sábado, 6 de setembro de 2008


O PODER DO REINO E A GLÓRIA DO REI
Marcos 9.1-13

INTRODUÇÃO

Carros que sobrevivem às chamas do fogo, homens que conseguem dar 50 golpes consecutivos no ar, extraterrestres que invadem o planeta terra com seus discos voadores, os X-Men com seus super-poderes, tudo isso é muito natural para uma geração acostumada com a tela da TV e do computador. Aprendemos a conviver entre o mundo da realidade e o da ficção. Sabemos distinguir entre algo que ocorre no mundo natural e kantiano, daquilo que acontece por trás das telas. As duas coisas não se misturam.

Agora, imagine um judeu do primeiro século que nem sequer sabia o que era televisão, quanto mais aquilo que chamamos de ficção científica. De repente, no alto de um monte, se depara com uma cena inusitada. O seu mestre, um palestino da cidade de Nazaré, literalmente se transforma num ser glorioso e majestoso diante dele, de um modo que nunca o tinha visto antes. Qual seria a sua reação? Qual seria a nossa reação se presenciássemos essa realidade?

Tal cena, Marcos nos apresenta no começo do capítulo 9 de seu Evangelho, quando Jesus, o Deus-homem, revela sua glória oculta a três de seus discípulos.

TEXTO

1 E lhes disse: “Garanto-lhes que alguns dos que aqui estão de modo nenhum experimentarão a morte, antes de verem o Reino de Deus vindo com poder”.
2 Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e os levou a um alto monte, onde ficaram a sós. Ali ele foi transfigurado diante deles. 3 Suas roupas se tornaram brancas, de um branco resplandecente, como nenhum lavandeiro no mundo seria capaz de branqueá-las. 4 E apareceram diante deles Elias e Moisés, os quais conversavam com Jesus.
5 Então Pedro disse a Jesus: “Mestre, é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias”. 6 Ele não sabia o que dizer, pois estavam apavorados.
7 A seguir apareceu uma nuvem e os envolveu, e dela saiu uma voz, que disse: “Este é o meu Filho amado.
Ouçam-no!
8 Repentinamente, quando olharam ao redor, não viram mais ninguém, a não ser Jesus.
9 Enquanto desciam do monte, Jesus lhes ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do homem tivesse ressuscitado dos mortos. 10 Eles guardaram o assunto apenas entre si, discutindo o que significaria “ressuscitar dos mortos”.
11 E lhe perguntaram: “Por que os mestres da lei dizem que é necessário que Elias venha primeiro?”
12 Jesus respondeu: “De fato, Elias vem primeiro e restaura todas as coisas. Então, por que está escrito que é
necessário que o Filho do homem sofra muito e seja rejeitado com desprezo? 13 Mas eu lhes digo: Elias já veio, e fizeram com ele tudo o que quiseram, como está escrito a seu respeito”.

O PODER DO REINO E A MAJESTADE DO REI – vv. 1-4

O versículo 1 do capítulo 9, sem dúvida, precisa ser lido juntamente com o final do capítulo 8. Após falar sobre o alto preço de segui-lo e das sérias conseqüências de se envergonhar dele e optar por uma vida fácil neste mundo quando chegasse o dia da Sua glória (8.34-38), Jesus traz uma nota de encorajamento para aqueles que se dispusessem a tomar sua cruz num discipulado fiel (9.1). A vinda do Filho do Homem em Sua glória, marca na Bíblia o estabelecimento do grandioso reino de Deus (cf. Dn 7.13-14, 27; Mc 13.26; 14.62). Por isso, há uma continuidade do discurso no final de Marcos 8 e no começo do capítulo 9. A vinda do Messias, Jesus, o Cristo, seria um momento de juízo sobre aqueles que o rejeitassem (8.38), mas, também, do desfrute da glória e do poder de Deus dos que, assim como ele, escolhessem o caminho árduo e de humilhação em prol do reino de Deus (9.1).

Alguns presentes no meio da multidão teriam um vislumbre do reino de Deus em seu poder, antes de passarem pela morte. A seqüência do versículo 2 em diante, é, certamente, o cumprimento da afirmação de Jesus no verso 1. Isso porque todos os outros dois evangelistas ligam a afirmação semelhante “ ...alguns do que aqui estão, de modo nenhum experimentarão a morte, antes de verem o Reino de Deus vindo com poder”, com o evento da transfiguração no Monte (cf. Mt 16.28 e 17.1ss; Lc 9.27ss). Além disso, o próprio Pedro que foi testemunha da transfiguração nesses relatos, diz em sua carta:

De fato, não seguimos fábulas engenhosamente inventadas, quando lhe falamos a respeito do poder e da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo; ao contrário, nós fomos testemunhas oculares de sua majestade. Ele recebeu honra e glória da parte de Deus Pai, quando da suprema glória lhe foi dirigida a voz que disse: “Este é o meu filho amado, de quem me agrado”. Nós mesmo ouvimos essa voz vinda dos céus, quando estávamos com ele no monte santo (2 Pe 1.16-18).

Muito do que encontramos no evento forma um paralelo interessante com o livro do Êxodo. Jesus é apresentado não apenas como o Segundo Moisés, mas como aquele que o supera e, portanto, é maior do que ele. A glória do Rei e o poder do reino são revelados no Monte, e isso ocorre seis dias depois (9.2), assim como em Êxodo, Moisés aguarda seis dias para se encontrar com Deus e Sua glória no Monte Sinai (Êx 24.15-16). Jesus se transforma em um aspecto glorioso no Monte e os discípulos ficam tomados pelo pavor (9.3, 6), da mesma forma Moisés tem seu rosto resplandecente devido à presença de Deus, no Sinai e todos temem se aproximar dEle (Êx 34.29-30).

Apenas uma parte dos discípulos está com Jesus, o mesmo grupo que esteve com ele em outras ocasiões particulares (cf. 5.37; 14.33). Quando se encontram no monte, algo surpreendente ocorre, Jesus é transformado e manifesta a Sua glória diante deles, glória que até então, estava oculta no Jesus de Nazaré (Jo 17.2, 5; Fp 2.5-8). A descrição de Marcos aponta para a transformação das vestes de Jesus de um modo resplandecente e glorioso. Vestes brancas estão geralmente associadas a seres celestiais nos evangelhos (Mt 28.3; Mc 16.5; Jo 20.12; cf. At 1.11). Assim a descrição é de uma cena de majestade sobrenatural. Mateus e Lucas falam da transformação no rosto de Jesus como o resplendor do sol (Mt 17.2; Lc 9.29).

Se não bastasse toda a glória manifesta pelo próprio Jesus, dois grandes homens da história de Israel aparecem, ninguém menos que Moisés e Elias. Moisés já havia anunciado a vinda de alguém que falaria em nome de Deus como ele (Dt 18.15ss), e toda a situação lembrava a história da libertação e do Sinai. Além dele, Elias estava presente, já que fora retratado como o mensageiro que prepararia a vinda do Messias (Ml 3.1; 4.5-6). A presença desses sevos de Deus autenticava o ministério divino de Jesus e Sua grandeza. Ele é o cumprimento daquilo que a Lei (Moisés) e os profetas (Elias, entre outros) haviam anunciado. A conversa entre eles se centralizava na sua morte em Jerusalém (Lc 9.31).

Jesus, portanto, é retratado como o Rei Majestoso, o Ser Supremo que revela aos discípulos um vislumbre de Sua glória e poder. Assim como viram esta rápida manifestação de Sua Majestade, os discípulos ali presentes podiam ter certeza de Sua vinda futura como Rei. Jesus não era mais um homem comum, mas sim, o Filho do Homem, o Ser celestial que recebe de Deus toda glória e poder para reinar sobre todos (Dn 7.13-14).

Isso, de certa forma, incentivaria os leitores de Marcos que começavam a enfrentar uma forte oposição por parte da sociedade e logo culminaria na perseguição oficial por parte do Império. Acima de Nero, havia um rei que era digno da total lealdade deles, a que custo fosse, pois Sua Majestade ultrapassa de longe todo o poder de Roma.

Qual o significado da Pessoa de Jesus em Sua vida? Você o encara como Rei e Senhor, como aquele que é digno de toda a nossa devoção? O que dirige sua agenda: os interesses do reino de Cristo ou seus interesses e ambições particulares?

Jesus deve ser o Senhor supremo sobre toda a nossa vida, em seus mínimos detalhes. Ele deve guiar a maneira como vivemos em nossa intimidade, quando ninguém mais está conosco; deve até mesmo subjugar nossos pensamentos de ódio ou de lascívia (Mt 5.21-30). Nas nossas relações de trabalho ou com amigos, Ele precisa guiar as nossas atitudes e ações. O reino de Cristo só será expandido às pessoas que estão ao nosso redor, quando a nossa vida experimentar e demonstrar a Soberania dEle diante de outros (Mt 5.13-16).

Nossa responsabilidade de fazer discípulos, também, reflete o desejo de que o reino de Cristo conquiste outros súditos leais. É exatamente porque Ele reina (Mt 28.18) que somos comissionados a chamar outros a crerem em Cristo e assumirem a vida do discipulado em obediência a Ele (Mt 28.19-20). Uma igreja que não discipula, isto é, não se preocupa com Sua missão de proclamar o evangelho e edificar vidas, mostra que Cristo deixou de ser o Senhor dela.

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