quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Graça Barata e Graça Preciosa

Dietrich Bonhoeffer

A graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento, é o batismo sem a disciplina de uma congregação, é a Ceia do Senhor sem confissão de pecados, é a absolvição sem confissão pessoal. A graça barata é a graça sem discipulado, a graça sem a cruz, a graça sem Jesus Cristo vivo, encarnado.

A graça preciosa é o tesouro oculto no campo, por amor do qual o homem sai e vende com alegria tudo quanto tem: a pérola preciosa, para adquirir a qual o comerciante se desfaz de todos os seus bens; o governo régio de Cristo, por amor do qual o homem arranca o olho que o escandaliza; o chamado de Jesus Cristo, ao ouvir do qual o discípulo larga as suas redes e o segue.

A graça preciosa é o evangelho que há de se procurar sempre de novo, o dom pelo qual se tem que orar, a porta à qual se tem que bater. Essa graça é preciosa porque chama ao discipulado, e é graça por chamar ao discipulado de Jesus Cristo; é preciosa por custar a vida ao homem, e é graça por, assim, lhe dar a vida; é preciosa ao condenar o pecado, e é graça por justificar o pecador. Essa graça é sobretudo preciosa por tê-lo sido para Deus, por ter custado a Deus a vida de seu Filho - "fostes comprados por preço" - e porque não pode ser barato para nós aquilo que para Deus custou caro. A graça é graça sobretudo por Deus não ter achado que seu Filho fosse preço demasiado caro a pagar pela nossa vida, antes o deu por nós. A graça preciosa é a encarnação de Deus.

A graça preciosa é a graça considerada santuário de Deus, que tem que ser preservado do mundo, não lançado aos cães; e é graça como palavra viva, a Palavra de Deus que ele próprio pronuncia de acordo com seu beneplácito. Chega até nós como gracioso chamado ao discipulado de Jesus; vem como palavra de perdão ao espírito angustiado e ao coração esmagado. A graça é preciosa por obrigar o indivíduo a sujeitar-se ao jugo do discipulado de Jesus Cristo. As palavras de Jesus: "O meu jugo é suave e o meu fardo é leve" são expressões da graça.

Fonte: BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. São Leopoldo, RS: Sinodal, 2001. p. 9-11

2 comentários:

Juan de Paula disse...

Tiago,

intertessante foi o contexto em que Bonhoeffer escreveu isso: diante de uma igreja se curvando ao nazismo, deixando o senhorio de Cristo e usando uma pseudo-ortodoxia para justificar a omissão da igreja naquele período.

Bonhoeffer nos chama a praticar a nossa fé (Ex Tiago 2), a colocar a nossa fé em prática e a andar de acordo com a nossa confissão de fé.

Abraços,
Juan

Tiago Abdalla disse...

Oi Juan! Pura verdade!
A igreja confessante (da qual Bonhoeffer fazia parte) foi a única disposta a pagar o preço diante do nominalismo protestante alemão vergonhoso.
Sem dúvida, a filosofia histórica de Hegel e o liberalismo de Schleiermacher contribuiram para uma teologia e práxis distante do discipulado proposto por Jesus.
um abração!
Tiago

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