quarta-feira, 26 de março de 2008

Dispensacionalismo, Teologia do Diabo?
Em prol de um diálogo respeitoso


Confesso que, como dispensacionalista, preocupa-me ver o que tem sido divulgado na Internet, em português, sobre o dispensacionalismo. A impressão transmitida é a de que o dispensacionalismo, como visão escatológica e hermenêutica, se constitui numa teologia de ignorantes, diabólica e heterodoxa. Francamente, palavras e insinuações fortes e ofensivas, em nada contribuem para um diálogo hermenêutico e teológico produtivo. Na verdade, quando faltam argumentos, há a necessidade de uso de palavras que desprezem a perspectiva oposta.

Diante disso, começo a divulgar neste blog alguns artigos que mostrarão tanto a plausibilidade do dispensacionalismo, como a dignidade que tal sistema possui, ao menos para ser ouvido e respeitado.

Vale à pena, então, como pontapé inicial, citar teólogos respeitados no meio prostestante-evangélico, que adotaram o dispensacionalismo como sua visão pessoal.

Charles C. Ryrie, editor da Bíblia Anotada1 e autor de Basic Theology, traduzido em português sob o título semelhante de Teologia Básica2, foi professor durantes muitos anos na área de teologia sistemática do Dallas Theological Seminary, é dispensacionalista declarado e autor de livros que expõem o dispensacionalismo, bem como o defendem, enquanto sistema teológico.3 Ele escreve, em Teologia Básica, o seguinte: “Sou um pré-milenista e essa será a perspectiva pela qual analisarei a escatologia nesta parte do livro”.4 Também, diz:

Novamente voltamos nossa atenção para a questão da ocupação incompleta da terra. Embora Israel, como nação, tenha ocupado parte da Terra Prometida pela aliança, ela jamais foi ocupada totalmente conforme o prometido. Portanto, deve haver algum momento no futuro em que Israel o fará. Para os pré-milenistas, isso ocorrerá no reino do milênio. Logo, a aliança abraâmica fortalece a escatologia pré-milenista.5

Ao falar sobre a igreja, Ryrie é bem direto ao declarar que “A igreja é distinta de Israel e não teve início até o dia de Pentecostes, portanto, não existia durante o Antigo Testamento”.6

Outro importante teólogo dispensacionalista é o Dr. Thomas L Constable, professor de Exposição Bíblica do Dallas Theological Seminary, autor de Nelson's New Testament Survey : discovering the essence, background & meaning about every New Testament book, seus comentários bíblicos podem ser acessados no site http://www.soniclight.com/, na seção Study Notes e possui alguns trechos traduzidos e disponibilizados em português por http://www.monergismo.com/.

Em seu comentário de Gálatas, no texto de 6.16, ele declara o seguinte:

Ele desejava isso, especialmente, para o “Israel de Deus”. Este título incomum se refere a judeus salvos. Descreve um segundo grupo no verso, não o mesmo grupo. Perceba a repetição de “sobre” que faz tal distinção. Também, “Israel” sempre indica judeus de sangue nas demais ocorrências no Novo Testamento (65 vezes). Além do mais, seria natural para Paulo, escolher judeus cristãos para uma menção especial, desde que nesta epístola ele quase soou anti-semita. Assim, é melhor entender esta frase no seu uso normal do que como a única designação para a igreja como um todo, como muitos não dispensacionalistas fazem.7

Depois deste comentário, Constable cita Peter Richardson:

Uma forte confirmação desta posição [i.e., que “Israel” indica judeus no Novo Testamento] vem da total ausência de uma identificação da Igreja com Israel até A.D. 160; e, também, da total ausência, até então, do termo “Israel de Deus” para descrever a Igreja.8

Para uma clara perspectiva da posição escatológica dispensacionalista de Constable, basta ler seu comentário sobre Apocalipse9, no qual entende o milênio como literal e os 144.000 israelitas no capítulo 7, também.

De início, estes dois teólogos dispensacionalistas respeitados no meio evangélico-protestante, revelam o peso intelectual e ortodoxo que o sistema possui. Nos próximos artigos, pretendo falar sobre Roy B. Zuck, Lewis S. Chafer, Eugene Merril, Allen Ross, John MacArthur, dentre outros grandes teólogos dispensacionalistas.

Por fim, cabe uma pergunta importante. Se o dispensacionalismo é tão perigoso e prejudicial, como alguns reformados dizem ser, por que o Dr. Heber Carlos de Campos, ministro presbiteriano, professor do departamento de Sistemática do Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper, traduziria para o português a maior obra sistemática do dispensacionalismo, escrita por Lewis Sperry Chafer?10

Portanto, parece que o caminho mais excelente (1 Co 12.31) nessa discussão é o respeito e reflexão, e não o uso de recursos retóricos que ludibriam, mas não produzem o pensar sadio. Assim, sugiro que aliancistas busquem conhecer melhor o dispensacionalismo, especialmente aquilo que vem sendo desenvolvido nos dias hodiernos. As obras citadas neste artigo são de grande valia para isso.

Uma outra sugestão é a leitura de artigos sobre escatologia e hermenêutica que são publicados no site http://www.bible.org/ e no periódico Bibliotheca Sacra, editado pelo Dallas Theological Seminary.


Em prol de um debate respeitoso,
Em Cristo,
Tiago Abdalla T. Neto


1 RYRIE, Charles Caldwell (ed.). A Bíblia Anotada. São Paulo: Mundo Cristão, 1991.
2 RYRIE, Charles Caldwell. Teologia Básica: ao alcance de todos. São Paulo: Mundo Cristão, 2004.
3 Dois destes livros são Dispensacionalism Today e The Basis of Premillennial Faith.
4 Op cit. p. 511.
5 Idem. p. 531.
6 Idem. p. 461.
7 CONSTABLE, Thomas L. Notes on Galatians. [s.l.], 2005. p. 71-72. (Tradução do autor).
8 Richardson, Peter. Israel in the Apostolic Church. Society for New Testament
monograph series. Cambridge: Cambridge University Press, 1969. Apud CONSTABLE, Thomas L. Notes on Galatians. [s.l.], 2005. p. 72. (Tradução do autor).
9 CONSTABLE, Thomas L. Notes on Revelation. [s.l.], 2007.
10 CHAFER, Lewis S. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2003.

2 comentários:

Juan de Paula disse...

Prezado Thiago,

sou reformado e aliancista. Pastoreio (igreja batista) numa região influênciada pelo SBPV e tenho um seminarista estudante desta casa.

Sinto muito e peço perdão pela falta de caridade e diálogo por parte de alguns reformados.

Sendo reformado, leio autores dispensacionais e os tenho como irmãos em Cristo que lutam para edificar a igreja e a salvação de almas com o evangelho do Reino de Deus.

O. Palmer Robertson no livro "O Cristo dos Pactos" escreve que o debate deve ser artculado na caridade e com respeito.

Sei que vc tbm diáloga com autores reformados e isso é salutar - não devemos manter nossas mentes fechadas.

Mais uma vez perdão e continue firme.


Juan

Rodrigo Teske Pokrevieski disse...

Para o conhecimento dos irmãos:

http://www.facebook.com/groups/calvinopremil/

Grupo fechado para troca de informações, opiniões e debates sobre Pré-Milenismo (Clássico) entre Calvinistas (TULIP).

Somente Calvinistas (TULIP).

Amilenistas, Pós-milenistas, confusos e Dispensacionalistas também são bem-vindos, mas somente se estiverem pendendo ao Pré-Milenismo (Clássico).

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