segunda-feira, 16 de novembro de 2009

REPENSANDO A ADOÇÃO BIBLICAMENTE

PARTE 1
Carol Amy[1]

A DEFINIÇÃO DIVINA DA VERDADEIRA RELIGIÃO

Tiago 1.27 diz: “A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo”. Em nossa sociedade há muitas crianças que não são órfãs no sentido estrito da palavra. Elas têm pais vivos, mas esses são incapazes (geralmente por causa de atos do governo) ou não querem criá-las. Alguns perderam o direito paterno; outros se dispuseram voluntariamente a renunciar esse dever. Embora não sejam exatamente órfãs, elas não têm pais e precisam da proteção, conforto e orientação que um casal crente pode oferecer. Crer e obedecer a esta passagem pode tirar rapidamente o casal do desespero e da autopiedade e fazer com que encarem suas responsabilidades e oportunidades. Um casal pode ensinar a um órfão sobre o amor de Jesus. Lembre-se, é no serviço cristão que perdemos a vida por causa de Cristo e, portanto, nEle a achamos. É no serviço cristão que nossa verdadeira bênção é recebida e é em Cristo que encontramos a verdadeira alegria. Férteis ou não, solteiras ou casadas, somos chamadas para cuidar dos órfãos. Embora haja falta de bebês que possam ser adotados, existem outros meios disponíveis.[2]

Deus declara que ele é “o Deus grande, poderoso e terrível [...] que faz justiça ao órfão e à viúva, e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e vestido” (Dt 10.17, 18). Somos encorajados a ser como Ele - a não amar apenas “de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade” (1 Jo 3.18). Fazemos isto quando procuramos satisfazer a necessidade de outra pessoa, em vez de fecharmos nosso coração contra ela (veja 1 Jo 3.17).

A bênção de Deus não é prometida como um subproduto de se ter filhos. Sua bênção é, porém, o resultado do cuidar daqueles a quem Deus leva até você (Tg 1.25, 27). A alegria vem da obediente submissão a um Pai amoroso, quer Ele decida dar filhos a você biologicamente ou por outro meio, tal como adoção, ou cuidar de crianças durante um certo período de tempo.

As diretrizes das Escrituras em relação ao cuidar de outros devem motivar a mulher cristã estéril a fazer mais do que pagar impostos para cobrir os gastos com o bem-estar social. Contribuir para as casas de órfãos locais ou enviar dinheiro para as agências missionárias são meios de participar desses cuidados, mas Deus pode muito bem ter outro plano para ela. Ela não deve considerar a adoção, os cuidados eventuais de crianças, ou tornar-se guardiã legal de um órfão como segunda opção.

TODO CRISTÃO É UM FILHO ADOTIVO

Todo cristão é um filho adotivo de Deus. Embora a adoção seja raramente mencionada no Antigo Testamento (como no caso da adoção de Moisés pela filha de Faraó), o cuidar dos órfãos é mencionado freqüentemente. Além disso, a adoção é um tema importante no Novo Testamento. Romanos 8.15 nos diz: “Porque não recebestes o espírito de escravidão para outra vez estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos pelo qual clamamos Aba, Pai”. O termo “Aba” é uma palavra aramaica que “corresponde ao nosso ‘papai’ ‘paizinho’”.[3] Isto mostra a intimidade do relacionamento entre nós e nosso pai adotivo, Deus. Em Gálatas 4.6, Paulo usa novamente a palavra “Aba” com respeito à adoção: “E, porque sois filhos, Deus enviou aos nosso corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai”. Em Romanos 8.23, somos encorajados a aguardar ansiosamente a plenitude de nossa adoção.

Nossa adoção como filhos de Deus não foi um acontecimento acidental ou uma segunda opção, uma decisão tomada por Deus como último recurso. As Escrituras declaram claramente que Deus nos escolheu e nos procurou: “[Ele] nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o bom propósito de sua vontade” (Ef 1.5). A adoção sempre fez parte do plano de Deus para nós. Nenhum de nós está na família de Deus por mérito próprio ou descendência. Ele nos procurou e nos comprou com seu próprio e precioso sangue. Deus se agradou em adotar-nos. Do mesmo modo, devemos ter prazer em cuidar dos órfãos.

Jesus ensina que tratar dos aflitos é uma das marcas do verdadeiro crente. Na parábola das ovelhas e dos bodes (Mt 25.31-46), o Senhor separa os seguidores fiéis dos falsos, notando que os verdadeiros cuidaram dos famintos, sedentos, nus, doentes, prisioneiros e estrangeiros necessitados. Nós éramos “estrangeiros e forasteiros” antes de sermos adotados por Deus, mas agora somos “concidadão dos santos e da família de Deus” (Ef 2.19). O ponto é claro: Deus certamente espera que cuidemos daqueles que estão fora da nossa família biológica como parte do seu plano de introduzir estranhos na casa do Pai.

SÓ PELA SUA JUSTIÇA

Temos de lembrar que só quando a justiça de Jesus é colocada sobre nós, mediante seu sangue derramado no Calvário, é que Deus pode olhar para nós. Romanos 5.6 diz: “Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios”. Paulo declara em Romanos 3 que somos indignos. A mulher que estiver lutando com a idéia de adotar filhos deve pensar no amor de Deus por ela quando era completamente indigna e perdida. Deus cuidou dela quando era inimiga dEle. Estará ela disposta a cuidar de crianças que não são suas, que podem ser de raça mista ou deficientes físicas? Encoraje-a a entregar ao Salvador os cuidados e dúvidas suscitados pelo mundo. Ele irá fortalecê-la, encorajá-la e ajudá-la e tornar-se uma mãe para os órfãos.

ALGUNS EXEMPLOS PIEDOSOS

C.T. Studd era um formando rico, de boa aparência, da Universidade de Cambridge, e possuía tudo o que o mundo tem a oferecer; todavia, ele decidiu passar a vida como missionário nas selvas infestadas de malária da África. Studd declarou: “Se Cristo, que era Deus, morreu por mim, nada que eu faça pode ser chamado de sacrifício”. Esse deveria ser o grito do coração de todo crente. Alegria real e duradoura é encontrada quando perdemos a vida por causa de Jesus; ela não se encontra na preservação da nossa carne mortal nem em propagá-la. Embora haja alegria na concepção de filhos, este prazer não se compara absolutamente ao júbilo eterno que vem do serviço prestado a Deus.

Jenny[4] deveria estudar a vida de Amy Carmichael, que deixou a Inglaterra em 1895 e foi para a Índia, permanecendo ali até sua morte em 1951. Dependendo apenas da graça de Deus, ela resgatou uma criança após outra dos templos pagãos onde seriam sacrificadas ou usadas como prostitutas.[5]


[1] Fonte do Artigo: AMY, Carol. “Aconselhando mulheres que estejam pensando em adotar filhos”. In: FITZPATRICK, Elyse, CORNISH, Carol. Mulheres ajudando mulheres. Rio De Janeiro: CPAD, 2001. p. 246-249.

[2] Nota do dono do Blog: a autora aqui faz uma referência à realidade norte-americana.

[3] YOUNGBLOOD, Ronald F. Nelson’s Illustrated Bible Dictionary (Nashville, TN: Thomas Nelson, 1995). p. 2.

[4] Nota do Dono do Blog: a autora faz referência a uma aconselhada sua.

[5] Nota do Dono do Blog: Amy Carmichael fez isso por meio de um orfanato conhecido como Donhavur Fellowship.

4 comentários:

Sacha disse...

show de bola. A teologia da "adoção" é riquíssima em implicações para nosso dia-a-dia e planejamento familiar! :)
Abdalla, obrigado pelo artigo e pelo post. Espero que seja mais uma ferramenta a incentivar à Igreja a pensar adoção biblicamente. É muito mais que o cumprimento terreno do sonho de ter "filhos"!

Tiago Abdalla disse...

Fala Sacha!

É isso aí. A Carol Amy fez apontamentos importantes e mostrou como a adoção por nosso Pai espiritual afeta de modo prático a vida familiar do cristão.

Muito bom ter sua visita "a nível de" blog, hehe. Tenho acompanhado o seu, também.

Abração!

Alex Malta Raposo disse...

Parabéns pelo blog.

Ainda não conhecia.

Muito abençoador.

Que Deus o abençõe.

alexmaltta.blogspot.com
Evangelho da Graça

Tiago Abdalla disse...

Valeu, Alex!

Seja bem-vindo ao blog!

Abraços,

Tiago

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