sábado, 17 de maio de 2008

Teologia do Sexo

Michael Lawrence

Freqüentemente, nós justificamos nossa atividade sexual sobre a base do nível de comprometimento no relacionamento. Quanto maior o nível de comprometimento no relacionamento, mais sexualmente envolvidos nós nos permitimos estar. Uma das coisas mais comuns que ouço no aconselhamento pré-matrimonial são casais dizendo que eles se abstiveram da atividade sexual até noivarem. Neste ponto, toda a restrição interna que eles sentiram, de repente desaparece e, agora, se encontram lutando – algumas vezes falhando – para permanecerem fora da cama.

Será que temos compreendido erradamente o padrão de Deus? Comprometimento crescente legitima níveis crescentes de intimidade sexual fora do casamento? Aqui é exatamente onde a teologia do sexo se torna importante e uma teologia do sexo requer bem mais do que uma lista sobre o que fazer e o que não fazer. Conforme isso é exposto, sexo não é uma recompensa arbitrária que você recebe por casar-se, e intimidade sexual não está ligada a uma escala crescente de compromisso. Antes, sexo possui um significado teológico dado por Deus e propósito que transcende “minha” experiência e opinião acerca disso.

Conforme o primeiro capítulo do livro de Gênesis, Deus criou homem e mulher à sua própria imagem. “Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gn 1.27). O que isso significa é explicado nos versos seguintes. Como Deus, homem e mulher devem exercer domínio sobre a terra. Eles devem ser criativos enquanto promovem a ordem e produtividade da criação de Deus. Devem, também, viver num relacionamento frutífero um com o outro. Isso é uma clara implicação do mandamento de Deus “Sejam férteis e multipliquem-se” (Gn 1.28). A questão fica ainda mais explícita em Gênesis 2. No meio da criação perfeita de Deus, ele coloca um jardim, literalmente um paraíso (vv. 1-14). Logo, Deus coloca o homem que Ele fez neste paraíso dos paraísos e lhe dá uma tarefa (v. 15). Ordena ao homem que cuide e proteja este jardim. Quase imediatamente depois que dá ao homem esse chamado básico para a sua vida, Deus declara, pela primeira vez, que há algo que não é bom: não é bom que o homem esteja só (v. 18). Então, Deus cria a mulher e a traz ao homem. Este não está mais só. Adão observa Eva e diz: “Essa é osso dos meus ossos e carne da minha carne” (Gn 2.23). Então, percebemos que somos testemunhas do primeiro casamento, quando Adão e Eva se unem e se tornam uma só carne (v. 24).

A Bíblia nos ensina que casamento é uma aliança que estabelece um relacionamento entre um homem e uma mulher que não possuem obrigações naturais um com o outro, com um pai e uma criança possuem, mas que voluntariamente assumem obrigações permanentes e compromissos de um relacionamento familiar. Antes que dois indivíduos casem, eles não eram familiares; não eram uma só carne. Mas no casamento, estes dois indivíduos se tornam familiares numa união tão próxima, íntima e permanente que a única linguagem para isso é a linguagem da família, a linguagem de carne e sangue. Nossa capacidade para estabelecer este tipo de relacionamento de aliança é parte do que significa ser criado à imagem de Deus. Exatamente como Cristo é unido ao seu povo de tal modo que Ele se torna a cabeça e a Igreja o Seu corpo (Ef 5.23, 30), assim Deus nos criou para refletir Sua imagem enquanto nos relacionamos com uma outra pessoa numa união pactual de uma só carne. Tornar-se uma só carne não significa tornar-se uma só pessoa. Um marido e uma esposa permanecem sendo pessoas distintas. Porém, isso significa sim que como resultado da aliança do casamento, o marido agora se relaciona com sua esposa como se ela fosse parte do seu próprio corpo, cuidando dela e a protegendo, exatamente como cuida e protege a si mesmo.

Agora, se casamento é uma aliança, então tal aliança deve ter um sinal, algo que torna visível a realidade invisível da união de uma só carne. Este é o modo como todas a alianças funcionam na Bíblia. Quando Deus fez uma aliança com toda a criação de não destruir o mundo, novamente, por meio do dilúvio, ele colocou o arco-íris como um sinal no céu. Quando Deus faz a aliança com pecadores arrependidos na Nova Aliança, ele nos dá o sinal do batismo, no qual o visível retrata a realidade invisível de nosso ser sepultado com Cristo, sendo purificado do pecado, e ressuscitando para uma novidade de vida com Cristo. E da mesma forma, funciona com a aliança do casamento. Um vez casado, um homem não se relaciona com sua mulher com se ela fosse sua irmã ou mãe – pessoas com as quais você não tem relação sexual. Mas ele se relaciona com sua esposa, unindo-se a ela num relacionamento de uma só carne de mútuo amor, lealdade e intimidade. O sinal desta aliança sem par, é o ato físico de tornar-se uma só carne no intercurso sexual.
O que isso significa é que a intimidade e prazer do sexo não é uma recompensa do casamento que recebemos por nos casarmos. Seria o mesmo, dizer que o batismo é uma recompensa que recebemos por nos tornarmos cristãos. Não, sexo é o sinal da própria aliança do casamento. E se envolver sexualmente é uma chamado de Deus como testemunho de que nos mantemos responsáveis por nosso compromisso de aliança no casamento.
Traduzido de Sex and the Supremacy of Christ, p. 136-138

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