segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

DEUS CONOSCO
Marcos 1.9-13

INTRODUÇÃO

Possivelmente, eles já tenham batido na porta de sua casa. Falando a respeito do reino de Deus e dos 144.000 que entrarão neste reino. De quem estou falando? Dos testemunhas de Jeová.

Lembro-me quando ia de ônibus para o colégio, em Atibaia, e tinha o hábito de levar aquela pequenina Bíblia dos Gideões para ir lendo no caminho. Certa vez, uma senhora me abordou e começou a questionar a minha fé e o que estava escrito na minha Bíblia. Descobri que ela era testemunha de Jeová e tivemos algumas discussões, desde então. Cito os testemunhas de Jeová, porque a doutrina que caracteriza a sua heresia se relaciona com a Pessoa de Cristo. Eles não crêem que Jesus possui a mesma natureza que Deus Pai. Para eles Jesus é um deus, mas não o Deus. Jesus é a maior e a primeira criatura, mas não co-existe eternamente com Deus.

No século IV, essa heresia quase se tornou a teologia oficial da Igreja. Mas, pela graciosa e soberana intervenção divina, isso não chegou a acontecer, ainda que por um bom tempo fez parte da fé popular. A crença de que Jesus era tão divino quanto o Pai, foi, definitivamente, aceito como teologia oficial no Concílio de Constantinopla, em 381 A.D.. Gregório de Nissa, um bispo que fora muito importante para essa decisão, escreveu que em Constantinopla, nessa época, quando você andava pela rua e pedia um trocado, alguém iria filosofar sobre se o Filho de Deus era gerado ou não-gerado. Se perguntasse o preço do pão, responderiam: "O Pai é maior e o Filho é inferior". Se perguntasse se o banho estava pronto, falavam: "O Filho foi criado do nada".

Isso mostra para nós como essa discussão era popular na época, e como a maioria do povo entendia Jesus nos moldes daquilo que é ensinado pelos TJs, hoje. Daí, então, a importância de olharmos para as Escrituras e, a partir delas, compreender corretamente a Pessoa de Jesus. Cremos que Jesus era e é plenamente Deus e plenamente homem. E o texto de hoje, mostrará esses dois lados do mistério de nossa fé. Onde o Deus infinito se identifica conosco, meros pecadores.

Quando começamos a estudar o Evangelho de Marcos, encontramos João Batista na tarefa de preparação do coração do povo para receber o Salvador. Agora o tão esperado "Mais Poderoso do que eu" (1.7) aparece. De maneira diferente, talvez, como o público esperava.

A AUTENTICAÇÃO DO MINISTÉRIO DE JESUS – vv. 9-11

Marcos pinta um quadro de simplicidade no verso 9. O retrato da grandeza do que estava por vir é substituído por um outro que parece ser o contrário. Primeiramente, O Filho de Deus é identificado apenas como Jesus. Havia vários "Jesuses" na época, fazendo com que esse indivíduo não transmitisse nada de singular, a princípio. Além disso, o local de onde vem, Nazaré, é completamente desconhecido. Nenhuma fonte judaica sequer menciona tal local, nem o Antigo Testamento, nem Flávio Josefo (grande historiador judeu) e nem o Talmude (livro que contém a tradição oral judaica).

Além de tudo isso, esse Jesus é batizado por João. De início, tal sujeito poderia ser qualquer pessoa, menos quem João anunciava. Pois aquele que viria é que batizaria, não o contrário. A palavra "logo" é uma palavra bem peculiar a Marcos e queria chamar a atenção de seus leitores para o que sucederia.

Então, o tal Jesus sai da água, os céus se rasgam (note a intensidade da descrição do evangelista) e o Espírito desce semelhante a uma pomba sobre ele. Certamente, o Espírito tem a ver com o Espírito Santo referido no verso 8. A presença do Espírito de Deus marcaria a vida daquele que seria o Servo do Senhor em Isaías 42.1 e o Salvador prometido em Isaías 61.1.

Uma voz que provém dos céus é ouvida. No Antigo Testamento, "céus" é uma referência à morada de Deus e o local de onde Ele parte para julgar e salvar (1 Rs 8.30; Sl 18.9, 16-19; 144.5-8; Is 64.1). Ou seja, o próprio Deus passa a falar. E quando Deus declara a identidade de Jesus, fica claro que não era mais um homem comum, mas o próprio Filho de Deus e o Servo do Senhor, que seria o mediador da Nova aliança dada por Deus. A razão para se pensar assim é que as duas orações declaradas por Deus indicam alusões a textos do Antigo Testamento. "Tu és o meu Filho" é uma frase que se encontra no Salmo 2.7, um Salmo Messiânico que anunciava o reino futuro do rei de Israel que estenderia seu governo sobre todas as nações da Terra. Então, a princípio, Jesus pode ser identificado como o Salvador esperado pela nação judaica. Mas, além disso, o termo "Filho de Deus" é desenvolvido de tal forma no evangelho que indica, também, o fato de que Jesus é semelhante ao Pai em natureza e em poder.

A segunda oração "em ti me comprazo" alude a Isaías 42.1, passagem que fala a respeito do Servo do Senhor, que traria justiça e curaria a cegueira espiritual dos homens. A descrição da presença o Espírito Santo sobre Jesus confirma que este texto estava tanto na mente de Deus quanto na de Marcos. Pois, sobre o Servo do Senhor, Deus coloca o Seu Espírito (cf. Is 42.1).

O princípio deste texto de Marcos, portanto, é que o poderoso Filho de Deus, maior que João, veio de forma humilde, se identificando com os homens e seu pecado. O Senhor Jesus não necessitava do batismo de João, pois não tinha pecado algum. Mas deixou-se batizar por ele, a fim de que se identificasse com os homens pecadores e assumisse assim, o lugar deles na cruz.

Esta identificação de Cristo conosco, em nossa humanidade, era bem entendido pelos teólogos dos cinco primeiros séculos como divinização. Cristo se tornou participante de nossa humanidade, a fim de que pudéssemos ser participantes de sua divindade (cf. 1 Pe 1.4, 5). Ou seja, só podemos participar da santidade e amor de Deus porque Cristo reverteu o processo de queda dos homens. Ele se fez pecado por nós, a fim de que pudéssemos ser feitos justiça de Deus (2 Co 5.20-21). Nos revestimos do novo homem que se refaz conforme a imagem daquEle que nos criou (Cl 3.10). Essa é a "maravilhosa troca"! Esse texto é por demais relevante para nós e podemos aplicá-lo de diversas formas:

Sermos gratos ao Senhor Jesus pelo Seu imenso amor em se humilhar em se identificar com nossa pecaminosidade, para que pudéssemos ter um relacionamento com Deus.

Desenvolvermos uma atitude de humildade no tratamento com o nosso semelhante. Se o próprio Filho de Deus se humilhou a tal ponto, quem sou eu para me vangloriar.

Seja uma pessoa que exige menos e serve mais (no trabalho, Faculdade, casa, relacionamento com a sociedade).

Reconheça a graça de Deus quando receber algum elogio (1 Co 15.10).

Aprenda a perceber as virtudes e acertos de outros irmãos (Fp 2.1-4).

Seja humilde em receber as críticas e confrontações de um irmão e avaliá-las com calma à luz da Palavra de Deus.

Compartilhe com os perdidos as boas notícias de que Deus entrou na história e se identificou com sua fraqueza, a fim de salvá-los e conduzí-los a um relacionamento real com Deus e livre do poder do pecado.

A IDENTIFICAÇÃO DE JESUS CONOSCO NA TENTAÇÃO – 12-13

Após receber o reconhecimento do Pai de que era aquEle que viria para restaurar a espiritualidade dos homens, Jesus vai para um deserto completamente solitário. Sua ida para lá foi motivada pelo Espírito de Deus que o acompanhará durante todo o ministério, mesmo que não seja mais mencionado diretamente por Marcos. Algo importante há de acontecer aqui, pois o famoso "logo" de Marcos reaparece. Há um encontro no texto. Não mais com o Pai, mas com Seu inimigo, Satanás.

Esse encontro dura 40 dias e nele é tentado por Satanás. O autor não nos conta o resultado da batalha. Talvez, isso confirme a autoria de Marcos como posterior a Mateus e Lucas, pois como já havia dois relatos deste evento falando da vitória de Jesus, não havia a necessidade de garantir tal fato a seus leitores. Para Marcos, Jesus já havia vencido o valente (3.27) e seu ministério era o saque de pessoas que estavam sob o antigo domínio.

Se Marcos não se preocupa em detalhar o processo, ele pinta o fundo do quadro que acompanhou o processo de tentação. A menção aos animais selvagens, não é mero detalhe artístico. Certamente, possuía uma verdade teológica por trás. Isaías fala sobre o reino futuro de Deus na terra como sendo um momento em que haverá a restauração da harmonia entre a natureza, também. Em que um bebê poderá brincar com uma serpente (Is 11.6-9). O texto de Gênesis 3 deixa claro que a queda provocou um conflito entre o homem e a natureza (Gn 3.17-18), a qual deveria ser administrada por Adão e seus filhos (cf. Gn 1.26-27). Paulo fala de um futuro em que seremos salvos do poder e efeito do pecado e a natureza desfrutará de libertação do sofrimento (Rm 8.18-23).

Jesus está revertendo o processo do erro de Adão. Enquanto Adão vivia em harmonia com os animais até ser tentado, pecar e perder o domínio perfeito que possuía, Jesus também é tentado, mas, diferentemente de Adão, não sucumbe às propostas de Satanás e introduz a harmonia do homem com a criação que será completamente restaurada no futuro.

O livro de Hebreus aplica a tentação de Jesus ao fato de que isto nos garante uma aproximação de Deus, a fim de recebermos sua misericórdia e graça para não pecarmos. Quando fala de fraqueza, o autor de Hebreus se refere às tentações como questões com as quais precisamos lidar por sermos homens que vivem após a queda. Mas o Senhor Jesus, também, foi tentado e se compadece de nós quando travamos lutas e provê o escape nos garantindo graça e misericórdia de Deus para vencermos as tentações (Hb 4.14-16). Não estamos sozinhos nisto, mas podemos contar com a presença e auxílio do Salvador.

Podemos viver a verdade de Marcos 1.12-13 da seguinte forma:

Contar com o auxílio do Espírito Santo diante de nossas tentações, assim como Jesus contou. Se O deixarmos guiar nossas vidas em situações de prova, certamente, obteremos vitória sobre o pecado, assim como o nosso Salvador (Rm 8.1-13; Gl 5.16-18, 24-25).

Não encarar a tentação como pecado em si, mas uma oportunidade de crescer em minha vida de santidade e me tornar um crente maduro, optando por obedecer a Deus no lugar de ceder ao meu desejo carnal (Tg 1.2-4, 13-15; cf Jo 17.15-17).

Não dê desculpa para o seu pecado quando cair. É claro que existe perdão, mas, não existe tentação acima daquilo que você pode enfrentar e Deus sempre nos concede o que é necessário para vencermos a tentação (1 Co 10.13; 2 Pe 1.4).

Fortaleça-se na Palavra de Deus como recurso dado por Ele para que você vença à tentação (Jo 17.15-17). Além disso, busque a ajuda de Deus em oração, como Hebreus 4 ensina.

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