terça-feira, 10 de junho de 2008

DEUS ZELOSO
Parte 2
J.I.Packer


O Antigo Testamento considera o pacto de Deus como seu casamento com Israel, que traz consigo a demanda de um amor e uma lealdade incondicionais. A adoração de ídolos e toda relação comprometedora com idólatras não israelitas, constituía uma desobediência e infidelidade, a qual Deus via como um adultério espiritual que lhe provocava ciúme e vingança. Todas as referências mosaicas ao zelo de Deus têm a ver com a adoração de ídolos de um modo ou de outro, todas possuem sua origem na sanção do segundo mandamento que citamos anteriormente. O mesmo se pode dizer de Josué 24.19; 1 Reis 14.22; Salmo 78.58, e no Novo Testamento, 1 Coríntios 10.22. Em Ezequiel 8.3, a um ídolo que se adorava em Jerusalém o chama "ídolo que provoca o ciúme de Deus". Em Ezequiel 16, Deus caracteriza Israel como sua esposa adúltera, envolvida em alianças ímpias com ídolos e idólatras de Canaã, Egito, Assíria e pronuncia a senteça que segue: "Eu a condenarei ao castigo determinado para mulheres que cometem adultério e que derramam sangue; trarei sobre você a vingança de sangue da minha ira e da indignação que o meu ciúme provoca" (v. 38; cf. v. 42; 23.25).

Por estas passagens podemos ver claramente o que Deus queria dizer quando falou a Moisés que seu nome era "Zeloso". Significa que exige daqueles a quem ama e redime, total e absoluta lealdade, e reivindicará sua exigência mediante uma ação rigorosa contra eles, se traem seu amor com infidelidade. Calvino acertou em cheio quando explicou a sanção do segundo mandamento:

O Senhor com freqüência se dirige a nós no caráter de esposo ... Assim como ele cumpre todas as funções de um esposo fiel e verdadeiro, requer de nós amor e castidade; isto é, que não prostituamos a nossa alma com Satanás ... Assim, quanto mais puro e casto seja um marido, mais se sentirá ofendido quando vê que sua esposa procura um rival; assim, também, o Senhor que nos desposou, declara que arde com ciúme mais ardente cada vez que, ignorando a pureza de seu santo casamento, nos contaminamos com concupiscências abomináveis, e especialmente quando a adoração de sua Deidade, a qual deveria ser mantida intacta com o maior cuidado, transfere-se a outro, ou se adultera com alguma superstição. Pois, desse modo, não apenas violamos nosso pacto de casamento como também contaminamos o leito matrimonial, permitindo nele adúlteros.

Ainda que, se vemos a questão na sua verdadeira dimensão, precisaremos esclarecer algo mais. O zelo de Deus pelo Seu povo, pressupõe o amor que responde ao pacto. Tal amor não é um afeto transitório, acidental e sem objetivo, antes, é a expressão de um propósito soberano. O objetivo do amor de Deus no pacto é de ter um povo na terra enquanto dure a história e, posteriormente, ter a todos os fiéis de todas as épocas consigo na glória. O amor pactual é centro do plano de Deus para o seu mundo.

E é à luz do plano total de Deus para o seu mundo que se deve entender, em ultima análise, o seu zelo. Porque o objetivo último de Deus, como declara a Bíblia, é triplo: vindicar seu governo e justiça mostrando sua soberania, ao julgar o pecado; resgatar e redimir seu povo escolhido; e ser amado e louvado por eles devido aos seus gloriosos atos de amor e autovindicação. Deus busca aquilo que nós deveríamos buscar - sua glória, em e por meio dos homens - seu zelo tem como fim assegurar completamente tal objetivo. Seu zelo é, precisamente, em todas as suas manifestações, "o zelo do SENHOR dos Exércitos" (Is 9.7; 37.32; cf. Ez 5.13) para alcançar o cumprimento de seu propósito misericordioso e justo.

Deste modo, o zelo de Deus o leva, de um lado, a julgar e destruir o infiéis entre seu povo, aqueles que caem em idolatria e pecado (Dt 6.14; Js 24.19; Sf 1.18). Ainda mais, a punir os inimigos da justiça e da misericórdia em todas as partes (Na 1.2; Ez 36.5ss; Sf 3.8). Também, seu zelo o leva, por outro lado, a restaurar seu povo, logo que o juízo nacional os tenha castigado e humilhado (o juízo do cativeiro, Zc 1.14; 8.2); o juízo da praga de gafanhotos, Jl 2.18). E o que motiva estas ações? Simplesmente, o fato de que se mostra "zeloso pelo ... [seu] santo nome" (Ez 39.25). Seu "nome" é sua natureza e seu caráter como Javé, o Senhor Soberano da história, o nome que deve ser conhecido, honrado e louvado. "Eu sou o SENHOR; este é o meu nome! Não darei a outro a minha glória nem a imagens o meu louvor" (Is 42.8). "Por amor de mim mesmo, por amor de mim mesmo, eu faço isso. Como posso permitir que eu mesmo seja difamado? Não darei minha glória a nenhum outro" (Is 48.11).

Tradução: Tiago Abdalla

Trecho extraído de PACKER, J.I. El conocimimento del Dios Santo.

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