precisar enfrentar a oposição? Quando seus familiares ou amigos propõem algo contrário à mensagem do evangelho, você está disposto a seguir a Jesus, mesmo que alguns fechem a cara para você e outros riam de você pela sua devoção a Deus? Você se identifica com Jesus em todos os momentos de sua vida? O que tem mais valor para você a glória deste mundo ou a gloriosa esperança do reino de Cristo?
Precisamos avaliar nossa prática missionária: temos sido ativos na nossa proclamação do evangelho? De que forma temos apoiado a sua expansão por todas as nações? Diante da oposição você se enche de auto-comiseração ou mantém a esperança viva do evangelho e compartilha as boas novas no pouco tempo que lhe resta? Nós fazemos missões mesmo em meio as mais intensas oposições.

terça-feira, 23 de março de 2010

NO CONTEXTO DO FIM - Parte 2

Meditações em Marcos 13


A ESPERANÇA EM MEIO AO ENGANO E AO CAOS MUNDIAL – vv. 3-8


"3Tendo Jesus se assentado no monte das Oliveiras, de frente para o templo, Pedro, Tiago, João e André lhe perguntaram em particular: 4“Dize-nos, quando acontecerão essas coisas? E qual será o sinal de que tudo isso está prestes a cumprir-se?”
5Jesus lhes disse: “Cuidado, que ninguém os engane. 6Muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’ e enganarão a muitos. 7Quando ouvirem falar de guerras e rumores de guerras, não tenham medo. É necessário que tais coisas aconteçam, mas ainda não é o fim. 8Nação se levantará contra nação, e reino contra reino. Haverá terremotos em vários lugares e também fomes. Essas coisas são o início das dores."


As palavras de juízo por parte de Jesus geraram curiosidade nos discípulos, especialmente, dos primeiros que ele havia chamado (v. 3; cf. Mc 1.16-20). Agora, está a sós com eles, e a pergunta que fazem é sobre o momento em que estas coisas ocorrerão (a destruição do templo) e o cumprimento delas. O texto paralelo de Mateus 24.3, deixa claro que o conceito de cumprimento, em Marcos 13.4, na mente dos discípulos, estava relacionado com o final dos tempos. Isso porque o livro de Daniel relaciona o evento da destruição do templo com outros acontecimentos de natureza escatológica (cf. Dn 9.25-27 e 12.7 com 7.11-14, 23-27).

O Mestre Jesus começa a discursar que sua preocupação principal não é fornecer indícios sobre o final dos tempos, mas alertar seus discípulos para aquilo que viria antes e, então, descrever os acontecimentos finais (cf. v. 14 e 19). A partir do verso 5 temos a descrição de vários acontecimentos enfrentados pela comunidade dos discípulos de Jesus, ao longo da história. Tanto que o Senhor Jesus enfatiza que “ainda não é o fim” e “estas coisas são o princípio das dores”.

Há um alerta para que os discípulos não se deixassem levar por pessoas que poderiam reivindicar sobre si o título de Messias, enganá-los e desviá-los do verdadeiro Cristo, o Senhor Jesus, já que seu poder de persuasão seria capaz disso (v. 6 – enganarão a muitos). A escatololatria latente dos discípulos era uma armadilha neste sentido. Beasley-Murray fala que a situação na Palestina antes de 70 d.C. era um ambiente propício para homens que afirmassem terem autoridade messiânica ou serem precursores do Reino.

Claramente, o Senhor Jesus está preparando seus discípulos para o futuro, em que já não teriam mais o Mestre fisicamente para guiá-los. Então, ele prediz as futuras guerras e conflitos entre reinos e nações, além de desastres naturais como terremotos e fome. Isso tudo poderia gerar uma preocupação muito forte com o fim do mundo e alienar seus discípulos para com a situação ao redor ou produzir desespero. Mas, Jesus os acalma, isto não é o fim, é apenas o princípio das dores (vv. 7 e 8). O sofrimento se intensificará, ainda mais, e os discípulos devem ser criteriosos para não se alarmarem antes do tempo.

Por outro lado, a expressão “princípio das dores” é, geralmente, uma expressão usada no AT para falar de um momento de sofrimento que precederá um futuro de grande glória para o povo de Deus (cf. Is 6.8-14; Mq 6.9-13). O Reino de Deus já havia raiado por meio de Jesus Cristo (Mc 1.15; Mt 12.28), mas a concretização ainda aguardava seu futuro (Mc 13.26-27). Os discípulos não deveriam se preocupar com a exatidão do “quando” ou se desesperarem com os acontecimentos ao redor, mas viverem o “hoje” motivados e alimentados pela esperança do “futuro”, quando o Reino de Deus nasceria.

Diante da realidade que vivemos, muitos têm sido facilmente levados pela escatololatria. Vêem os terremotos no Haiti e Chile, a unificação de moeda promovida pelo euro, o Barack Obama restabelecendo relações com outros países, a descoberta arqueológica em Jerusalém que pode remeter ao templo de Salomão, a fome nos países africanos e começam ser absorvidos por estes fatos, paralisados com os prenúncios do fim e se preocupam meramente em fazer cálculos e acompanhar as últimas notícias para ver se Jesus chega logo. Hoje, nosso problema não é tanto em identificar o Messias, mas sim, o Anticristo. É muito comum vermos pessoas discutindo se Bill Gates, Obama ou qualquer outra grande figura mundial poderia ser o Anticristo. A Bíblia nunca nos ensina a fazer isso.

Ao contrário, a palavra de Jesus para aqueles que se deixam dominar por estas preocupações é que isso não deve ser assim. Esses são apenas os princípios das dores. O Rei virá, como um ladrão. Ninguém sabe a data ou a hora, apenas o Pai. Por isso, escatologia que aliena as pessoas do mundo, não é a escatologia do Senhor Jesus. A esperança da vinda de Jesus deve nos encher de força e disposição de espalhar a esperança nEle, enquanto o fim não chega.

Devemos ansiar dia após dia pela vinda de Cristo, a fim de não nos desesperarmos com o que ocorre ao nosso redor. Muitos têm roubado essa esperança da igreja, dizendo que não haverá mais a vinda física do Senhor Jesus. Nós rejeitamos totalmente esta mensagem. Mas, a esperança em Jesus deve nos motivar a missão, como os versos seguintes deixarão claro.

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