quinta-feira, 26 de maio de 2011

AS AMIZADES E A SABEDORIA

PARTE 1



INTRODUÇÃO

Como viver a vida da melhor forma possível? De que modo podemos desfrutar de todo o potencial que as amizades profundas e verdadeiras contêm? Somos amigos sábios, fazemos escolhas sábias quando desenvolvemos relacionamentos mais íntimos e próximos?

David Hubbard faz a seguinte observação: “Os mestres sabiam que a vida era vivida em grupo ... nós andamos em grupos – sejam eles a nossa rede social de amigos ... companheiros de oração, nossa equipe de futebol, colegas de trabalho ou nossa gangue de rua. O que nos tornamos é determinado [influenciado] em uma medida significativa pela companhia que escolhemos e mantemos”.[1]

Assim, os mestres da sabedoria bíblica têm muito a nos oferecer com seus conselhos preciosos e precisos sobre a amizade. Nos próximos dois estudos de nossa série, vamos analisar as orientações proverbianas sobre a boa amizade e os perigos que devemos evitar.
CARACATERÍSTICAS DO BOM AMIGO[2]

1.      LEALDADE E CONSTÂNCIA

  • Provérbios 17.17
“Em todo tempo ama o amigo,
e na angústia nasce o irmão”

A expressão “em todo o tempo” não admite exceções. A segunda linha torna mais dramática o que a primeira afirmou. Um “irmão”, seja de sangue ou de aliança, sabe que um dos alvos principais de sua vida (“nasce”) é estar ao lado do amigo e ajudá-lo em sua adversidade. Amigos das épocas de adversidade são os únicos dignos de se ter; mais ainda, eles são os únicos dignos de se ser. O texto não nos ensina como alcançar amigos leais, mas como sermos esses companheiros fiéis. Isso implica numa disposição de não apenas rir juntos e celebrar as vitórias um do outro, como também, chorar juntos e fazer do sofrimento do outro, o nosso próprio.

·         Provérbios 27.10

“Não abandones o teu amigo, nem o amigo de teu pai,
nem entres na casa de teu irmão no dia da tua adversidade.
Mais vale o vizinho perto do que o irmão longe.”

Não sabemos o exato contexto em que este provérbio fora mencionado, se o conselho para não buscar a ajuda do irmão é a distância em si ou a constância na casa de outros (cf. Pv 25.17). Mas, o princípio do versículo é claro na primeira e última linha do verso: “Onde há amor leal por parte de amigos, não corra dele; use-o quando precisar. Além do mais, estes amigos fiéis, provavelmente, darão às boas vindas a uma oportunidade de retribuir ações de bondade que evocarão sua amizade em primeiro lugar. Portanto, pode ser um ato de amor leal pedir ajuda tanto quanto oferecê-la. Na aliança da amizade íntima, o amor flui em ambas as direções”.[3]

2.      INTIMIDADE

  • Provérbios 18.24
“O homem que tem muitos amigos sai perdendo;
mas há amigo mais chegado do que um irmão.”

Este texto de Provérbios nos adverte contra o perigo de amizades superficiais. É o oposto do que propõem as redes sociais de nossos dias: “Quantos mais amigos você tiver no Orkut, Facebook, MSN, mais feliz você será”. A “inchação de amigos” é um fenômeno muito comum em nosso mundo ocidental, em que se faz vários amigos rapidamente e, depois, se descarta sutilmente. Um amigo que se “achega” (lit. heb.: “gruda”) ao outro demonstra uma lealdade muito mais intensa do que poderia se esperar de um irmão. “Os laços que mantêm as pessoas unidas são muito preciosos para se tornarem barateados pelo material da conveniência”.[4]  

3.      AMOR VERDADEIRO

  • Provérbios 27.5-6
Melhor é a repreensão franca
do que o amor encoberto.

O termo hebraico usado para “repreensão” aponta para aquela advertência que todos precisamos, a fim de fazermos escolhas sábias e santas em nossas vidas, “as repreensões da disciplina são o caminho da vida” (Pv 6.23). Quem não houve a “repreensão”, chora no final dos seus dias (Pv 5.11-12). Exatamente, por isso, precisamos acolher com alegria amigos que nos repreendem, bem como amarmos profundamente, a ponto de confrontarmos nossos amigos quando estão errados. A confrontação feita da forma correta, pelas razões certas é um ato elevado de amor (Ef 4.15, 25).  Por outro lado, um “amor inexpressivo não tem valor algum”.[5] O “amor” tímido, que é muito frágil para dizer o que precisa ser dito não é amor de forma alguma.

Leais são as feridas feitas pelo que ama,
porém o inimigo multiplica os beijos.

O amigo verdadeiro é digno de confiança, já que suas intenções são motivadas pelo amor, mesmo quando pronuncia verdades que golpeiam e ferem nossas almas. Por outro lado, onde há muitos cumprimentos, elogios e ostentação, aí mora o perigo da falsidade e traição. Jesus foi um amigo que falou palavras duras aos seus discípulos, diversas vezes (cf. Mc 8.33; 9.33-37; 14.29-30). Ao mesmo tempo, foi por meio de um beijo que Judas traiu Jesus (Mc 14.44-16). Cuidado! Não se aproxime apenas daqueles que o elogiam e o engrandecem, pois, quando um perigo aparecer à frente, não o alertarão, e você sofrerá as conseqüências sozinho. O profeta Jeremias advertiu o povo do seu tempo para não dar ouvidos àqueles profetas que anunciavam “paz”, ao invés de proclamarem o juízo iminente de Deus sobre a nação de Judá e levá-la a uma mudança de comportamento (Jr 23.17-20). A conseqüência? Jerusalém foi devastada e completamente destruída pelos babilônios em 586 a.C.

4.      CONFIANÇA

  • Provérbios 11.13
Quem muito fala trai a confidência,
Mas quem merece confiança guarda o segredo

Este texto nos adverte sobre a medida de nossas conversas. Quando pessoas abrem seus corações sobre dificuldades pessoais, pedem ajuda e conselhos, esperam que sejamos amigos que guardem esses segredos em lugar de sairmos compartilhando com os outros a última novidade. É claro que há situações em que o âmbito de certas ações requer o pedido de perdão público, mas, via de regra, demonstramos ser amigos de confiança quando evitamos expor outros de um modo desnecessário.

·         Provérbios 25.9

Procure resolver sua causa diretamente com o seu próximo,
Não revele o segredo de outra pessoa

Jesus fez um apontamento parecido: “Se o seu irmão pecar contra você, vá e, a sós com ele, mostre-lhe o erro. Se ele o ouvir, você ganhou o seu irmão” (Mt 18.15). Questões entre duas pessoas, devem ser resolvidas entre ambas e não envolverem outros no meio, a não ser que haja uma insistência de permanecer no erro por parte de uma delas. O provérbio, também, nos adverte sobre o cuidado de não colocar questões pessoais diante de outros, a fim de limpar o nosso nome. Sempre é melhor quando tratamos nossas diferenças de forma direta do que quando envolvemos outras pessoas com o propósito de ganhar uma discussão. Isso trai a amizade e destrói a confiança.



[1] HUBBARD, David. Proverbs. Mastering the Old Testament Series. Dallas: Word, 1989. p. 50. Este autor discorda apenas do termo "determinado" usado por Hubbard. Ninguém é determinado por seu contexto, mas certamente, influenciado por ele.
[2] Os pontos do esboço são oferecidos por MERKH, David J. Provérbios. 3 ed. Atibaia: SBPV, 2001.
[3] HUBBARD, p. 424.
[4] Idem. p. 265.
[5] LONGMAN III, Tremper. “Proverbs”. In: New Living Translation Study Bible. Carol Stream: Tyndale.  p. 1062. 

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